PARKWAY DRIVE: “Vai ser o concerto mais louco que Portugal já viu” [entrevista]

Entre fogo, suor e riffs monumentais, os australianos PARKWAY DRIVE regressam a Lisboa com a maior produção da sua carreira.

Hoje, quinta-feira, dia 30 de Outubro, o Campo Pequeno, em Lisboa, promete aquecer muito para além do imaginável. Literalmente. Os PARKWAY DRIVE regressam por fim a Portugal, após oito anos de ausência, para um concerto que promete ser o mais ambicioso e intenso da carreira da banda por cá. A digressão europeia que os traz de volta é das maiores que já realizaram, e chega a Lisboa carregada de simbolismo: primeiro, porque marca o reencontro com um público que os tem visto crescer; depois, porque também é o culminar de um processo de reconstrução interior que conseguiu salvar o aplaudido grupo australiano da exaustão e da ruptura.

Já em plena tour, o guitarrista Luke Kilpatrick falou com a LOUD! e não deixou dúvidas: “É exaustivo, para ser sincero. Quando marcámos esta digressão, fizemo-lo como sempre — três concertos seguidos, um dia de descanso —, mas ainda não tínhamos delineado o espectáculo. E este espectáculo é um monstro. Dura cerca de duas horas.” O músico fala com a serenidade de quem já percorreu meio mundo, mas também com a lucidez de quem sabe o peso que é manter uma máquina como os PARKWAY DRIVE em movimento.

O quinteto oriundo de Byron Bay — cuja formação fica completa com Winston McCall, Jeff Ling, Ben Gordon e Jia O’Connor — transformou-se num dos nomes mais respeitados do metal moderno, após mais de duas décadas de evolução constante, passando do metalcore das suas origens à grandiosidade cinematográfica de discos como «Reverence» ou «Darker Still», de 2018 e 2022, respectivamente.

Para muitos, a ascensão dos PARKWAY DRIVE pareceu inevitável. O grupo que começou em Byron Bay, na Austrália, como um colectivo de surfistas apaixonados por metal extremo, acabou por transformar-se num fenómeno global. Mas o próprio Luke confessa que este crescimento da produção ao vivo foi tudo menos planeado. “Sempre tivemos interesse em fazer algo grande. Quando víamos as bandas maiores nos festivais, sonhávamos em fazer o que elas faziam“, começa por explicar o músico.

Acontece que, quando gravámos o vídeo-clip da «Crushed», eles construíram uma estrutura para a bateria que girava, por isso decidimos adaptar essa ideia ao palco. Esse foi o nosso primeiro elemento móvel. Depois adicionámos os elementos pirotécnicos e tudo cresceu a partir daí.” Esta referência é mais do que simbólica. Desde a Reverence World Tour, os PARKWAY DRIVE têm apostado fortemente num espectáculo visual que conjuga teatralidade, iluminação meticulosa e uma presença física avassaladora. A digressão actual eleva essa ideia ao limite: uma hora e cinquenta minutos de intensidade, entre fogo, plataformas elevatórias e uma energia que parece não conhecer pausas.

No entanto, por trás do brilho das chamas há uma realidade dura. “Não é fácil,” admite o Luke. “Há muito trabalho envolvido no que fazemos. Pensar no que é possível, no que é exequível, no que é financeiramente viável… Na verdade, é um investimento enorme , e há muita expectativa. Mas é o caminho que escolhemos.

O resultado é um concerto que redefine o que significa ser uma banda de metal em 2025: rigor técnico e emoção crua coexistem. Para Luke, esse equilíbrio é totalmente natural. “Bem, ter o espectáculo por trás e o público à nossa frente… Não há outra opção senão estar cheio de energia. É impossível não senti-lo. E isto é tudo muito natural, porque a música também é intensa e pesada, e tudo se alimenta mutuamente.

Toda esta grandiosidade contrasta com um momento delicado da história recente dos PARKWAY DRIVE. Em 2022, o grupo cancelou parte da sua digressão mundial, citando exaustão e a necessidade de cuidar da saúde mental de alguns dos seus elementos. Foi um gesto que surpreendeu os fãs e a indústria, mas que acabou por se tornar um ponto de viragem.

A decisão veio da necessidade,” explica Luke. “Estávamos num ponto em que as pessoas não se entendiam, e já não comunicavam. [pausa] Íamos por um caminho de ressentimento e destruição, ou enfrentávamos os nossos medos e falávamos uns com os outros… E optámos por essa segunda via. Fizemos terapia, fomos honestos uns com os outros. Foi transformador, tanto para nós como para a banda.

A franqueza com que o guitarrista dos PARKWAY DRIVE fala do tema é notável — e coerente com como sempre geriram a sua relação com o público. “Acho que ajudámos alguns artistas pelo caminho,” diz, com humildade. “Já tivemos pessoas a agradecer-nos por termos aberto o jogo. Até o nosso terapeuta recebeu outras bandas desde então. E não sei o quão longe isso chegou, mas acho que ajudou outras pessoas. Isso faz-nos sentir bem com a decisão que tomámos. Não só nos salvou, como pode ter salvo outros também.

