PANTERA

PANTERA @ EVIL LIVE FESTIVAL | 28.06.2023 [reportagem + alinhamento]

29 anos após uma actuação inesquecível no, entretanto tristemente desaparecido, Pavilhão do Dramático de Cascais, os PANTERA regressaram a Portugal e deixaram o público totalmente rendido aos clássicos.

Sem que nada o fizesse prever, a 14 de Julho de 2022, mais de duas décadas após terem subido a um palco pela última vez, os lendários PANTERA surpreenderam o mundo da música pesada com o anúncio inesperado de uma digressão mundial. Entretanto, a banda fez-se à estrada na América do Sul e nos Estados Unidos, aterrando por fim na Europa já este ano para uma sequência de actuações em nome próprio e participações em festivais.

Ontem à noite — a primeira da edição inaugural do EVIL LIVE FESTIVAL —, regressaram finalmente a Portugal. 29 anos após uma actuação inesquecível no, entretanto tristemente desaparecido, Pavilhão do Dramático de Cascais, a nova iteração do grupo — com o guitarrista Zakk Wylde e o baterista Charlie Benante (dos ANTHRAX), a substituírem os malogrados ‘Dimebag’ Darrell e Vinnie Paul, ao lado do vocalista Phil Anselmo e do baixista Rex Brown — subiu ao palco da Altice Arena, em Lisboa, e apresentou um alinhamento de catorze temas que deixou o público totalmente rendido.

O quarteto deu o tiro de partida para esta muito esperada actuação com «A New Level» e, durante os 90 minutos seguintes, proporcionou a todos os presentes um proverbial desfile dos melhores temas que a formação “clássica” assinou enquanto se conseguiu manter junta.

Dúvidas restassem relativamente à validade deste regresso, foram rapidamente obliteradas. Fazendo jus ao que prometeram uns dias após terem anunciado as primeiras datas do regresso, aquilo a que assistimos foi a, mais que qualquer outra coisa, uma celebração do legado dos PANTERA e uma sentida homenagem aos irmãos Abbott.

Desde o primeiro momento, foram exibidas nos ecrãs do palco filmagens de ‘Dime’ e ‘Vinnie’, muitas delas retiradas dos home videos que apaixonaram toda uma geração de metaleiros. O Sr. Anselmo, por seu lado, mencionou-os em mais de uma ocasião e ainda nos pediu para aproveitarmos o momento por eles. Soou genuíno, pelo menos.

Se foi perfeito? Não foi. O próprio confirmou-o no final da actuação, com um bem-humorado “we all know this hasn’t been a perfect show”. No entanto, foi um final de primeira noite de EVIL LIVE FESTIVAL muito bem-passado, com os quatro músicos, todos em forma, a darem o seu toque a um alinhamento de sonho para qualquer fã de longa data.

Apoiado no melhor som deste primeiro dia da edição inaugural do EVIL LIVE FESTIVAL, cujo cartaz ficou completo com actuações dos ALTER BRIDGE, ELEGANT WEAPONS, VENDED e MAMMOTH WVH, o quarteto ex-texano suou as estopinhas para servir o melhor concerto possível. Pese alguma falta de aproximação aos solos de ‘Dimebag’ — ou será mesmo puro desleixo? —, Zakk Wylde soou, como não poderia deixar de ser, a Zakk Wylde e os seus pinch harmonics invocaram de forma arrepiante o espírito certo e ecoaram na sala como um apelo deliberado à glória de “outros tempos”.

A secção rítmica manteve-se tão compacta e impactante como nos lembrávamos, com Benante a fazer as vezes de Vinnie Paul com uma facilidade impressionante (é um dos bateristas mais talentosos, e injustamente ignorados, da sua geração) e Brown muito firme, a segurar o low end.

Se satisfez toda a gente? Provavelmente também não. Sabemos, por exemplo, que o “nosso” José Almeida Ribeiro queria ouvir “pelo menos uns” temas do «The Great Southern Trendkill». Não teve grande sorte, mas pelo menos ouviu um desse álbum e não foi para casa de mãos a abanar em dia de aniversário.

Certamente haverá mais gente por aí com queixas (afinal vivemos na época delas), sobretudo entre os indefetíveis, mas também não há como negar que conseguiram pôr de pé um alinhamento sólido, num inteligente registo de best of , sem tempos mortos e que ainda contou com dois apontamentos mais rebuscados, a «Suicide Note Pt. II» e a «Yesterday Don’t Mean Shit», igualmente recebidos de forma muito efusiva por uma plateia rendida ao poder dos PANTERA e da nostalgia.

Logo no início da actuação, ali ao nosso lado, outro parceiro dos media, dizia que a banda não estava a “soar a PANTERA”. Umas canções depois e estava convertido, a fazer air guitar com entusiasmo. Querem melhor exemplo de que, neste caso, ganharam mesmo as canções ao invés das imperfeições?

Verdade seja dita, com o fundo de catálogo carregado de temas incontornáveis no imaginário colectivo de qualquer metalhead que tenha crescido nos anos 90, os músicos não tinham sequer de fazer um grande esforço para deixarem toda a gente em êxtase. E foi o que se passou; com a «Mouth For War», com a «I’m Broken», com a «5 Minutes Alone», com a «Fucking Hostile» ou com uma celebratória «Walk» que, à semelhança do que se tem passado nos últimos concertos, contou com a presença de convidados – Max Cavalera, Wolfgang Van Halen e Mike DeLeon, o actual guitarrista solo dos SOULFLY.

Anselmo, o foco de quase todas atenções, teve o público na mão desde o primeiro momento e, vocalmente, apesar da idade e das inerentes limitações que o uso e abuso das cordas vocais acarreta, também não comprometeu e as únicas vezes que os músicos desaceleraram foram a pausa para homenagear uma vez mais os irmãos, com a projecção de imagens enquanto se ouviu um excerto da versão gravada de «Cemetary Gates», e uma versão bem trippy da «Planet Caravan», dos BLACK SABBATH.

Já no final, mantiveram o calor com um medley de «Domination» e «Hollow» e, em vez de fazerem a temida pausa para o encore, atacaram uma apoteótica «Cowboys From Hell».No final, ficou a nítida sensação de que, como os milhares de presentes na Altice Arena poderão comprovar, todas as perguntas levantadas anteriormente por fãs e especialistas relativamente a este regresso foram respondidas ali: os PANTERA voltaram e não mostraram nada além de respeito por ‘Dime’, por Vinnie ou pelo legado de uma das bandas mais icónicas dos anos 90.

PANTERA @ EVIL LIVE FESTIVAL
28.06. 2023 | Altice Arena, Lisboa

01. A New Level | 02. Mouth for War | 03. Strength Beyond Strength | 04. Becoming | 05. I’m Broken | 06. Suicide Note Pt. II | 07. 5 Minutes Alone | 08. This Love | 09. Yesterday Don’t Mean Shit | 10. Fucking Hostile | 11. Planet Caravan (Black Sabbath) | 12. Walk | 13. Domination / Hollow | 14. Cowboys From Hell