Na sua recente biografia, «Heavy Duty – Days And Nights In Judas Priest», K.K. Downing faz alusão à gravação de «Diamonds And Rust», de «Sad Wings Of Destiny», explicando que “descobrimos que se colocássemos a marca Judas Priest numa canção, fosse ela qual fosse, em lugar de fazermos parte dela, seria ela a fazer parte de nós.” Esta é uma boa forma de definir uma boa versão, e é disso que trata o RETROVISOR desta semana — pegar num tema, reconstruir o mesmo e fazer esquecer o original; ou, pelo menos, não deixar que este lhe faça sombra.
No caso da versão aqui analisada, não só os ANGELUS APATRIDA pegam num tema de média qualidade, como lhe conseguem dar um enquadramento, o do thrash metal, que faz a canção crescer. A isto junta-se a qualidade da gravação, em particular do áudio, completamente amadora, mas capaz de replicar as emoções sentidas na sala, de uma forma que dificilmente uma filmagem profissional conseguiria o mesmo resultado. A cor e o espaço, acentuam ainda mais o carácter underground, o que só beneficia o tema e o próprio clip.
O momento celebra as últimas datas em clube da banda espanhola e assinala a passagem pela mítica sala Iguana, em Vigo, provavelmente a melhor sala galega, numa noite em que o espaço registou lotação esgotada e havia uma moldura humana que, literalmente, rodeava o grupo, não só à sua volta, como também por cima. Em tudo o resto, o tema dos IRON MAIDEN ganha aqui uma dimensão muito superior ao original, soando melhor nesta versão thrash. E é assim que se faz uma brilhante cover, mesmo que, como no caso, a sua exposição nunca venha a ser significativa.