Deftones

RESURRECTION FEST @ Viveiro, Espanha | Dia 0 – 29.06.22 [reportagem]

Um dos maiores festivais ibéricos regressou com toda a força, arrancando logo com uma noite de recepção que mais parecia um dia “a sério”. Eram quatro os palcos e, nesta noite, apenas estava previsto funcionar um, mas depois dos espanhóis BOLU2 DEATH e ONZA abrirem hostilidades no Main Stage, foi a vez dos portugueses SERRABULHO fazerem o mesmo no Ritual Stage. Inicialmente previstos para o palco principal, viram-se mudados à última hora, podendo dizer que, por um dia, este palco foi mesmo só deles. Foi, de resto, bastante curioso entrar no recinto e escutar Quim Barreiros a ecoar para milhares de pessoas que já aguardavam pela banda transmontana. Vestidos a rigor para a festa, apoiados por mais três elementos que traziam ainda mais teatralidade e humor à actuação, os músicos nacionais protagonizaram a proverbial “festança”. Um dos maiores responsáveis por isso foi o vocalista Toká, que fez várias incursões no (e sobre o) público, aumentando ainda mais os nível de animação entre as hostes. Houve espaço para gaiteiro em palco, foto com os Resu Kids que cantaram com eles e, no final, uma repetição do “comboio” que, em 2019, os transformou um dos grupos surpresa do evento.

Do lado dos BLEED FROM WITHIN, tudo resultou muito bem. A fórmula de deathcore dos músicos escoceses pode até estar esgotada, mas a energia empregue por todos, em particular pelo vocalista Scott Kennedy, agarra bem o público. Arrancando com «I Am Damnation», o quinteto conseguiu erguer um alinhamento com quase uma dezena de temas, que provocou reacção do princípio ao fim. Quando no final, Kennedy diz que “este é um dos melhores concertos que demos até hoje, temos mais duas músicas para o tornar ainda melhor,” já sabia que tinha o público na mão. Quando termina «The End Of All We Know» já estava ele, literalmente, nas mãos do público. Ou melhor, erguido sobre ele, depois de um crowdsurf. O Haka do baterista dos ALIEN WEAPONRY, e depois também do baixista, foi capaz de erguer o interesse sobre a banda neo-zelandesa, mas um par de músicas bastou para perceber que o quarteto liderado pelos irmãos Henry e Lewis de Jong acaba por ser soar monótono. Notou-se, sobretudo, pouca novidade e variedade ao longo da actuação. A dança inicial apenas serviu, afinal, para trazer as primeiras gotas de chuva. Uma chuva que gelou o público e arrefeceu ânimos.

Pode dizer-se que, para ver os BULLET FOR MY VALENTINE, as expectativa estavam mais altas. Se o seu som já não é novidade, a energia ainda lá está. Pena que tudo fique só pela dinâmica, luzes e canções. O grupo não consegue trazer a mais valia que se espera face à sua dimensão; faltou um cenário, ou enquadramento que estivesse à altura do status que ostentam. São já mais de duas décadas de actividade, mas ainda é cedo para a reforma que parecem pedir a todo o custo. As malhas estão presentes, mas falta~lhes a raiva e energia de uma banda jovem. Durante a pandemia, houve várias promessas dos DEFTONES ao público nortenho — e, afinal, os músicos vieram mesmo, só que um pouco mais acima do Douro que o prometido inicialmente. Desde o primeiro acorde se percebeu que lhes faltava algo. Empatia, sobretudo. Fosse pelo público literalmente gelado, numa noite com chuva e temperatura baixa, fosse por não estarem em sintonia com Chino Moreno, fosse por este também não se ter esforçado muito além do necessário, mas desde «Genesis» que se sentiu faltar algo ali. Apesar disso, o concerto foi bom, hipnótico até. Hoje em dia, mais que antes, os DEFTONES “são” o Chino Moreno. A mistura de temas novos e clássicos resultou bem. «Head Up» foi das melhores da noite, mas sempre com o vocalista a brilhar acima do resto, como se hoje apenas ele que movesse o grupo. No final, fica uma sensação algo estranha, mas no fundo compreensível. Um bom concerto a que apenas faltou mais calor e interacção.

FOTOS: Emanuel Ferreira