PHIL CAMPBELL AND THE BASTARD SONS @ LAV - Lisboa Ao Vivo

Ontem à noite, PHIL CAMPBELL e os seus BASTARD SONS regressaram a Lisboa para uma lição na arte do bom e velho rock’n’roll. Hoje, repetem a dose no Hard Club, no Porto.

Na altura em que deram os primeiros passos, os britânicos PHIL CAMPBELL AND THE BASTARD SONS podem ter sido simplesmente uma curiosidade para os fãs dos icónicos MOTÖRHEAD após a morte da lenda Lemmy (Phil Campbell foi o guitarrista da banda durante mais de três décadas), mas em 2024 já não há como negar que construíram o seu próprio nicho do espectro do rock’n’roll mais pesado.

Com três LPs no seu fundo de catálogo, os músicos afirmaram-se como uma sólida atracção ao vivo, fizeram ‘suporte’ aos gigantes GUNS N’ ROSES, actuaram nos maiores festivais do planeta e, na Europa, até conseguiram garantir presença nas tabelas de vendas.

Formados em 2016 após a dissolução dos MOTÖRHEAD, PHIL CAMPBELL AND THE BASTARD SONS atraíram sempre multidões por onde quer que passassem. Liderada por um dos guitarristas mais respeitados no rock, e com a formação a ficar completa com os seus filhos Todd (na guitarra), Tyla (no baixo) e Dane (na bateria), a banda fez-se à estrada logo em 2017 e, apoiada num punhado de versões do trio do Sr. Kilmister e numa série de temas originais, mostrou desde cedo não fazer prisioneiros. Fosse a promessa de ouvir os clássicos ou simplesmente o facto de serem bons demais para serem ignorados, a resposta a esses primeiros espetáculos foi gloriosa.

Quando lançaram a estreia «The Age Of Absurdity», em 2018, essa demonstração honesta e visceral do rock’n’roll já tinha florescido de uma forma orgânica e o álbum recebeu elogios. Depois, mesmo com a pandemia a cancelar muitos planos cuidadosamente elaborados, o grupo nunca baixou os braços e tratou de afirmar a sua dedicação absoluta ao rock com a edição de «We’re The Bastards».

Já em 2022, após anunciarem o recrutamento do novo vocalista Joel Peters, voltaram a entrar em estúdio e, no Outono de 2023,na sequência da sua temporada festivaleira mais movimentada até ao momento, editaram a novidade «Kings Of The Asylum», que os trouxe agora de regresso a Portugal para uma data-dupla após terem passado pelo VOA – Heavy Rock Festival em 2022.

Pese a fraca afluência, foi já depois de uma enérgica actuação dos JUNKBREED que o Sr. Campbell subiu ao palco para mostrar porque ninguém vivo actualmente pode reclamar ser mais adequado para manter a chama dos MOTÖRHEAD acesa. No entanto, com o arranque a cargo de «We’re The Bastard», o cartão de visita do grupo, fica desde cedo claro que o que se seguirá não vai ser um concerto de homenagem. Com o característico tom de guitarra de Phil a fazer ouvir loud and clear, o quinteto segue caminho com mais um original e «Freak Show» afirma-se como um daqueles temas contagiantes, que desafia a plateia a balançar a cabeça ou a bater o pé ao ritmo intemporal da melodia.

Bastam, de resto, esses dois primeiros temas do alinhamento para perceber que os três descendentes de Campbell ocupam as suas posições com enorme solidez: Dane, na bateria, martela a tarola durante todo o espetáculo; Todd, na guitarra e harmónica, rouba o holofote ao pai de uma forma totalmente juvenil na divisão dos solos; e Tyla, no baixo, tem o trabalho mais ingrato por ter de tocar as linhas inconfundíveis de Lemmy Kilmister, mas safa-se com uma classe considerável.

Como todos sabemos, o extenso e incontornável catálogo dos MOTÖRHEAD é demasiado vasto para ser deixado em paz na ausência de Lemmy, mas Phil Campbell entende a natureza idiossincrática dos temas e espalha-os generosamente ao longo do espectáculo. «Going To Brazil», de «1916», surge cedo; o hino «Born To Raise Hell» tem Joel a colocar a plateia num duelo de cantoria, a clássica «Ace Of Spades» vai ser sempre recebida como a jóia na coroa do rock que é; «Killed By Death» e «Overkill» são uma base sólida para um encore perfeito.

Com tanto material original do qual escolher, é interessante que os PHIL CAMPBELL AND THE BASTARD SONS optem por tocar duas versões de outros artistas popularizadas pelos MOTÖRHEAD; a saber, «God Save The Queen», dos SEX PISTOLS, como ouvida em «We Are Motörhead», de 2000, e a «Heroes», do icónico DAVID BOWIE, incluída no álbum póstumo «Under Cöver» e um dos últimos temas que Lemmy gravou. Resultado, como já tinha feito em 2022, a banda continua a pisar a linha entre o seu material e o reconhecimento do passado de Phil com uma precisão perfeita.