É complicado falar dos KISS, pois a sua imagem é tão forte, que dizer algo que saia fora dela, acaba por ter pouco impacto. É mesmo necessário voltar aos seus primórdios e perceber que há lá mais para lá da imagem. É o recurso a várias vocalizações, mesmo que Peter Criss deixe a desejar, são os solos de guitarra, é toda uma encenação em que o final com a bateria em ascensão é o verdadeiro clímax, numa altura em que cada um é uma peça que integra um cenário estudado, mas equilibrado, a anos-luz de Gene Simmons se tornar a imagem dominante ou Paul Stanley se tornar o porta-voz do grupo.
Gravado durante a digressão de «Hotter Than Hell», o vídeo que se pode ver no player em cima apanha o quarteto ainda no seu segundo álbum, lançado em 1974, tal como o primeiro trabalho. É uma das primeiras actuações do grupo em TV, menos polémica que a anterior para o The Mike Douglas Show, onde Gene é entrevistado e se afirma como o “mal encarnado”.
Musicalmente, «Black Diamond» é superior ao blues com pezinho de funk de «Firehouse», tema interpretado no programa de Mike Douglas. Além disso é nesta aparição que se percebe um pouco do que seria o espectáculo ao vivo, imortalizado, um par de anos mais tarde, no célebre «Alive».
Por outro lado, é também uma aparição bem mais genuína do que aquela que se presencia em «The Oath» para o Live On Fridays [aqui], já nos anos 80 e que revela um pouco da decadência em que o grupo mergulharia, numa carreira quase sempre descendente a partir daí.
Vale, no entanto, a lembrança que, sem os KISS, o conceito de stage set, não teria atingido a mesma dimensão que tem hoje, e, da mesma forma, a componente teatral. Com «Hotter Than Hell» a cair nas vendas e os prejuízos a acumularem-se para o grupo e editora, a ida à TV não se destinava a promover o disco, mas sim o concerto, a imagem. A mesma imagem que, anos mais tarde, estaria espalhada por toda uma linha de merchandise à época impensável, tornando o grupo um caso de estudo.
No fundo, para lá do visual, os KISS sempre tiveram muito mais para dizer.