Os suecos PAIN OF SALVATION e os nacionais APOTHEUS deram uma verdadeira lição de como fazer metal progressivo de qualidade superior na renovada República da Música.
No bairro de Alvalade, a nova República da Música começa a ganhar vida. Para quem ainda não conseguiu passar por lá, a sala faz lembrar a O13, de Tilburgo, mas numa escala bastante mais pequena, com degraus que permitem visibilidade de qualquer lugar na sala. O som, tendo em conta o que se ouviu neste espectáculo, parece ser bom comparando quando comparado com outras salas, mas vamos ver como correm os próximos concertos. Para já, fica um começo promissor.
A noite arrancou com nacionais APOTHEUS, que têm na bagagem o seu mais recente álbum, com o título «Ergo Atlas», editado em Outubro do ano passado através da Black Lion Records. O cuidado com que a banda se apresenta ao vivo, mostra maturidade e uma clara vontade de voos mais altos, com os ecrãs e luzes próprias que adornam o palco a mostrarem um investimento e esforço por parte destes músicos para se fazerem notar dos demais.
Como seria de esperar, a banda de metal progressivo de Paços de Ferreira, apostou forte (e bem) nos temas do seu mais recente registo, com «Shape And Geometry», «Firewall» e «Cogito» a afirmarem-se como pontos de óbvio destaque. Seguiram-se então dois temas de «The Far Star»,de 2019: «Caves Of Steel» e «Redshift». Durante a actuação, Miguel Andrade foi agradecendo ao público presente e, especialmente, a um fã mais dedicado que tem uma letra (ou seria o logo?) da banda tatuado no corpo.
O regresso a «Ergo Atlas» deu-se com «Ergo Bellum» e «March Of Redemption». O som manteve-se bem coeso, assim como a banda que se mostrou pronta para dar o tal salto mais alto que lhe andamos a vaticinar, e a hora que estiveram em palco terminou com «The Unification Project» e «A New Beginning».
No entanto, o prato forte da noite eram os suecos PAIN OF SALVATION, que materializavam o seu muito aguardado regresso a Portugal para promover o aclamado «Panther», editado em 2020 via InsideOut Music. Foi ao som de «Accelerator» que Daniel Gildenlöw subiu ao palco juntamente com Johan Hallgren na guitarra, Léo Margarit na bateria, Vikram Shankar nos teclados e Per Schelander no baixo. Ao longo da noite, a banda foi navegando entre o mais recente trabalho e temas de «In The Passing Light Of Day», «The Perfect Element, Pt 1» e «Remedy Lane», sendo que, deste último, foi apenas retirado um tema, «Beyond The Pale».
Misturando passagens pesadas com momentos mais melódicos e harmonias vocais bem afinadas, numa mistura perfeita de rock e metal progressivo, os PAIN OF SALVATION mostraram-se no seu melhor. Sempre comunicativo – e com sentido de humor… errrr, nórdico – Daniel foi interagindo com o público e puxando pelos fãs. Não que fosse preciso, na verdade, porque a entrega foi total desde que se ouviu o primeiro acorde.
Mesmo assim, o timoneiro dos PAIN OF SALVATION fez a brincadeira de ver qual dos lados da sala gritava mais alto e, na recta final, explicou como funciona o encore: a banda sai de palco, o público grita pela banda e os músicos regressam a palco. Como é óbvio, o público aderiu e fez-se ouvir bem alto como, de esto, tinha sido apanágio a noite toda. Foi nesta altura que a banda apresentou (mais um) tema longo, «ICON», do mais recente «Panther».
De seguida, o encore começou com «Falling» e o teclado de Vikram a cair no chão passados poucos minutos depois do início do tema, mas o músico continuou a tocar no chão até conseguirem voltar a colocar o teclado no sítio, num momento mereceu fortes aplausos e muitas risadas dos seus companheiros de banda. A terminar, ouvi-se a emotiva e longa (cerca de 15 minutos) «The Passing Light Of Day», que Daniel dedicou à sua mulher e que, no final, ia levando Johan às lágrimas. Em suma, foi uma grande noite, com duas grandes bandas e numa sala que promete mais momentos felizes aos amantes de boa música ao vivo.