POSSUÍDO PELO CÃO
«Possessed In The Circle Pit»
[RAW Records, 2008]
Ok, esta banda já não existe, pelo que teoricamente não deveria estar nesta rubrica. Mas como a) é uma das melhores bandas de crossover deste lado do ano 2000, se não a melhor; b) enquanto há vida há esperança e espero que um dia regressem; c) juntaram-se muito recentemente para um concerto (não pude ir ao Brasil nesse dia mas vi-o de uma ponta à outra e vocês também o podem fazer aqui, resolvi dar a mim próprio o prazer de os incluir. «Possessed In The Circle Pit» é um magnífico álbum de crossover legítimo e old school… que distância, que abismo entre isto e o metalcore pós-Pantera e pós-Soulfly do novo milénio. O álbum inclui os temas da demo «Semen Churches», cuja capa é uma cópia da de «Seven Churches» dos Possessed, e que se inicia com o tema-título cujos primeiros acordes são um riff retirado da faixa de abertura desse álbum, «The Exorcist». Mas o som dos Possuído Pelo Cão não tem tanto a ver com o black thrash metal dos Possessed, a não ser no facto de ser profundamente metálico. É sim um álbum de crossover absolutamente brilhante! Com temas curtos, por vezes intercalados com intros mais ou menos hilariantes, e letras sobre problemas sociais e contra a opressão religiosa e política, em descendência directa de D.R.I.. Todas as músicas são muito boas e o álbum é um headbanger do princípio ao fim! Que não permaneçam no túmulo é o que desejo… entretanto, para quem não conhece, ouçam-no!
VENIN
«La Morsure Du Temps»
[Grumpy Mood Records, 2018]
Os Venin, banda francesa que lançou uma demo e um EP em meados dos anos 80 e depois desapareceu, regressam agora com o álbum de estreia. E a realidade é que valeu a pena a espera. «La Morsure Du Temps» é um excelente álbum de hard rock / heavy metal, sem dúvida melhor que o EP de há décadas, apesar de estas coisas se terem sempre de contextualizar. Entra na galeria dos grandes lançamentos do metal francês, muito bem tocado, com músicas muito bem compostas, com solos primorosos e uma produção poderosa, em que todos os instrumentos são bem distintos e pesados. Neste caso a mordida do tempo injectou uma peçonha fortalecida. Se há temas muito acessíveis e hard rock, não falta também peso a este álbum de heavy metal melódico cantado em francês. A voz de Jean-Marc Battini continua forte 33 anos depois, e mantem-se também presente a baixista Fabienne Perrio. «La Morsure Du Temps» é um novo patamar para uma banda do passado profundo, e não é, como facilmente poderia ser, um passo em falso, mas antes sólido e bem sucedido.
CHAINSAW
«Smell The Saw»
[World Chaos Production, 2004]
E dos holandeses Chainsaw veio parar-me ao leitor de CDs o álbum de estreia, «Smell The Saw»… álbum que teve uma reedição em 2014 em formato de pen de computador em forma de porco, com material bónus (um ensaio de 2013). O que tenho aqui, porém, é o CD original, e vale bem a pena… gostei imenso do fantástico concerto que deram em Barcarena em 2017 (em que até uma cover de Thor tocaram), e é um prazer ouvir os temas de uma banda destas. Desde o hard rock ao speed metal, com títulos como «She Just Wants To Get Laid» ou «Route 666», os Chainsaw têm uma abordagem humorística que faz lembrar bandas como Gehennah, mas numa versão mais melódica e ainda mais rocker, com destaque para a soberba prestação vocal de Aike Turner, a evocar os tempos áureos do heavy metal teutónico. Aliás, a influência de Spinal Tap é mais do que óbvia… o contexto estético da capa não é mais do que uma homenagem ao álbum fictício «Smell The Glove», familiar a todos os que tenham assistido ao mais famoso rockumentary / mockumentary de sempre (idealmente qualquer leitor desta rubrica). Na capa não falta sequer uma t-shirt de Spinal Tap para quem observar bem. O booklet está cheio de imagens alusivas aos temas (incluindo volumosos seios, como fica sempre bem em álbuns de bandas destas… que digo eu? Seja onde for!) e letras surpreendentes, com bonitas histórias. «Burned Alive» conta a história de um turista que pagou para ir de férias para uma terra com praias e sol e morre queimado por querer aproveitar ao máximo. Mas a banda não vale só pelo gozo… é uma cambada de metálicos como há poucos, e por tudo isso merecedores de todo o apoio que uma rubrica como estas possa dar. E ainda por cima «Smell The Saw» é um álbum muito bom!