PALAYE ROYALE

PALAYE ROYALE: “Quando estivermos em palco, vão perceber que nunca viram um concerto de rock” [entrevista]

Em antecipação há muitíssimo aguardada estreia dos PALAYE ROYALE em Portugal, falámos com os irmãos Remington Leith e Sebastian Danzig para tentarmos perceber porque são uma das maiores e mais aplaudidas sensações surgidas no espectro do rock’n’roll alternativo nesta última década.

Naturais de Las Vegas, o vocalista Remington Leith, o guitarrista Sebastian Danzig e o baterista Emerson Barrett mudaram-se para Los Angeles atrás do sonho de se tornarem estrelas do rock quando ainda eram adolescentes e tiveram de suar as estopinhas até conseguirem estabelecer a sua reputação na cena local. Eventualmente viram-se lançados para o estrelato, actuando como cabeças-de-cartaz em arenas pelos Estados Unidos e pela Europa. Durante a última década, os PALAYE ROYALE já acumularam mais de meio bilião de streams e uma vasta legião de fãs fervorosos com a sua descarga de rock’n’roll injectado de adrenalina.

Neste aguardado regresso dos PALAYE ROYALE a solo europeu, os músicos norte-americanos vão trazer na bagagem o muito aguardado sucessor do aplaudido «Fever Dream», de 2022. «Death Or Glory», já o quinto álbum assinado pelo trio, teve origem numa bastante necessária pausa no caos gerado pela vida na estrada e dá seguimento ao processo evolutivo da banda, que continua a fundir arranjos extasiantes com melodias orelhudas. Com data de lançamento apontada para o final de Agosto via Sumerian Records, o disco afirma-se como o registo mais audaz e visionário que gravaram até à data.

Posso estar enganado, mas fico com a sensação de que estão constantemente em digressão. No Verão, andaram pela Europa e, no Outono, vão voltar outra vez…
Sebastian: Sim, estamos quase sempre em digressão. [risos] Tivemos um Verão de sonho, foi um período espectacular para nós. Fizemos uma série de festivais fantásticos e, no final da digressão, tocámos na Grécia e, muito sinceramente, acho que não podíamos ter terminado essa rota num sítio mais adequado. Tocámos num grande festival e agora, que penso nisso, foi surreal. Estavam 25.000 pessoas a ver-nos, e toda a gente sabia as letras.

Remington: Foi incrível… Mesmo! Honestamente, os meus Verões favoritos têm sido passados na Europa. Não há melhor que estares a tocar para um mar de pessoas que acabaram de sair à luz do sol à procura de se divertirem. E estás a tocar nos sítios mais bonitos do mundo. Tipo, não há nada melhor que isso. Não há outra forma de passar um Verão.

A vossa música apela a uma série de públicos diferentes. O que achas que os une?
Remington: Acho que a maioria das pessoas vem ver-nos para se divertir e, basicamente, esse é o segredo para o nosso sucesso. Podemos tocar em Omaha, no Nebraska, ou num lugar qualquer em Istambul, e as pessoas aparecem só porque querem divertir-se e passar um bom bocado. Nós não poderíamos estar mais felizes e mais orgulhosos dos nossos fãs. Eles aparecem e apoiam-nos, são barulhentos e solidários… Adoramo-los, porra.

Já andaram em digressão pela América do Sul? Ouço sempre histórias fantásticas de bandas que tocam por lá.
Sebastian: Sim, quando fomos ao México, foi uma experiência surreal. No entanto, de todos os sítios onde já estivemos, acho que os fãs no México, nos Países Baixos, na República Checa e na Turquia são mesmo os mais loucos. Basta entrarmos em palco e ficamos tipo, “caramba, o que é que se passa aqui?” [risos] Tocar em países onde nunca estivemos antes e ter milhares e milhares de pessoas a gritarem todas as letras quando nem sequer falam inglês, é uma experiência muito louca.

Essa é uma das maiores magias da música, certo? A forma como liga pessoas que nem sequer falam a mesma língua.
Remington: É, de facto, uma loucura, meu. No próximo ano vamos voltar à América do Sul e mal posso esperar por esses concertos. Estamos muito entusiasmados, porque já estivemos na Cidade do México e adorámos, mas esta vai ser a nossa primeira vez a expandirmo-nos a toda a América do Sul. È algo que temos tentado fazer há anos e anos, mas, por alguma razão, nunca conseguimos ir até lá. Vamos finalmente fazê-lo em 2025.

Antes disso, em Novembro, vão estrear-se também em Portugal.
Sebastian: Sim, vamos tocar finalmente pela primeira vez em Portugal, o que também nos deixa muito entusiasmados porque, infelizmente, tivemos de adiar o nosso concerto há uns anos atrás.

