PLINI

PLINI: “Sinto que a audiência para este tipo de som tem estado a crescer” [entrevista]

Sobre os espectáculos em Portugal, as vantagens e desvantagens da música instrumental e muito mais, estivemos à conversa com PLINI, definitivamente um dos mais talentosos guitarristas da sua geração.

Oriundo de Sydney, na Austrália, PLINI compõe, toca, grava, produz e gere a sua visão singular do rock progressivo instrumental. Um verdadeiro virtuoso, daqueles que só começaram a aparecer já no novo milénio, acumulou paulatinamente uma legião de fiéis seguidores com as suas aptidões na guitarra e os seus arranjos instrumentais sofisticados. Surgiu inicialmente em cena corria o ano de 2013 com a edição unicamente online de canções e vídeos, mas após uma série de EPs gravados de forma independente, lançou o muito elogiado álbum de estreia, «Handmade Cities», em 2016, sucedido por «Impulse Voices» em 2020 e pelo EP «Mirage» em Dezembro do ano passado.

Após dois longos anos de espera paciente, o muito talentoso PLINI voltou por fim à acção em 2022 com digressões esgotadas na Austrália, Índia e Escandinávia, assim como várias actuações em festivais deste e do outro lado do Atlântico. Aproveitando o embalo e nada interessado em abrandar o ritmo, o talentoso e muito elogiado mestre da guitarra manteve-se consistentemente na estrada e, já na recta final de 2023, lançou o EP «Mirage», que serve agora de mote a uma tour Europeia de Verão.

Após a muitíssimo bem recebida estreia no nosso país em nome próprio, o músico regressa a Portugal e repete a “dobradinha” nos dias 24 e 25 de Junho, com actuações no LAV – Lisboa Ao Vivo e no Hard Club, em Lisboa e no Porto, respectivamente. Os bilhetes para os concertos, que contam com os nacionais GOD HATES A COWARD na primeira parte, custam 27€, estão à venda no site da Prime Artists e nos locais habituais.

O Verão de 2024 marca, por fim, o teu muito aguardado regresso ao Velho Continente para uma digressão que arrancou no passado dia 11 de Junho. Como têm estado a correr estas datas?
Tem sido muito, muito bom! Eu adoro sempre vir à Europa, mesmo que seja apenas como turista, e posso dizer, sem exageros, que fico feliz sempre que toco em qualquer lugar aqui. Não importa quantas pessoas apareçam, porque gosto muitíssimo de estar aqui – e isso chega sempre para ficar satisfeito.

Felizmente, os espectáculos que fizemos até agora correram todos mesmo muito bem. Fizemos três ou quatro datas com os meus amigos Polyphia, e foi muito divertido… Conheço-os há uma série de anos e, até agora, ainda não tínhamos conseguido fazer um concerto juntos, por isso foi fixe isso acontecer finalmente desta vez. Eles ficaram muito grandes nos últimos anos, por isso tocámos em salas fixes, para multidões muito fixes e, claro, houve muita diversão.

É justo dizer que, para ti, viajar por todo o mundo e ser reconhecido pela música que fazes é um sonho tornado realidade?
Sim, pode dizer-se isso a 100%. [risos] É muito difícil imaginar o que mais poderia pedir. Claro, posso sempre pedir mais, uma audiência maior, mais dinheiro ou o que quer que seja, mas o facto de poder fazer música tão estranha e as pessoas gostarem, e poder viajar a tocá-la é, sem dúvida, um sonho tornado realidade.

Sei que começaste a tocar quando ainda eras muito novo. O que te levou à guitarra?
Quando era miúdo, os meus pais costumavam ouvir muitas coisas como os Beatles, Led Zeppelin e o Michael Jackson, por isso sempre estive basicamente rodeado de música desde que era mesmo muito pequeno. De início, interessei-me pela bateria, mas tentar aprender bateria num pequeno apartamento tornou-se, como podem adivinhar, uma enorme dor de cabeça para os meus pais. Às tantas, arranjei uma guitarra acústica e, eventualmente, lá acabei por convencê-los a comprarem-me uma guitarra eléctrica barata e acabei por me apaixonar por ela.

E és autodidata, certo?
Sim, comprava muitas revistas e passava horas e horas a ver vídeos no YouTube, mas basicamente tentava descobrir como recriar os sons e as músicas que que mais gostava naquela altura.

