Quando, no final da década de 70, o heavy metal começou a ter uma expressão, o jornal britânico Sounds criou um suplemento. Esse mesmo suplemento tornar-se-ia uma revista, chamada Kerrang!. Entre a equipa original estava Malcolm Dome. Mais tarde, o jornalista integraria as equipas da Raw Magazine, que ajudou a fundar, Metal Hammer, Metal Forces e Classic Rock. Reza a lenda, que numa review a um disco dos ANTHRAX foi ele que criou o rótulo “thrash”. Na altura falava de «Metal Thrashing Mad», estávamos no ano de 1984. Apesar disso, foi o apoio a muitos dos novos nomes da NWOBHM que lhe granjeou o reconhecimento. Os IRON MAIDEN, por exemplo, referiram nas redes sociais que o “respeitavam imensamente”. Os SAXON referiram-se a ele como como alguém que sempre “apoiou a banda”. Outros nomes, como MAGNUM, GIRLSCHOOL ou VENOM, referiram a sua importância para o reconhecimento das suas bandas. Doro Pesch elogiou-o como um dos seus jornalistas preferidos, enquanto os EUROPE o recordam como alguém que tinha sempre uma boa palavra a dizer sobre o grupo. No caso dos ARCH ENEMY, foram os sujeitos da última entrevista de Malcolm, em 2017, não deixando de referir que era alguém que “realmente sabia o que dizia”.
Como jornalista, Malcolm Dome participou em diversos livros e foi autor de outros. O mais simbólico, e um dos primeiros, terá sido «Encyclopedia Metallica», em 1981. Entre os quase quarenta títulos em que participou, contam-se obras sobre os LED ZEPPELIN, VAN HALEN, AC/DC, BON JOVI, METALLICA e, obviamente, um livro dedicado apenas ao thrash. Foram mais de 40 anos de uma carreira iniciada em 1979 no Record Mirror, com uma entrevista a Dave Brock, dos HAWKWIND. A abertura de espírito tanto lhe permitia ir fundo nos textos que escrevia sobre thrash metal, como referir bandas de hard rock como os BON JOVI. Essa versatilidade e forma como abraçava tudo que era novo no metal, levou a que fosse um dos primeiros a descobrir os JANE’S ADDICTION e a escrever sobre eles na Raw. A equipa da Kerrang! lembra a camaradagem promovida por Malcolm, com a sua máxima “first-in, first-to-the-bar”, os almoços “líquidos” de três horas e as noitadas de quinta-feira, para fechar a edição semanal da revista, vendida ao Sábado. Nesse campo, Malcolm certamente inspirou muitas redacções de revistas pelo mundo fora, incluindo um certo título em Portugal.
O seu talento, reconhecido por muitos músicos, levou a que fosse regular publicar pequenos textos, as habituais “liner notes”, em reedições de discos, sendo uma das mais recentes a que acompanhou, no início do ano, a boxset dos KREATOR. Foram mais de meia centena das bandas que recorreram aos seus serviços, incluindo também os BLACK SABBATH, DIO, VENOM, YNGWIE MALMSTEEN, MOTORHEAD, SAXON e DEEP PURPLE, entre muitas outras. Actualmente, além de participar na rádio associada ao grupo Total Rock, também escrevia para a revista Rock Candy, dedicada aos sons mais clássicos dos anos 80 e 90. Algumas das suas entrevistas estão disponíveis no youtube. Malcolm Dome faleceu a 1 de Novembro, aos 66 anos.