23 de Abril de 1976. Os RAMONES lançam o seu álbum de estreia, a música muda para sempre.
Por esta altura podemos datar a era do “álbum rock” mais ou menos ao lançamento do «Rubber Soul», dos THE BEATLES, em Dezembro de 1965. A partir daí, os artistas de rock/pop começaram a lançar álbuns com o objectivo de serem maiores que a soma de suas partes — verdadeiros LPs, que passaram a ser mais que meras colecções de temas para preencher os espaços entre lançamentos de singles. É claro que, nessa altura, no universo do jazz, da música clássica e até da folk, a experiência do álbum como um todo já era explorada há décadas e, apesar de ter alterado a forma como muita gente via a música, acabou por ser uma descoberta relativamente tardia no mundo do rock.
Com os discos a serem agora vistos como uma experiência total, que devia ser absorvida no início ao fim, a fasquia elevou-se e o registo de longa-duração de estreia dos RAMONES é um exemplo perfeito do que se devia exigir sempre de um álbum — o equilíbrio perfeito entre inovação feroz mas de fácil digestão, intenções claras e nem um tema pudesse ser considerado filler ou quebrasse a qualidade do todo.
Formado em 1974, o grupo emergiu como um dos nomes principais do agora icónico movimento que rodeava o CBGB e foi, de resto, no mítico clube nova-iorquino que Lisa Robins, da revista Hit Parader, os viu pela primeira vez, colocando-os de imediato em contacto com o seu futuro manager Danny Fields. A banda acabaria por assinar com a Sire Records em 1975.
Em Janeiro do ano seguinte, o quarteto formado por Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy, todos de apelido Ramone, subiu ao oitavo andar do Radio City Music Hall para gravar o seu primeiro disco no estúdio Plaza Sound. Apesar de alguns percalços, como a aversão do A&R Seymour Stein a canções que envolviam nazis, cheirar cola e bater em crianças, o espírito desregrado da banda, a sua ética de trabalho muito forte e a recusa de Johnny Ramone em fazer mais do que alguns takes para captar cada canção, permitiram-lhes gravar o disco em apenas sete dias pela módica quantia de $6.400. No entanto, o melhor disto tudo é que os RAMONES não soavam como mais ninguém.
Quando o disco, auto-intitulado, foi lançado a 23 de Abril de 1976, a música punk ainda não era aquilo em que se tornaria um ano depois, e os predecessores do grupo — os MC5, os The Stooges — eram raros. No entanto, a ligação dos músicos ao passado ia mais atrás e era um pouco mais profunda: as bandas femininas, a música de praia, os filmes de monstros e o rock’n’roll dos anos 60. Hoje, «Ramones» continua a soar a uma destilação de todas essas coisas durante os 29 minutos que dura, com o quarteto a colocar as suas influências no proverbial liquidificador e a elevar o volume e a velocidade a níveis inimagináveis para a altura.
Assumidamente um pouco limitados na capacidade de tocar os seus instrumentos, os músicos trabalharam os mesmos dois ou três acordes nas 14 músicas do LP — muitas dos quais começavam com o grito rouco do baixista Dee Dee contando “1, 2, 3, 4!“ — e reduzindo a música aos elementos básicos guitarra, bateria, baixo e voz, os RAMONES criaram uma obra-prima que soava — e hoje em dia continua a soar! — pouco como os outros grandes discos álbuns de rock da época. Indo mais longe: rápido e simples ao ponto de inspirar toda uma geração a pegar em instrumentos, o álbum de estreia dos RAMONES transformou-se na antítese perfeita para o rock de arena inchado tão popular naqueles anos.
É discutível se foram, ou não, eles escrever a primeira canção punk de todos os tempos, mas é inegável que, há 45 anos atrás, a música rock mudou para todo o sempre. Infelizmente, como é o caso em muitos outros casos de genialidade e apesar da mudança sísmica e do longo alcance de influência que o álbum inspirou, «Ramones» foi um relativo fracasso comercial. O disco chegou apenas ao #111 tabela de vendas nos Estados Unidos (o maior sucesso registou-se na Suécia, onde alcançou o #48) e só foi certificado como ouro em 2014; quase quarenta anos após a sua edição, quando todos os membros originais da banda já tinham morrido.
“Hey, ho, let’s go!”