Originalmente editado pela Hydra Head Industries (de Aaron Turner, dos SUMAC e ISIS) em Novembro de 2003, o primeiro álbum dos PELICAN foi gravado e misturado por Sanford Parker nos Volume Studios, em Chicago, na Primavera desse mesmo ano. A masterização coube a Nick Zampiello nos New Alliance Studios, em Boston. No entanto, o álbum foi revisitado esta reedição que conta com remasterização de Josh Bonati e, no formato físico de duplo-LP, a mistura original está também acompanhada de uma versão de «Angel Tears» remisturada por James Plotkin. Além disso, a reedição traz consigo algumas raridades, pois permite o download de duas gravações ao vivo até aqui inéditas e ainda várias imagens que documentam esses primeiros dias da banda, com destaque para a fotografia que inspirou o artwork de Aaron Turner.
Nos seus primórdios, os PELICAN nem sempre estavam satisfeitos por não encontrarem um cantor adequado para o seu som. Tentaram durante algum tempo. Mas nunca encontraram o que procuravam. E assim a posição do cantor permaneceu sempre aquilo que foi: não preenchida. Bryan Herweg (baixista) explicou uma vez, em entrevista, porque é que isto é assim. Se tivessem optado por um tipo robusto, com poder de vociferação, teriam sido descritos como uma banda de metal. Se tivessem optado por um tipo mais para o magricela, teriam acabado na gaveta do emo. Os músicos não queriam nem uma coisa nem outra. E é por isso que há mais de duas décadas que é tudo puramente instrumental. Como uma banda instrumental, dizem os músicos, não sofrem com limites de género pré-estabelecidos.
E «Australasia» retém ainda intacto o potente aroma de cordas de aço, válvulas sobreaquecidas e suor dos primeiros anos desta banda fundada em Chicago, entretanto mudada para Los Angeles, que atingiu meio mundo com ondas de choque violentas: guitarras em afinações baritonais graves, riffs ultra pesados, com algumas aproximações ao sludge e experimentação nas guitarras, assente numa parede colossal de ritmo. Normalmente, este tipo de sonoridades surgia com dificuldades de delimitação de frequências entre as guitarras e baixo, devido às afinações com tonalidades tão próximas, que terminavam por soar algo indistintas. Mas neste disco dos PELICAN, cada espectro instrumental surge no seu espaço próprio, interligado com o que o rodeia. O som das guitarras, principalmente, ganha uma definição incrível que se alia ao punch da secção rítmica e torna o som monolítico, sem ser saturante. Isto é uma mais-valia considerável se pensarmos que as estruturas de composição do disco, totalmente instrumentais, assentam sobre a repetição de grandes blocos de ritmo, com poucas variações melódicas que surgem apenas a pontuar os temas, para permitir variações de dinâmica aos mesmos.
[via ROMA INVERSA]