O que inspirou a decisão de fazeres música 100% instrumental focada na guitarra? Consideraste a opção de integrar uma banda ou o plano era, desde o início, fazer algo a solo?
Quando comecei a escrever as primeiras músicas, a minha maior inspiração eram, provavelmente, os Dream Theater. Nessa altura, achava que acabaria por ser guitarrista numa banda que tivesse um cantor, mas queria que fosse uma banda… Como vou explicar isto sem soar presunçoso? [risos]

Queria que fosse uma banda em que cada pessoa fosse incrivelmente boa no seu instrumento, por isso tinha de ser o melhor cantor, o melhor baixista, o melhor teclista e o melhor baterista. Tentei montar esse grupo com os poucos contactos que tinha, mas nunca encontrei um cantor adequado, por isso fui escrevendo música sozinho e, simplesmente, acabei por seguir por aí. Para ser sincero, adorava escrever algumas canções com cantores agora que conheço alguns com tanto talento, mas ainda não o fiz.

É, então, algo que tens em mente e que estás a planear fazer em breve?
Não sei se vai acontecer em breve… No entanto, adoro muita música com voz, por isso acho que seria um desafio divertido tentar fazer também algo nesse âmbito.

Seria algo para fazeres no contexto de PLINI ou terias de criar um projecto diferente?
Gosto da ideia de fazer tudo sob o meu nome para que seja mais coerente. Talvez seja um pouco confuso para as outras pessoas, mas, para mim, se é algo que quero fazer, então sinto que devo lançar apenas sob o meu nome. Vamos ver… Ou melhor, vamos esperar para ver o que acontece.

Estavas a falar sobre confundir as pessoas e, se ouvirmos a tua discografia, não há muitas regras ou limites. Estás sempre a tentar expandir o teu som, não estás?
Sim, constantemente, porque acho que o que torna a música excitante é quando se faz algo de que não estamos à espera. É o que procuro nos meus artistas favoritos, por isso estou constantemente a tentar aprender coisas novas e faço questão de me expor a diferentes tipos de música para me manter inspirado e fazer coisas que acho que são surpreendentes e que, esperançosamente, são interessantes para o público.

Achas que é mais difícil captar a atenção do público quando se toca música instrumental? Isso é algo em que pensas quando estás a escrever os teus temas?
Bem, acho que, como sempre escrevi música instrumental, me habituei desde cedo ao facto de ter um público muito mais reduzido. Ao mesmo tempo, sinto que a audiência para este tipo de som tem estado a crescer ou, pelo menos, parece haver mais pessoas que se interessam pelo que faço de ano para ano.

Neste momento, acho que é apenas um pouco mais difícil de descobrir, mas sim, aceito isso naturalmente como um aspecto inerente ao facto de fazer música instrumental e, claro, tento sempre dar o meu melhor para que os temas sejam tão apelativos quanto possível.

Desde que surgiste em cena tens mantido sempre um fluxo constante de lançamentos, mas só fizeste dois álbuns. Preferes o formato EP?
Bem… De certa forma, sim. Acho que, pelo menos para mim, pode ser bastante difícil escrever 40, 50 ou uma hora inteira de música instrumental interessante, especialmente quando a guitarra é a voz principal e corro o risco de ficar rapidamente sem coisas para dizer. [risos]

É por isso que gosto tanto de lançar EPs; se fizer só quatro ou cinco músicas, podem ser todas muito diferentes umas das outras e cada uma pode ter a sua identidade própria. Nesse sentido, é bastante mais fácil. Dito isto, ainda gosto de fazer álbuns e essa vai ser a minha próxima empreitada.

Já há algo que possas dizer sobre o próximo álbum?
Ainda é muito cedo para falarmos nisso. Tenho muitas ideias e acho que, neste momento, tenho cerca de dez ou onze demos muito curtas que poderiam transformar-se em músicas do álbum. Vou esperar até que todas as digressões deste ano terminem e, depois, vou dedicar-me fe uma forma mais séria a isso.

Portanto, talvez um LP novo de PLINI para ouvir em 2025, é isso?
Sim. Neste momento, o plano é exactamente esse.