O que aconteceu nessa altura?
Sebastian: Foi apenas um caso de péssimo planeamento no que diz respeito a fazer chegar o nosso material ao destino. Lembro-me que, pura e simplesmente, não era possível, nem viável. Para nós, foi uma grande desilusão, porque inicialmente não tínhamos noção do que se estava a passar. No entanto, a dada altura percebemos que iamos ter de ir de avião e arranjar uma forma de fazer o nosso equipamento todo chegar a Portugal. E estamos sempre dispostos a fazer isso, mas quando chegámos ao ponto de puxar o gatilho e fazê-lo, foi muito difícil. Estávamos numa situação em que podíamos pôr todo o nosso esforço neste espectáculo e, mesmo assim, ele podia não acontecer.

Remington: Chegou a um ponto em que nos disseram que podíamos ir de avião, mas só teríamos as nossas guitarras acústicas. [pausa] Não me interpretem mal, nós estamos sempre dispostos a tocar, mas sentimos que devíamos aos fãs em Portugal um verdadeiro espectáculo de rock’n’roll. Portanto, queríamos ter 100% de certeza que, quando aí fossemos pela primeira vez, poderíamos dar o melhor espetáculo possível. E foi por isso que tivemos de esperar.

Uma coisa é certa: as pessoas vão estar duplamente entusiasmadas para vos ver.
Remington: Sim, exactamente. Vai ser a maior antecipação do mundo de um espectáculo de rock.

O que é que os fãs portugueses podem esperar dos PALAYE ROYALE nesta estreia em Portugal?
Remington: Acho que o pessoal em Portugal pensa que já viu muitos espectáculos de rock, mas, quando nos virem em palco, vão perceber que estavam enganados e pensar: “Que grande merda. Todos os concertos que vimos antes não eram verdadeiros concertos de rock. Isto sim, é um concerto de rock”. Portanto, é isso que podem esperar.

Como se costuma dizer por aqui, “quem fala assim não é gago”.
Remington: Nada de tretas. [risos]

Como vai ser o alinhamento? Vão tocar muita coisa do novo disco, o «Death or Glory»?
Sebastian: Vamos tocar alguns temas novos, mas os fãs em Portugal vão obviamente ouvir canções mais antigas também. Há muitos países em que ainda não estivemos e queremos agradar aos fãs que nos descobriram no primeiro disco ou no segundo disco. Queremos que possam ouvir todos esses temas com as quais conviveram durante tantos anos. Por outro lado, também estamos muito entusiasmados para tocar as canções mais ao vivo, por isso serão provavelmente oito a dez temas do «Death Or Glory» e, depois, umas oito músicas antigas.

Remington: Vamos certificar-nos de que será um grande espectáculo, muito variado. É engraçado, porque, nas nossas cabeças, ainda pensamos que estamos no segundo disco. Depois, ouço-te dizer que já temos cinco álbuns e fico tipo, “caramba, estamos a ficar velhos”. Acho que estamos sempre a esquecer-nos de quantas músicas temos. [risos] Temos três EPs e cinco álbuns completos. Tentar colocar tudo isso num espectáculo de hora e meia é muito difícil.

Passaram-se apenas um par de anos entre o «Fever Dream» e o «Death Or Glory». Sendo que estão permanentemente em digressão, escrevem enquanto estão na estrada?
Sebastian: Nós escrevemos na estrada, mas, quando fizemos o «Death Or Glory», já tínhamos dado por terminada a digressão do «Fever Dream». Internamente, operámos uma série de mudanças e a primeira coisa que decidimos foi que queríamos voltar ao estúdio e fazer um disco com a nossa essência. Fomos para a garagem de um amigo nosso e fizemos as primeiras músicas… No primeiro dia escrevemos logo a «Death Or Glory» e a «Pretty Stranger».

Remington: Nessa altura, já tínhamos também em carteira algumas das ideias que deram origem à «Showbiz», à «Ache in My Heart» e à «Mr. Devil». É claro que esses temas não estavam totalmente prontos no aspecto da banda, mas foi só uma questão de lhes dedicarmos algum tempo e ficaram prontos num ápice. Depois gravámos com Matt Squire e o álbum ficou pronto muito rapidamente.

O «Death Or Glory» foi escrito numa altura em que estavam a lidar com uma montanha-russa de emoções na vossa vida pessoal, sobretudo depois de terem perdido a vossa mãe. Que impacto é que isso teve no álbum?
Sebastian: Ela só recebeu o diagnóstico quando estávamos a terminar as duas últimas músicas do álbum, por isso só descobrimos o que estava a passar realmente quando já tínhamos acabado de gravar o álbum. Tudo o que se passou teve mais impacto nos dois EPs que lançámos entretanto, o «Songs For Sadness» e o «Wednesday Afternoon». Todos esse temas foram escritos já depois de termos recebido o diagnóstico da nossa mãe, mas foram gravados depois de acabarmos o «Death Or Glory».

Aposto que vai ser muito emocionante tocar essas músicas ao vivo, noite após noite…
Sebastian: Para ser muito sincero, não sei se vamos fazê-lo com muita frequência nos tempos mais próximos. Ainda só tocámos a «Wednesday Afternoon» uma vez porque eu comecei a chorar em palco… Foi muito difícil tocá-la, por isso acho que só vamos fazê-lo de vez em quando. Quero que passe algum tempo e talvez se torne um pouco mais fácil… Não sei.

