Ao quarto dia — porque estamos a contar também o da recepção, claro — o sol desapareceu, e a salvação chegou com os espanhóis THE BROKEN HORIZON, entre temas mais death e outros hardcore. Um grupo a observar. Entretanto, no Main Stage, os franceses DAGOBA já terminavam a sua actuação, convocando, para o penúltimo tema, um massivo circle pit que se arriscava a ser o último a levantar pó, numa altura em que as nuvens ameaçavam trazer a chuva em definitivo. O death grind dos SOUND OF SILENCE, no Ritual Stage, era apenas para consumo caseiro, enquanto no Desert, Wills Drummond marcava passo. Interessante até, mas a necessitar de um ambiente mais intimista, e menos luz. Os germânicos BEYOND THE BLACK, por seu lado, são produto potencial para o mercado do metal melódico com vocalista feminina. Poses estudadas, elemento masculino na guitarra e “voz grossa”. Vocalista activa, com três combinações de roupa. Dejá vu? Claramente, mas bem feito. Sabe-se bem que, neste género, a data de validade do consumível é curta. Brevemente numa digressão perto de si, mas com bom produto dentro do campo.
No Ritual, seguiam-se os nacionais GAEREA. Apesar dos muitos portugueses que frequentam o Resu, não se fizeram sentir presentes no concerto destes conterrâneos. De resto, apresentou-se a já esperada formação temporária de quatro elementos, para assegurar os muitos festivais de Verão em que foram solicitados. Embora, ao contrário do que aconteceu no VOA – Heavy Rock Festival, o backdrop ainda evocasse «Limbo», já houve espaço para se escutar o novo single, «Salve». Hora ingrata para actuação de um grupo tão visual, mas dentro do género, já se viram nomes mais sonantes com desempenho abaixo deles. Ao mesmo tempo, os THE PICTUREBOOKS traziam o seu stoner rock em formato de duo para o Desert Stage. Philipp Mirtschink deixou a ideia de que continua a ser a máquina por trás do grupo, mas claramente perderam o impacto no que toca à inovação do passado.
Nesse sentido, a surpresa do dia estava no Main Stage: os japoneses CROSSFAITH. Ao vivo, resultam num cruzamento entre Linkin Park, Atari Teenage Riot, Slipknot e Mötley Crüe. Estranho, certamente, mas foram claramente a banda que puxou a média de idades mais baixa. Também a única a criar múltiplos circle pits. Para os mais cépticos, importa referir ainda que tiveram uma das maiores audiências do evento e das mais entusiasmadas. Um concerto completamente louco, com múltiplos stage divings por parte ddos vários membros da banda, com um Terufumi Tamano particularmente louco, a beber Jagermeister da garrafa e todo tipo de show off, mergulhando no público contra o expectável. Prova da loucura criada, foi observar uma segurança em pânico, incapaz de acorrer a todos os múltiplos crowd surfers e, praticamente inédito neste festival, a deixar elementos do público desacompanhados, dentro do moshpit. Banda para tentar assistir livre de qualquer tipo de preconceitos musicais. Uma das actuações do festival onde mais se sentiu a renovação geracional.
Os BLOODBATH, inexplicavelmente, não tiveram o impacto desejável, tocando para pouco público para o festival e dimensão dos integrantes do grupo. Longe da actuação massiva de há anos atrás, em Vagos, o grupo mostrou-se mais descontraído, quase parecendo stoners, desfilando um conjunto de t-shirts old school. O (Old) Nick Holmes assumiu estarem cansados face às viagens, e talvez por isso o seu death metal tenho soado mais arrastado que tonitruante. É verdade que tiveram um bom desempenho, mas que merecia melhor som. Na realidade, já acontecera o mesmo com GAEREA e SOUND OF SILENCE: o som do Ritual Stage, na parte das tarde, nunca foi dos melhores. Os MASTODON bem que podiam ter sido a banda cabeça-de-cartaz. Talvez pelas mudanças do alinhamento ao longo destes três anos, tenham acabado ultrapassados na posição. Não mereciam. O quinteto é hoje um grupo assumidamente de prog psicadélico. Massivo, imponente. Se calhar até um dos concertos mais importantes do festival, mas a múltipla oferta fez entretanto desviar a atenção para o Chaos Stage. Lá dentro, tocavam os MOSCOW DEATH BRIGADE. Dois vocalistas/rappers, um DJ. Assalto sonoro perante uma tenda superlotada. Massivos crowd surfings. Cruzamento entre a atitude panfletária punk e rap, com momentos de grind e hardcore. O caos entre o público. Uma daquelas actuações que fica na retina, para mais tarde recordar, afastada do convencionalismo que rolava no palco principal.
Seguiu-se, no Desert Stage, o post-rock instrumental dos TOUNDRA, uma das maiores bandas de Espanha neste momento e que integra o restrito lote de nuestros hermanos que realmente interessa ver. A par dos MASTER BOOT RECORD, no Ritual, prepararam o caminho para os GOJIRA. Os irmãos Duplantier sabem bem o que fazem. Verdade seja dita que também arriscam pouco, guardando a inovação para a pirotecnia e outros efeitos. Bonito quando ao quinto tema, Joe diz algo como, “agora já sabem o que se segue”. Estava assim apresentado «Flying Whales». Na montanha florestada que se ergue por trás do recinto, projectavam-se várias linhas verdes, simbolizando ondas. E aí ficou provado que os franceses estão em casa quando se trata do Resu. Neste caso, estavam numa missão especial, a de substituir um dos cabeças-de-cartaz anunciados há três anos. Já o dia de Sábado tinha terminado, bem dentro da madrugada de Domingo, e a bomba era libertada: os KORN tinham cancelado. Depois de uma mudança de horário que baralhara todo o último dia, Jonathan Davis e sus muchachos falhavam o concerto por alegada avaria mecânica do avião que os ia transportar. Para muitos, o festival terminava nesse preciso momento.
Fotos: Emanuel Ferreira