REFORÇOS METÁLICOS: Vol. 12

GT
«How Dare You»
[Despotz Records, 2019]

Lembro-me perfeitamente de quando tinha dezasseis anos. Foi em 1989. Lembro-me daquelas férias de verão no Algarve com a minha mãe como se fosse ontem (até ainda tenho umas fotos minhas no hotel com uma t-shirt de Kreator e tal). Agora olho para as redes sociais e leio o que estão a escrever gajos da minha geração sobre a Greta Thunberg e até me divirto bastante… constato que somos agora nós os velhos. O que vale é que, com certeza, os miúdos de agora já não nos ligam nenhuma. Concordo que a Greta Thunberg é um dos eventos mais Metal das últimas décadas (mais do que uma pessoa, é agora um evento, até mesmo um desses que devem ser escritos com maiúscula, um Evento, à escala mundial). E ver uma miúda destas, com dezasseis anos, a manter-se colossal perante uma tal reacção contrária por parte dos grandes, que até perdem as estribeiras (o que é muito revelador), e que lançam gigantescas campanhas de desinformação depois papagueadas pelos loquazes opinadores do Facebook, é algo que tenho forçosamente de notar e sublinhar. Enfim, houve um músico que pegou na gravação do discurso dela nas Nações Unidas e fez um tema de Death Metal. E agora, no Bandcamp, este tema pode ser adquirido como single digital, com todos os lucros a ir direitos para o Greenpeace. Não dá para não incluir aqui. A Greta não é uma esperança para o metal, mas é uma esperança para o mundo.

ALCOHOLOCAUST
«Necro Apocalipse Bestial»
[Helldprod Records, 2019]

Já não é a primeira vez que o escrevo e não será a última… é um prazer constatar que estão a sair lançamentos de bandas portuguesas que não resisto a trazer a esta virtual página. Catorze anos depois de se formarem, os Alcoholocaust largam sobre o planeta o seu álbum de estreia. Continuam a fazer um black thrash com toque punk, mas estão a tocar muito bem… espero não ser alvo de retaliações por parte da banda, mas ouvindo isto, chego a desconfiar que gravaram estes temas quase sóbrios (o choque, o horror)! Recuperando algum material das demos anteriores («Anti-Gótico», «Patrulha do Thrash») mas concentrando-se sobretudo em composições inéditas, «Necro Apocalipse Bestial» é do princípio ao fim um álbum coeso de thrash à antiga… Há momentos de um certo rock metálico negro (como em «Anti-Sóbrio») e vale a pena ouvir as letras, cantadas em português, que não estão impressas. É preciso mesmo ouvir. A boa produção sonora e a capacidade técnica evidenciada não faz com que a banda perca a força do seu estilo próprio. Mais um álbum notável a surgir na cena metálica de Portugal.

TYRANN
«Tyrann»
[Electric Assault Records, 2019]

Este 7″ (também lançado em cassete) é um tributo à cena heavy metal da Suécia do princípio dos anos 80. É cantado em sueco e o esforço para imitar o som e as composições daquela época é evidente. Lembra muito os Terminal, que faziam o mesmo com o som das bandas do antigo bloco de leste. E não admira! Uma vez que tanto Terminal como Tyrann são projectos de Tobias Lindqvist, baixista dos Enforcer, aqui também vocalista e acompanhado de músicos de currículo. É com toda a certeza um tributo bastante sincero, o que permite ao colectivo criar com este vinil uma verdadeira máquina do tempo. Os dois temas juntos não chegam aos seis minutos, mas valem muitíssimo a pena para os amantes do metal e hard rock old school. Espero que os Tyrann não se fiquem só por este lançamento… e já agora os Terminal deviam ter lançado mais música antes de acabar.