Achas que as músicas do «Mirage» podem ser uma boa base para o que vais fazer?
Hmm… Talvez sim, talvez não. Em alguns momentos, acho que as músicas do «Mirage» ficaram um pouco estranhas e experimentais. Fiz algumas coisas de formas que nunca tinha feito e é provável que faça um pouco disso no próximo álbum, mas também há coisas que são mais inspiradas pela música pop, por isso espero que acabe por ser ainda mais diversificado do que tudo o que fiz até agora, e com mais influências diferentes.

Mais expansivo, portanto.
Sim.

E o que inspirou essa abordagem, como disseste, “mais estranha” no «Mirage»?
Não consigo apontar realmente uma razão concreta. Acho que estava apenas a ouvir muitos tipos diferentes de música e, com a minha forma de tocar guitarra, a tentar não me repetir. Isso refletiu-se nesse mateial. Acho que, quando se aprende um instrumento, é natural que se vá aprendendo técnicas cada vez mais avançadas ou complicadas…Isso pode ser bom e mau, mas na altura em que estava a escrever o material para o «Mirage» estava a experimentar mais com harmonias mais difíceis ou sons estranhos e queria usá-los na minha música.

Sei que, nesse disco, trabalhaste, por exemplo, com o A.J. Minette, guitarrista dos The Human Abstract. Como surgiu essa oportunidade?
Para ser sincero, já nem me lembro bem como o conheci. Acho que, primeiro, até conheci o Brett [Powell], que era o baterista dos The Human Abstract. Há uns anos, ele estava a trabalhar com os Intervals, com quem fiz muitas digressões, e talvez tenha conhecido o A.J. na altura também.

Sou um grande fã do que eles dizeram com os The Human Abstract, por isso mantivemos o contacto e, geralmente, quando vou a Los Angeles, faço questão de me encontrar com ele e vejo o que anda a fazer. Ele aprendeu tudo o que há para saber sobre música, toca todos os instrumentos, todos os estilos. Basicamente, é um génio e, há uns tempos, andava a gravar orquestrações de cordas.

Vivia numa casa com um violinista e dois violoncelistas por isso estava sempre a gravar todas essas diferentes orquestrações com eles. Eu sempre quis trabalhar com instrumentos de cordas ao vivo, por isso, quando as músicas do «Mirage» estavam mais ou menos escritas, enviei-lhe umas ideias. Depois falámos no Zoom e, além de ter feito todas as gravações, ajudou-me a tornar os arranjos e as orquestrações mais fixes e mágicas.

Outro músico talentoso com quem trabalhaste foi, obviamente, o Tosin Abasi, dos Animals As Leaders.
Sim, conheço o Tosin há algum tempo. Fiz algumas digressões com os Animals As Leaders e, desde então, tornámo-nos bons amigos e estamos em contacto regular. Antes de o conhecer já era um grande fã, mas desde que o conheci, sempre almejei conseguir um solo dele para um dos meus temas e achei que aquela música seria fixe para convidá-lo.

É, lá está!, um pouco estranha, está num compasso de tempos ímpares e ele é alguém que poderia definitivamente tocar algo muito interessante por cima do que criei. Além disso, não tem necessariamente o som dos Animals As Leaders, por isso achei que seria uma colaboração divertida – e foi, de facto. Adoraria fazer mais coisas com ele… O Tosin é um músico incrível.

Estamos obviamente a falar porque vais voltar a Portugal para fazer dois espectáculos. Tens boas memórias das tuas passagens anteriores por cá?
Tenho óptimas memórias! A primeira vez que fui a Portugal, toquei no Comendatio Music Fest e foi incrível. Depois, voltámos e tocámos em Lisboa e no Porto, o que também foi incrível. Suponho que não seja um destino para todas as digressões, porque é um pouco longe, mas é um lugar onde espero voltar o mais frequentemente possível. É um sítio muito agradável para estar, o público é fantástico, os locais são incríveis.

Sem revelar muito, o que é que as pessoas podem esperar destes concertos? Estás a planear algo diferente em termos de alinhamento em relação ao que fizeste da última vez?
Sim, vamos tocar algumas músicas novas, vamos tocar algumas músicas mais antigas que não tocámos da última vez que aí estivemos e, claro, vai haver muitos momentos de improvisação. Vai ser, garantidamente, bastante divertido.