Hoje, quinta-feira, 18 de Julho, com o início do festival WOODROCK, teremos em Portugal um dos nomes espanhóis mais peculiares da actualidade, EL ALTAR DEL HOLOCAUSTO. O nome do grupo provém de uma citação bíblica, Exodus 27:1-8, e toda a imagética do quarteto de Madrid se desenvolve à volta da religião. O colectivo é formado por Reaper Model, bateria, Weasel Joe e Reverb Myles nas guitarras e Skybite no baixo. Sem vocalista, apostam no instrumental dentro de uma linha entre o post-rock e o doom, com claras influências de nomes como ISIS ou PELICAN. As actuações têm fama de não deixarem ninguém indiferente e ainda recentemente, a sua passagem pelo festival Download, em Madrid, foi alvo de elogios. Para lá de toda a imagem em palco e vídeo, o próprio discurso do colectivo é algo esotérico. Skybite, quando questionado sobre a escolha deste nome para o grupo, refere ser “uma celebração do Todo-poderoso, um tributo à única coisa que é importante na vida.”
«He» e «She» foram os dois primeiros discos, tendo recentemente sido lançado «It» e, pelo meio, ainda libertaram também um EP. Os títulos poderão ser estranhos à partida, mas na explicação do colectivo fazem todo o sentido pois o primeiro trabalho, «He», “é dedicado a Jesus, «She» à virgem Maria e «It» ao Espírito Santo. Não podíamos pensar num melhor motor para a fé, devemos a eles aquilo que somos.” Apesar de os temas serem todos instrumentais, os seus títulos são longos, coincidindo com passagens do evangelho. Mesmo os clips possuem uma estética diferente do habitual e o último trabalho está mesmo disponível numa gravação vídeo para todo o disco, em que se acompanha a viagem de um dos elementos através de uma floresta. São quarenta minutos divididos em seis peças instrumentais, com títulos como «From the Heart of Jesus opened on the cross, the man with the new heart is born. Lord Jesus, give me a new heart made in the image of yours, infuse a new spirit in the depths of my being, that keeps me open to God, our Father, and available to those who share with me the way of life».
A digressão iniciada, e que agora passa por Portugal, recebeu o título Via Crucis e, quando questionado quanto a esta escolha e ao vídeo, o colectivo foi claro ao explicar que sacrifica a sua vida a Ele sempre que toca. “Sempre que compomos, sempre que vamos para a estrada para um concerto, é a nossa penitência, a estrada é a nossa crucificação.” A ambiguidade do colectivo mantém-se quando se indaga se o grupo é efectivamente cristão, ou apenas usa a imagética associada ao tema. A resposta, vem com uma pergunta “Como poderíamos brincar com isso?”, explicando de seguida que “devemos a nossa fé e tradição a uma linhagem de gerações nas nossas famílias e estamos orgulhosos disso. Os nossos avós e os seus avós viveram a vida seguindo o caminho do senhor e assim também nós. O mínimo que podemos fazer é expressar a nossa fé com a nossa música.” O mercado espanhol não é reconhecido pelos seus nomes de stoner ou post-rock, embora eles existam, com PÚRPURA e TOUNDRA a serem dois deles. O colectivo reconhece isso, mas afirma que “apesar de sermos mais conhecidos em Espanha, recebemos mensagens de todo o mundo, com pessoas a mostrar gratidão pelas nossas bênçãos. esperamos levar brevemente a tour para fora de Espanha de maneira a alcançarmos irmãos em outros países.”
A primeira passagem por Portugal, no Woodstock 69, no Porto, ficou na memória por ter sido “fantástica” e porque no final tiveram “uma pequena missa com alguns irmãos portugueses em que pudemos partilhar maneiras de perceber a fé e formas de confrontar os momentos de fraqueza, na vida, e como regressar sempre a Ele, para a felicidade completa.” Uma última questão prendeu-se com o visual, facilmente compreensível a nível interno, mas que na transição para outros países os poderá associar a movimentos como o Ku Klux Klan, algo descrito como “uma típica confusão, não temos nada a ver com o K.K.K. ou outras formas de ódio, tudo o que temos é um amor inquestionável para com cada pessoa, no nosso caminho para o céu, onde nos iremos encontrar e ser eternamente agradecidos por aquilo que Ele nos oferece.” Os EL ALTAR DEL HOLOCAUSTO estarão presentes no primeiro dia do Woodrock e merecem que, em Portugal, lhes seja dada mais atenção.