Frente a menos público do que seria desejável, mas muito bem acompanhados pelos CARNATION e pelos BODYFARM, os veteranos PESTILENCE deram ao RCA Club uma lição de como fazer death metal de excelência.
O dia já tinha sido quente em Lisboa, mas aqueceu ainda mais dentro da sala de Alvalade. A Black Death Over Europe Tour trazia na bagagem os lendários PESTILENCE, os belgas CARNATION e os neerlandeses BODYFARM, misturando o melhor que o death metal contemporâneo tem para oferecer com a vertente mais clássica e, claro, as raízes progressivas dos cabeças de cartaz.
A noite começou com os BODYFARM a mostrarem que o OSDM ainda tem o seu espaço e, durante os 40 minutos que estiveram em palco, os músicos inspiraram um abanar de cabeça constante, com os circle pits a iniciarem-se bem cedo. Começa a ser habitual no RCA Club: os fãs deixam tudo no chão e, muitas vezes, em palco também, o que acabaria por ser um problema mais tarde. Já lá vamos, no entanto. A terminar, «The Dark Age» acabou for ser o momento alto da actuação do quarteto de Utrecht.
Seguiram-se os CARNATION, que traziam consigo o seu terceiro (e excelente) disco de originais «Cursed Mortality». Foi precisamente com «Herald Of Demise», do mais recente disco, que deram início à sua prestação e a voz de Simon Duson parecia estar mais baixa que os restantes instrumentos, mas o balanço acabou por ser reposto basicamente. Seguiram-se «Iron Discipline» e «Sepulchre of Alteration», do álbum «Where Death Lies».
Em palco, a imagem de Duson é bastante forte, quase tanto como a sua presença, o que se tornou notório nos temas do mais recente LP, primeiro com o excelente «Maruta», seguido de «Cycles Of Suffering», do demolidor tema-título e «Metropolis», enquanto alguns fãs iam fazendo stage diving. O concerto encerrou com «Fathomless Depths»,da estreia «Chapel Of Abhorrence», e, no geral, esta foi uma excelente estreia dos belgas em solo nacional. Agora, é esperar que as portas estejam abertas para um regresso em breve.
Os lendários (e veteranos) PESTILENCE tinham prometido um alinhamento best of e foi exactamente isso que apresentaram com grande destaque dado ao clássico «Testimony Of The Ancients», de 1991. Patrick Mameli subiu a palco como quem está pronto para entrar num ginásio e deu início ao concerto com «Morbvs Propagationem», logo seguido de «The Process Of Suffocation», do também incontornável «Consuming Impulse», de 1989.
Mais uma vez, os circles pits foram intensos desde o primeiro momento, mas durante a actuação dos PESTILENCE chegou-se mesmo ao ponto de haver um desentendimento entre dois fãs… Digamos apenas que a situação escalou de tal forma, que Mameli foi mesmo forçado a pedir calma aos mais exaltados. Noutro momento, um fã que entrou em palco via crowd surfing ficou lá em cima de telemóvel na mão, a pedir uma selfie, mas acabou por levar um “chega para lá” de Mameli, visivelmente irritado, que pediu ao fã sem noção para sair rapidamente de palco. Isto já não devia ser novidade para ninguém, mas o público tem de perceber que o palco pertence aos músicos, havendo quem não se importe com invasões, claromas, por norma, aquele é o espaço de quem está a tocar e tem de ser respeitado.
Com os ânimos menos exaltados, «Prophetic Revelations» foi um belo momento, seguido de «Resurrection Macabre» com constantes movimentações no meio do público. Ainda houve um momento em que o som da sala ‘berrou’ durante um ou dois minutos, só se ouvindo o som de palco. Felizmente, as bandas tinham trazido amplificadores, porque se estivessem só dependentes de sons digitais, tinha sido um silêncio… ensurdecedor.
A noite encerrou com «Land Of Tears», «Horror Detox» e «Out Of The Body», numa sala que merecia mais público, mas já se sabe que a meio da semana (e com bom tempo) há quem dê prioridade a passar o dia na praia, ao invés de apoiar a boa música que vai passando pelas salas nacionais.