Faça-se um pequeno exercício sobre os anos 90, grave-se uma cassete, com músicas incontornáveis. Obviamente que estarão lá os NIRVANA, os GUNS N’ ROSES, os METALLICA, qualquer um destes nomes, daria uma tape só por si. Agora poucos desses nomes, mesmo com inúmeros hits, conseguirão chegar a essa lista com um verdadeiro hino geracional, uma malha incontornável, daquelas que obrigatoriamente terá de constar do set de um rock DJ. Sim, está altura de parar o texto, explicar que nos anos 90, gravar um CD no computador estava ainda apenas ao alcance de poucos. Carregar uma pen com ficheiros mp3 ou criar uma lista no Spotify era pura ficção. Gravar a tape, implicava esforço, tempo, dedicação, pensar para lá da cabeça de um polegar. Fazia-se a compilação para alguém especial, um amigo a que se queria apresentar um grupo ou estilo musical, alguém que se queria seduzir. Era o ego ao serviço da transmissão de algo a outros, não o ego do “vejam o que ouço”.
E quem melhor para agitar ideias e cativar a atenção de outro, que este «Killing In The Name Of», puro rollercoaster? Estamos ainda em 1992, o grupo lança o seu trabalho de estreia e chega a tripla platina, apoiado pelo single. Depois há toda uma carreira que prossegue, um segundo álbum, alguma incoerência entre discurso e gestos e a separação. Já em finais dos anos 90, o grupo volta à carga com dois discos de estúdio, mas tudo termina de seguida. “Eles usam a força, para te obrigar a fazer aquilo que os decisores decidiram que tens de fazer”, assim começa a apresentação do vídeo a cargo de Zack de la Rocha, segue-se aquele baixo pulsante e a primeira explosão de groove. Depois o ritmo alterna. Zack continua o seu discurso e conforme o tema evolui, a letra passa de uma submissão com raiva contida, para uma explosiva revolta, com o seu conhecido “Fuck you, I won’t do what you tell me!” Algures a meio, há ainda lugar para um pequeno solo de guitarra com pedal de wah wah. O mundo era assim apresentado a Tom Morello, um dos guitar heroes dos anos 90.