A música cada vez passa mais pelo hype, a exposição do artista. Muitas vezes, o sucesso leva à perda de credibilidade e afasta os apreciadores. Outras vezes, o cansaço e a exaustão causadas por fórmulas gastas, leva ao declínio. Ocasionalmente, é a própria atitude do músico que incrementa o abandono. Caso claro disso, TED NUGENT, brilhante nos anos 70, hoje mais reconhecido pelas suas polémicas atitudes. Tal como Nugent, BOB SEGER é outro perfeito desconhecido nos dias de hoje. Ambos vêm da escola de Detroit no final dos anos 60, tal como ALICE COOPER, THE STOOGES ou MC5. A par de IGGY POP, BOB SEGER terá sido daqueles que seguiu um percurso mais comercial. Nascido em 1945, está neste momento numa digressão de despedida, mas pouco se ouve falar dele deste lado do Atlântico. Com um primeiro disco em 1969 e o mais recente em 2017; é, ainda hoje, reconhecido como um dos melhores compositores do rock americano dos anos 70, várias vezes platina e com o seu maior sucesso no final da década, graças a discos como «Night Moves» ou «Stranger In Town».
Já nos anos 90, BOB SEGER lançou um dos seus primeiros clássicos, que foi recuperado posteriormente pelos METALLICA. «Turn The Page» é um daqueles temas biográficos cuja letra reflecte muito da vida na estrada e que seria emulado em muitas outras letras, de cações assinadas por nomes como BON JOVI em «Wanted Dead Or Alive», e MOTLEY CRUE em «Home Sweet Home». No entanto, aquilo que o coloca neste RETROVISOR é «Live Bullet», um dos melhores álbuns ao vivo de sempre no que toca ao rock puro e duro. Gravado em 1975, em Detroit, mas editado só no ano seguinte, o disco consegue capturar toda a energia ao vivo de um nome que esteve nos primórdios da rock city. O trabalho surge após o sucesso de títulos como «Alive!» dos KISS e «Frampton Comes Alive!» de PETER FRAMPTON, numa altura em que ainda não havia material para o disco de estúdio seguinte. Até hoje, continua a ser um dos mais vendidos registos ao vivo, mesmo que actualmente o som perca impacto.
O músico admite que os concertos que deram origem ao produto final nem sempre foram os melhores, mas a versão para «Turn The Page» ficaria para a história, figurando mesmo em colectâneas posteriores, prevalecendo sempre sobre a versão de estúdio. Outros temas que brilham bastante são «Travelin’ Man» e «Beautiful Loser» ou a versão de «I’ve Been Working», original de VAN MORRISON. Mais que um disco limpo e escorreito, em jeito de colectânea, «Live Bullet» é um trabalho suado, como um bom concerto de rock deve ser, assumindo a sua perfeição por aí. Infelizmente, BOB SEGER é um daquelas artistas cujo reportório tem pouca cobertura de vídeo, e não existe versão vídeo para «Live Bullet», restando as captações dos recentes concertos. O tema, esse, ainda continua a brilhar.