Todos podem referir um qualquer nome do rock ou do metal que apenas teve um êxito e, depois, nunca mais conseguiu estar à altura dele. Mais complicado será referir um nome que teve tudo para ser bem-sucedido, compôs um álbum clássico e implodiu vítima da própria energia que transportava. Esse nome existe, e é AT THE DRIVE-IN.
O ano é 2000, viragem de século, um melting pot de estilos apostava para um século entre o modo electrónica e o rock sonolento do pós-grunge, de repente chegavam uns texanos que agitavam tudo com «Relationship Of Command», após o lançamento dois EPs promissores. Vinham com o apoio de uma grande editora, chegavam antes do digital e o download esmagarem a indústria e traziam um som que já não se ouvia desde os MC5 e o seu «Kick Out The Jams». Eram math, emo, post-hardcore; se fizessem fotos a preto e branco até seriam chamados de proto-punk, mesmo 25 anos após a explosão do género. Na realidade nunca foram nada disso, apenas eram rock com toda a sua raiva e testosterona, mas vistos num meio que não estava habituado a isso: os late night shows americanos.
David Lettermen e Conan O’Brien tiveram que apanhar com eles. Jool’s Holland também, na BBC, e pelo meio um Robbie Williams incomodado com a concorrência. Se o vídeo da BBC é complicado de encontrar, mas mais memorável, o das TVs americanas é mais fácil, difícil mesmo é perceber como o cenário ficou intacto após os quatro minutos avassaladores em palco. Um vídeo com pior som, e anterior a estes, pode ainda ser encontrado, registando uma actuação no Wayne Firehouse, em Wayne, New Jersey [aqui]. Reza a lenda que David Lettermen, desagradado depois de apanhar com a performance inusitada, para o programa [aqui], sugeriu aos músicos para não abandonarem o seu emprego regular.
Semanas após estas aparições, um acidente de carro mudava a dinâmica do grupo e, apesar da energia aqui demonstrada, alguns meses depois cancelavam concertos por haver mosh entre o público. Em Fevereiro de 2001 a banda separava-se, cinco meses após a edição do álbum e quando ainda não tinham chegado ao topo do sucesso que ele poderia vir a trazer. Cansaço, drogas, sucessivas datas de concertos, incompatibilidades e a dificuldade de lidarem com o sucesso foi a causa. Dos vários projectos em que os músicos se envolveram, apenas os THE MARS VOLTA teriam alguma notoriedade. Um primeiro regresso em 2012, seguido de outro em 2016, tentaram trazer de volta a força dos AT THE DRIVE-IN, mas a fúria nunca mais seria a deste «One-Armed Scissor».