Precioso heavy metal. Precioso não só pela sua qualidade intrínseca, mas sobretudo por ser o patinho feio das sonoridades pesadas – sobretudo no nosso país – o que não deixa de ser irónico. E precioso também por nos proporcionar noites de alto nível musical como aquela que vivemos no RCA Club, no passado dia 26 de Maio. PRAYING MANTIS, mítica banda inglesa eternamente associada à NWOBHM mas que na realidade sempre se manteve aparte da mesma, uma vez que já existia anos antes da explosão do heavy metal britânico e sempre teve uma sonoridade mais voltada para o hard rock, foi quem deu a honra a Portugal de começar a digressão ibérica na nossa capital. Com eles vieram os espanhóis OXIDO ficando a cargo dos nossos RAGE AND FIRE darem início ao que viria a ser uma grande noite do som sagrado.
A festa começou então com os nossos bravos guerreiros lusos RAGE AND FIRE que deram o seu segundo concerto após a estreia no Metal Massacre Fest. O alinhamento também não diferiu muito, compreensivelmente, sendo que se pôde ouvir pela primeira vez ao vivo o tema «Black Wind», retirado do único lançamento disponível, a «Demo 1986+35». Único até ao momento mas na expectativa de podermos ouvir em breve temas como «Shape Shifter» e «The Last Wolf» no conforto dos nossos lares. Heavy metal clássico, com virtuosismo e sobriedade, entregue por uma máquina cada vez mais oleada e que foi muito bem recebido pelo público presente.
Os OXIDO estrearam-se no nosso país e surpreenderam pela positiva. O seu heavy metal cantado em espanhol – algo perfeitamente natural para os fãs do país vizinho mas que para nós não deixa de ser exótico – tem garra e tem dinâmica e definitivamente conquistou muitos dos fãs presentes. O alinhamento espalhou-se entre os dois últimos álbuns de originais, «Soñaras» e «Soy La Tormenta» e um divertido Iñigo de Miguel não só tem uma grande voz como também conseguiu cativar e divertir o público, enquanto a restante banda esteve perfeita na sua performance. Para a memória ficam as rendições de «Soy La Tormenta» e «Eléctricos» (grande riff este) e até a balada «Me Falta Viento» resultou muito bem.
O momento tão aguardado chegou quase sem que o público se apercebesse. Teve de ser o baterista Hans in ‘t Zandt a assobiar para indicar que a banda estava pronta para começar. E o entusiasmo subiu a pique com a entrada triunfal que foi o tema homónimo da banda britânica. Continuando, e nem dando tempo para respirar, outro clássico: «Panic In The Streets». A partir daquele momento já estava tudo rendido ao som dos britânicos que ia alternando entre o peso do heavy metal e a melodia do hard rock, sendo um desfilo de hinos atrás de hinos como «Keep It Alive» e «Letting Go». Nem só de clássicos viveu a actuação da banda, com o mais recente trabalho «Katharsis» a não ficar esquecido com os dois singles «Cry For The Nations» e «Closer To Heaven» a mostrar que têm qualidade para permanecer no alinhamento para lá desta fase de promoção. A banda esteve sempre muito comunicativa e divertida e até o momento em que Chris Troy, baixista e membro fundador, referiu que não sabia como se dizia em espanhol algo (e que do fundo da sala se ouviu prontamente um “fuck You!“) acabou por ser divertido, com o guitarrista Andy Burgess a referir que era por terem passado muito tempo com os espanhóis OXIDO, os parceiros nesta digressão ibérica que só contou com uma data nacional.
Impressionante a precisão da banda – mesmo quando as backing tracks dos teclados falharam na já mencionada «Closer To Heaven» – tanto a nível instrumental como a nível vocal onde tanto John ‘Jaycee’ Cuijpers, o vocalista, como toda a restante banda nos coros estiveram irreprensíveis. Para o final viria uma fantástica versão de um clássico dos Lynyrd Skynyrd, «Simple Man», e o clássico «Children Of Earth» que terminou uma autêntica exibição de classe e bom gosto memorável, numa noite onde mais uma vez o heavy metal falou mais alto, como deveria falar sempre. Que estas digressões ibéricas, mesmo com apenas uma data, continuem a incluir o nosso país no seu roteiro.