É uma espécie de enigma, não é? Por um lado, é suposto a música ser honesta e vir do coração; por outro, às vezes é tão crua e tão honesta que é difícil de tocar.
Sebastian: Acho que é por isso que o «Death Or Glory» funciona tão bem para nós. Ao contrário dos temas que escrevemos para o «Songs For Sadness» e para o «Wednesday Afternoon», que são tão honestos e emotivos, as canções do álbum são divertidas e toda a gente se diverte quando as tocamos.

Olho para a plateia e toda a gente está a sorrir. São canções de rock felizes, e é disso que estamos a precisar neste momento. Nesse sentido, acho que foi bom termos escrito o álbum na altura o escreveos, e por o termos lançado quando o fizemos, depois da morte da nossa mãe, porque, pelo menos, tínhamos coisas positivas para tocar.

Remington: A «Wednesday Afternoon» pode bem ser a melhor música que já escrevemos, mas é difícil de tocar ao vivo porque contém muita emoção crua. E leva-nos de volta ao lugar onde estávamos quando a escrevemos. Pessoalmente, acho que músicas como essa são necessárias, porque são as melhores músicas que se podem escrever. É incrivelmente honesta, aberta e vulnerável.

Algo que não parece faltar aos PALAYE ROYALE é inspiração para escrever canções.
Sebastian: A escassez de músicas novas é algo coisa que nunca nos preocupa muito. Acho que, só para o «Death Or Glory», acabámos por reunir 80 e tal ideias. Obviamente, reduzimos isso para 12, mas nunca temos falta de ideias. Estamos sempre a escrever e a criar, e este foi acabou mesmo por ser o álbum mais positivo e mais divertido que fizemos. Acho que, naquela altura, estávamos a precisar disso nas nossas vidas. E estou muito orgulhoso deste álbum, sem dúvida.

Tinham 80 e tal ideias para canções? Este álbum poderia facilmente tornar-se no vosso «Use Your Illusion».
Remington: Sim, podíamos facilmente lançar seis álbuns só com as ideias que tivemos durante o processo de composição do «Death Or Glory».

Não gravaram num estúdio convencional, pois não?
Sebastian: Nós não gostamos muito de gravar em estúdios profissionais porque trabalhamos com horários muito estranhos. Não temos um horário típico, das nove às cinco. Todos os nossos álbuns foram gravados da mesma forma: alugamos uma casa no Airbnb, montamos o nosso equipamento lá durante um mês… Ou até sermos expulsos e fazemos tudo de novo.

Esse método permite-vos estarem totalmente imersos no processo, não é?
Remington: Sim, e tivemos uma grande equipa a ajudar-nos. Conseguimos instalar-nos num Airbnb e fazer com que parecesse um estúdio, mas o ambiente era muito mais confortável. O relógio não está a contar, sabes?Não temos de estar constantemente a pensar no que estamos a pagar por uma diária num estúdio… E, claro, ajudou a casa ter uma piscina. [risos] Íamos dar uns mergulhos todos os dias, fizemos um disco e, ao mesmo tempo, desfrutámos também de mais uma experiência agradável. Não devia ser sempre assim?

Supostamente, sim. Acham que os estúdios profissionais são um mais estéreis do que aquilo que vocês querem para a música dos PALAYE ROYALE?
Sebastian: De certa forma, queremos fazer as coisas como o que o rock’n’roll costumava ser. No outro dia, estava a ver um documentário sobre os Velvet Underground e.. É uma loucura pensar que, quando essas bandas viviam em Nova Iorque, os músicos que andavam em digressão podiam ficar no Chelsea Hotel e conviver com o grupo de artistas que moravam ali. Hoje em dia, já não é possível fazer isso… Só podes pagar uma renda em Manhattan se fores uma pessoa das finanças, percebes o que quero dizer? Ou se fores uma pessoa de Wall Street.

Nesse aspecto, não há como negar que se perdeu uma certa magia.
O mundo da música, tal como era, tinha esta nuance fixe de que podíamos ser uma banda de rock, criávamos umas canções ao pôr do sol, pagávamos umas centenas de dólares e conseguimos fazer um grande disco com os nossos amigos e um produtor. Esses dias já lá vão. Hoje em dia tudo isso é muito caro, tornou-se muito corporativo e muito mais difícil. A arte não devia ser uma coisa assim tão extenuante, tão financeira. Nós estamos a fazê-lo por amor, por criatividade, e é por isso que tentamos resgatar um pouco desse espírito.

Feitos de partes iguais de brit-pop, glam rock e art-punk, os PALAYE ROYALE são uma das mais aplaudidas e badaladas sensações surgidas no espectro do rock’n’roll alternativo nesta última década e vão estrear-se em Portugal com uma actuação única, agendada para o dia 1 de Novembro, no Cineteatro Capitólio, em Lisboa. Os bilhetes para o concerto custam 30€, à venda nos locais habituais e no site da Prime Artists.