Envelhecer. Numa semana em que os cinquentões METALLICA anunciam uma linha de roupa para surfistas, quando um fã dos TOOL não reconhece o Eddie Van Halen, pela idade avançada deste, ou quando os mesmos TOOL são postos em ridículos pelos fãs de Taylor Swift por serem demasiado velhos, põe-se a questão de envelhecer. E isto nem referindo a reforma dos SLAYER que, por agora, vai decorrendo entre muitos milhões. Seguindo a rota de Detroit, vista na semana anterior, que tal pegar no velho Iguana e seus comparsas, também conhecidos como THE STOOGES?
Revisitar um tema que, em 2019, completa 50 anos. Mas aqui, desta vez, não se olha bem fundo no RETROVISOR até à sua origem, recua-se apenas ligeiramente para ver como era há um par de anos, ainda com Ron Asheton e Steve Mackay vivos. Os músicos, fieis à idade, ficam quase imóveis, compondo o cenário, compenetrados nos três acordes da música, como se lá residisse o segredo do universo. No resto do palco, está o avô Iggy Pop. O “Iguana” canta como quer ser o cão de alguém, servir de fetiche sexual de uma amada que o ignora. É Iggy a fazer o papel que sempre desempenhou desde os finais dos anos 60. Esfrega-se no palco, provoca, berra, rola. É, também, muito mais que isso, pois mal termina o tema, o mesmo que a multidão certinha não se acanha de entoar, Iggy ergue-se.
Do alto do palco provoca a audiência, interpela os “burgueses” das bancadas, ameaçando mesmo ir lá “deslizar”. E com a idade tudo se torna mais provocatório. Pelas caras percebe-se que Iggy é bem mais velho que a maioria da audiência, desafia-a, faz com que cante o refrão. No fundo, são eles o cão dele. Quase no fim, uma miúda encavalitada nuns ombros, parece hipnotizada. Num qualquer dia normal, abordada por Iggy, poderia perguntar se ele não teria idade para ser pai dela. Naquela noite, com a “Iguana” em palco, a essa pergunta se calhar seria pedida a foto da mãe, à época, para o músico ver se a reconheceria de um passado concerto.
Quando hoje se vê o envelhecimento das figuras do rock, não se percebe que até nisso, muitos deles mantêm o constante desafio. Envelhecem com dignidade, orgulham-se da patine da idade e agem de uma forma desafiadora, ficando ainda mais senhores de si que na flor da juventude. Talvez seja por isso que os deuses maiores quase sempre são representados com cabelos grisalhos. Afinal, aquela miúda aos cinco minutos do vídeo devia agradecer por ter um cão como Iggy.