Sabaton

RESURRECTION FEST @ Viveiro, Espanha | Dia 2 – 01.07.22 [reportagem]

Naquele que foi, até ao momento, o dia mais quente do evento, o hardcore e similares serviram para os primeiros mergulhos a sério. Se os barcelonenses KIDS OF RAGE agitaram as águas, foi com os CALIBAN que o crowd surfing se incendiou. A isso muito ajudou uma wall of death logo ao segundo tema. A festa chegava assim ao Main Stage com um set animado, em que não faltou uma versão de «Sonne», dos RAMMSTEIN. Pouco antes, no Ritual Stage, tinham tocado os THE RAVEN AGE, com um metal entre o clássico e o moderno, onde o ADN dos IRON MAIDEN se sentiu um pouco para lá do lado biológico. Claramente sendo também o dia com mais assistência até ao momento, foram imensos os que se aproximaram da frente do palco para ver os JINJER. Ficava-se mesmo com a sensação do recinto estar repleto, face à pressão na zona da frente. O logotipo da banda, em backdrop, com as cores ucranianas, falava por si. E o que veio foi o furacão em palco que é Tatiana Shmailyuk. Os restantes três elementos, entregaram-se à complexidade da música e a vocalista foi a mestre de cerimónias, conseguindo mesmo falar de toda a complexidade da situação sem ser exaustiva. Agradeceu o apoio que o seu povo tem recebido e conseguiu, mesmo assim, fazer uma entrega à sua música. Daqui a uns anos saberemos, certamente, o que se passará neste momento na cabeça destes músicos que percorrem a estrada sem saber o que pode acontecer aos seus e ao seu país.

Como acontece depois de nomes maiores actuarem no Main Stage, iniciaram-se duas actuações noutros tantos palcos. Como os ILL NIÑO, que estavam no Ritual Stage, tiveram a sua época e apenas residem no passado, foi altura de finalmente experimentar a cerimónia de EL ALTAR DEL HOLOCAUSTO. As expectativas confirmaram-se. Este grupo peculiar é uma das melhores ofertas espanholas do momento. Post rock melódico, aliado a um visual e postura que cativam. A sua ascensão foi atrasada pela pandemia, mas a sua originalidade facilmente os levará a um reconhecimento europeu. Em breve regressarão a Portugal, e certamente farão as delícias dos fotógrafos. Integralmente instrumentais, apenas com uma voz off gravada a fazer as despedidas e agradecimento a todos que participaram na cerimónia, mostram como se pode recorrer a um estilo e comunicar bem, sem precisar de falar. Os norte-americanos RISE AGAINST provocaram, provavelmente, a maior enchente do festival, nestes primeiros três dias. Percebeu-se a juventude dos seus fãs e como conheciam as músicas, mas a actuação acabou morna. Com um espectáculo visual interessante, a banda de Chicago é essencialmente Zach Blair, e este deve ter passado bastante mal durante os últimos dois anos, pois quase sempre que se dirigia ao público falava da pandemia, de como foi complicado e dedicou mesmo «Survive», de forma algo exagerada, aos “sobreviventes da pandemia”. Pelo meio, falou de revolução, criticou a homofobia, nacionalismos, sexismo e racismo. Curiosamente, só muito à frente no concerto, se lembrou de ter partilhado o cartaz com os JINJER e referiu brevemente a guerra. Em tudo o resto, apenas os temas, por vezes com veia mais punk, outras com a melodia adocicada. Satisfizeram certamente os fãs, mas foi tudo demasiado sintético e inorgânico para convencer na atitude.

Entre os HANGMAN’S CHAIR e os CELESTE a escolha era difícil e não fez muito sentido colocar ambas as bandas no mesmo horário. Na opção pelos últimos, ficou a sensação de um dos concertos mais intensos do festival, mesmo que este ainda vá a meio. Negros, esmagadores, protagonizaram um mergulho num nevoeiro na noite profunda. Os franceses inscrevem-se na nova vaga de black metal francês, misturando o estilo com sludge, ou como alguns hoje dirão, fazendo blackgaze. Curiosamente, eram milhares a assistir, sem arredarem pé. Para ver os SABATON o público era menos que em Rise Against, mas foi, literalmente, uma das actuações mais bombásticas a que o Resu pôde assistir. O grupo sueco pode não ter os temas mais elaborados e complexos no seu campo, porém nesta digressão conseguem ser operáticos e wagnerianos na forma como interpretam os seus temas e encenam cada música como se de um vídeo clip se tratasse. Será um concerto que muitos guardarão na memória durante anos. Repleto de fogo de artifício e efeitos pirotécnicos, todo ele bem encenado. Até quando Pär Sundström se dirige mais informalmente ao público, reflecte sobre o que sentiu na pandemia, não escondendo ter estado à beira da depressão, a banda cria aí um momento de humor. Ao fundo, Joakin e Rörland divertem-se a abrir uma garrafa de vinho que degustam durante a conversa de Pär. São artistas, estão lá para entreter e também se divertirem, mesmo que o assunto seja a guerra, e esta esteja na Europa. Não o deixaram de referir, brevemente, mas com mais sentimento que o discurso plastificado dos Rise Against. E foi exactamente aí que residiu toda a diferença. A noite prosseguiu com os DECAPITATED, mas o adiantar da hora já deixava o recinto vazio, fazendo com que os polacos tivessem menos assistência que o merecido. Também os LIONHEART se esforçavam por animar os indefectíveis que tinham resistido, mas o dia tinha sido longo e poucos ficaram para os ver.