Num meio tantas vezes marcado pelo silêncio e pela autodestruição, este gesto foi importante. O próprio Luke admite que o grupo poderia ter-se desfeito se não tivesse tomado essa iniciativa. “Nunca chegámos ao ponto de dizer ‘acabou’, mas estávamos a ir nessa direcção. Foi a mediação que nos salvou. Decidimos procurar ajuda antes que os egos falassem mais alto.” A longevidade do núcleo original da banda — todos amigos de infância — ajudou. “Crescemos todos juntos, estudámos juntos, éramos amigos antes de sermos uma banda. E nunca fomos grandes bebedores ou consumidores de drogas… Sempre tivemos a cabeça no lugar. Isso ajudou-nos a não perder o controlo.

Hoje, os PARKWAY DRIVE estão mais coesos que nunca. A energia dos concertos é a prova disso: cada canção é interpretada com a precisão de uma orquestra e a ferocidade de uma tempestade. E, apesar da dimensão do espetáculo, o grupo ainda se vê como um bando de amigos que gosta de tocar. “Não temos nada a esconder nem nada a provar,” garante Luke. “Somos apenas um grupo de amigos a divertir-se. Se alguém diz algo a mais, falamos entre nós, mas nunca é um problema. É natural.

Essa naturalidade também se reflete na forma como vivem a estrada. A rotina pode ser dura, mas a banda aprendeu a lidar com ela. “As pessoas romantizam a vida na estrada, mas a realidade é bem diferente,” diz o guitarrista. “Não é luxuosa. Continuamos num autocarro, as camas são pequenas, os horários são duros. Mas estamos confortáveis no que fazemos. Estes espaços maiores ajudam — podes relaxar, descansar, e isso faz diferença.” O discurso é sereno, sem traços de vaidade. Depois de mais de vinte anos a subir ao palco, os australianos parecem ter atingido um raro ponto de equilíbrio entre ambição e humanidade.

Dúvidas restassem, os PARKWAY DRIVE que vamos ver na próxima quinta-feira estão em todo de forma e, como se isso não bastasse, o concerto de Lisboa será o primeiro da banda em território nacional desde 2017. E Luke não esconde o seu entusiasmo: “Pessoalmente, significa muito para mim. Adoro Portugal. Já estive aí muitas vezes a surfar — na Nazaré, em Peniche… Tenho uma ligação forte ao país. Há muito que queria regressar com a banda.” A ausência não foi intencional, explica: “Simplesmente não tem havido festivais que nos conseguissem encaixar ou oferecer as condições certas. Esta digressão é o início de uma nova etapa — queremos reconstruir essa ligação e voltar de forma regular.

A relação entre a banda e o público português sempre foi calorosa. Desde a estreia a 28 de Novembro de 2010, no Santiago Alquimista, em Lisboa, os PARKWAY DRIVE conquistaram uma base de fãs bastante fiel e, para muitos, este regresso será mais do que isso, será uma celebração adiada, um reencontro com uma banda que nunca deixou de ser parte da história recente do metal moderno.

E o que podem esperar os fãs portugueses desta nova digressão? Luke avisa: “O público já viu os vídeos, sabe o que estamos a fazer. A sala em Portugal não tem a escala de uma arena alemã, por isso temos de adaptar algumas coisas. Mas trazemos o mesmo espectáculo, o mesmo alinhamento. Vai ser, sem dúvida, o concerto mais louco que os fãs portugueses já viram dos PARKWAY DRIVE.” Mesmo que alguns elementos não possam ser reproduzidos — por limitações técnicas ou regras de segurança —, o guitarrista garante que a essência está toda lá.

O espectáculo é escalável. Tem de ser. Cada país tem regras diferentes, algumas salas não suportam certos riggings, outras não permitem certos tipos de pirotecnia. Mas adaptamo-nos sempre. O mais importante é manter o espírito do concerto.” A verdade é que quem assistiu à tour actual em países como a Alemanha, o Reino Unido ou França descreve algo entre concerto e ritual: enormes colunas de fogo durante a «Wild Eyes», plataformas que se movem como um proverbial navio em chamas, e Winston McCall em modo de gladiador, a comandar a plateia com a mesma autoridade de sempre.

Em Lisboa, tudo isso ganhará uma dimensão própria — mais próxima, mais visceral, mais humana. E é precisamente nessa fusão entre espectáculo e emoção que reside a maior força dos PARKWAY DRIVE: a capacidade de transformarem um concerto de metal num acontecimento que toca tanto o corpo como o espírito. Os bilhetes para o concerto custam 50€ (plateia) e 47€ (bancada), à venda em primeartists.eu e nos locais habituais.