Os finlandeses POETS OF THE FALL vão estrear-se em Portugal com um concerto único, marcado para o próximo Sábado, dia 30 de Novembro, no RCA Club, em Lisboa. Indiscutivelmente um dos segredos musicais mais bem guardados do seu país, o grupo foi criado em 2003 e, lenta, mas seguramente, provocou impacto a nível global com a passagem dos anos. Agora, com o novo «Ultraviolet» na bagagem, prometem uma noite de música pintada em tons bem carregados de cinzento, altamente recomendada aos fãs dos conterrâneos HIM e The Rasmus, ou de bandas de rock alternativo como os Placebo. Em jeito de antecipação, tivemos uma animada conversa com Marko Saaresto, vocalista e estratega do projecto oriundo de Helsínquia.
O vosso disco de estreia, «Signs Of Life», foi lançado em 2005, apenas dois anos depois de se terem juntado. Do que mais te recordas dessa altura?
Em 2003 escrevi os primeiros temas para a banda apenas com o Olli [Tukiainen, guitarra], depois conhecemos o “Captain” [Markus Kaarlonen, teclas/produção] e começámos então a trabalhar os três juntos. Logo no início de 2005 lançámos o álbum, por isso, na verdade, pode dizer-se que as coisas até aconteceram rapidamente. Lembro-me que, nessa altura, não tínhamos dinheiro nenhum e, basicamente, estávamos a tentar sobreviver enquanto nos situávamos… Na verdade, estávamos a tentar perceber como podíamos fazer vida a tocar este tipo de música, mas o processo de escrever as canções e construír o álbum foi mesmo muito divertido. Passámos incontáveis noites e fins de semana inteiros a compôr e a gravar; na altura eu não tinha trabalho e estava a viver em casa dos meus pais, por isso passava os dias na cave, a escrever.
Desde o início abraçaram um método totalmente D.I.Y., sendo que a primeira coisa que fizeram foi logo criar a vossa própria editora. Porquê?
Ainda antes de lançarmos o primeiro disco estávamos em conversações com uma série de editoras diferentes e várias mostraram interesse em trabalhar connosco, mas depois não aconteceu nada… Acho que teve tudo a ver com o facto do que estávamos a fazer não ser propriamente popular naquela altura. As editoras estavam à procura de outra coisa, que nós não lhes estávamos a dar. Como todos acreditávamos no álbum que tínhamos feito, e como nenhum de nós estava propriamente disposto a desperdiçar todo o trabalho árduo daqueles dois primeiros anos, decidimos seguir em frente e criar a nossa própria editora.
O álbum de estreia foi editado e entrou imediatamente para o #1 da tabela de vendas na Finlândia. Foi uma surpresa?
Foi algo totalmente inesperado, sim. Na verdade, depois de termos levado todas aquelas negas, acho que não estávamos à espera de propriamente nada… Portanto, foi mesmo a melhor coisa que podia ter acontecido – a todos os níveis. [risos] Lembro-me que, a partir do momento em que lançámos a «Late Goodbye» como single, foi uma enorme loucura. Acordei no dia seguinte e tinha, literalmente, a inbox cheia, com centenas de mensagens de pessoas de todo o mundo… E eu tentei responder a todas, uma por uma. Percebermos que havia público para o que estávamos a fazer, e que as pessoas estavam interessadas na nossa música, deu-nos um boost enorme, sem dúvida.
O que fez o click com as pessoas de forma tão massiva? É algo que conseguiste perceber como aconteceu?
O que tentamos fazer com a nossa música é canalizar emoções e, de certa forma, acho que o segredo está precisamente aí. As pessoas identificaram-se com as nossas emoções, porque são coisas que toda a gente acaba por, mais tarde ou mais cedo, sentir também. Sempre falámos das nossas experiências, do nosso dia-a-dia, das coisas que acontecem na nossa vida, e acho que o público se identificou com essa honestidade. Dentro e fora da Finlândia sempre tivemos muita gente a vir ter connosco e a dizer-nos que a música e as letras os tinham tocado de uma forma muito, mesmo muito, profunda… O que, para mim, é o melhor elogio que me podem fazer.
O facto de, álbum após álbum, terem reunido sempre reacções consensuais, foi aumentando progressivamente a pressão?
Sim, penso que sim. Nós fazemos, basicamente, tudo… Escrevemos a música, produzimos e gravamos os álbuns, planeamos as tours, tratamos dos vídeos, fazemos a promoção, por isso o volume de trabalho foi-se intensificando à medida que os anos foram passado. De certa forma, é como se tivesse um trabalho diurno, que é tratar do lado burocrático que é inerente a estar numa banda, e um trabalho nocturno, que é tocar ao vivo e criar canções. No entanto, nunca me vou queixar, porque estou a viver a vida com que sempre sonhei.
De dois em dois anos lançam um novo álbum. Nunca param de escrever?
Um destes dias houve um amigo que me perguntou até quando vou aguentar este ritmo e, muito sinceramente, com a música, acho que não há razão nenhuma para parar. Para quê parar, se me sinto inspirado? A maior parte das pessoas parece ter dificuldade em perceber como fazemos as coisas assim, mas a verdade é que nunca paramos de compôr – esta banda tem sido, desde o início, construída sob um processo contínuo de criação e, por incrível que possa parecer, inspiração é algo que nunca nos faltou. Só o facto de ainda haver países onde nunca tocámos, como é o caso de Portugal e Espanha, onde vamos estar nesta próxima tour, é incrivelmente inspirador. Não sei bem porquê, mas consigo imaginar-me com 154 anos, sentado ao piano. [risos] Acho que as pessoas se deviam dedicar mais à música, mesmo que seja apenas como passatempo, porque é algo que me ajuda muito a relaxar e se há coisa de que precisamos neste mundo em que vivemos é exactamente de relaxar.