Para quem apenas conhece as dimensões dos festivais nacionais, será difícil imaginar a magnitude de um festival como o RESURRECTION. Certamente perderá quando comparado com o Hellfest ou o Wacken, mas é o maior nas proximidades de Portugal. A oferta deste ano dividia-se por quatro palcos; sendo que, no primeiro dia, eram trinta os artistas que por eles se dividiam. Tarefa impossível observar ou registar a passagem de todos, por isso impôs-se uma selecção que terá sempre algo discutível. Para a LOUD!, a tarde começou no palco principal, com os CANE HILL — e, antes, já oito nomes tinham desfilado pelos vários palcos. Tocando à luz do dia, o quarteto norte-americano não se revelou muito interessante, estando dentro da média que se encontra no cartaz de um evento destes. Apesar de tudo, encerraram bem, com «Too Far Gone», um tema que, nas palavras de Elijah Witt, foi composto numa fase em que o grupo operava com LSD. A voz distorcida e os arranjos, tornaram a canção mais interessante que o resto do alinhamento.
Começava o tempo a ameaçar chuva quando, no Ritual Stage, actuavam os KAUSE 4 KONFLIKT, quinteto francês mediano, que trouxe uma mistura de death e metalcore, que só serviu para encher cartaz. Os japoneses CRYSTAL LAKE foram o primeiro grupo a actuar debaixo de chuva, algo que podia ter limitado a sua actuação no palco principal, mas que teve o efeito contrário, resultando numa das melhores prestações do dia, com foco particular para o excelente baterista Gaku Taura e para o vocalista Ryo Kinoshita que quase surfou a multidão que vibrava com o grupo. Sendo uma repetição no cartaz, foram muitos os que comentaram a evolução deste colectivo de metalcore que, no final, pediu para todos os circle pits se juntarem num só. A chuva, por vezes intensa, limitou a circulação no recinto e a experiência do dia ficava dividida pelo palco principal e o Ritual… Foi neste último que os ALTARAGE assinaram uma actuação pouco inspirada, perdendo muita da sua mística ao actuarem de dia e, ainda por cima, com problemas de som em palco.
Os GOJIRA têm uma relação especial com o público do Resurrection, sendo mesmo dos nomes mais apreciados por estas paragens. O concerto dos irmãos Duplantier foi tão irrepreensível quanto previsível, pois o alinhamento não foi muito diferente do da edição de 2016, mas a entrega foi total, desfilando temas como «Backbone», «Flying Whales», para o qual alguém tinha levado um insuflável a propósito, ou uma «L’Enfant Sauvage», concluindo-se o concerto com uma versão longa de «Blow Me Away You(niverse)» que terminou com um momento inusitado. Durante esse, como em outros concertos, uma prancha de surf surgia na multidão, Jean-Michel Labadie entusiasmado com a recepção, começou por ficar na barreira a agradecer ao público, tendo depois subido para a referida prancha e ensaiado algum surf sobre a multidão. Entretanto, no Chaos Stage, os SIBERIAN MEAT GRINDER deram um concerto bem interessante, pelo menos o suficiente para deixar o sexteto siberiano no radar. Os espanhóis TOUNDRA, por seu lado, arrancaram o seu rock instrumental no Ritual Stage, mostrando muito mais energia ao vivo que em disco. Senhores de um som que tem tanto de progressivo como de post-rock, deram o melhor concerto neste palco deste dia. Estarão em Portugal brevemente, no Sonic Blast Moledo, e é de estranhar não serem mais populares por cá.
Por esta altura a chuva já era regular, baixando claramente as audiências, com muitos a recolherem às tendas, mas o que aconteceu a seguir foi ainda pior, uma forte trovoada abateu-se sobre o festival, levando a que os SLAYER atrasassem uma hora a subida ao palco, sendo mesmo necessário tomar medidas de prevenção, afastando as pessoas das zonas metálicas. Com toda a gente em segurança, deu-se então início ao último concerto da banda norte-americanaem Espanha, num alinhamento encurtado e tocado debaixo de chuva, com os relâmpagos ao longe a proporcionarem um efeito especial. Os clássicos estiveram lá, o concerto não foi dos melhores que já vimos do grupo, mas presenciar uma «Raining Blood» debaixo de chuva não é para todos os dias, e arrisca-se a ser mesmo irrepetível.
Apesar dos concertos dos SLAYER e GOJIRA, a surpresa do dia foram os australianos PARKWAY DRIVE, que trouxeram um concerto simplesmente irrepreensível e com uma teatralidade não vulgar no Resu, quando a chuva já tinha desaparecido. Desde logo com os músicos a entrarem pelo meio do público, com seguranças encapuzados, de archotes, quer por toda a cénica desenvolvida, quer pelo show de luzes ou pormenores como «Writings On The Wall», tema da banda-sonora de “Assassin’s Creed”, ter direito a um quarteto de cordas em palco. «Crushed», com direito a queda de Winston, e «Bottom Feeder», terminaram a actuação, com o palco todo em chamas. Depois, nada melhor que um palco com Ritual no nome para receber a versão dissidente dos BATUSHKA. A cenografia emula a anterior, mas musicalmente a qualidade baixou, estando tudo mais centrado na encenação. Como, por esta altura, o BRANT BJORK estava a tocar no Desert Stage, a opção por este último acabou a valer. Apesar de tardia, Brant ainda explicou que “queria tocar às quatro da manhã, pois no deserto ninguém dorme”. O primeiro dia oficial do RESURRECTION chegava, assim, ao fim.