OZZY OSBOURNE

OZZY OSBOURNE e a ressurreição de «OZZMOSIS»

Hoje, três décadas depois, celebramos o renascimento criativo que devolveu OZZY ao trono do heavy metal.

Em 1991, Ozzy Osbourne jurou que «No More Tears» seria o seu derradeiro álbum de estúdio. O título parecia anunciar o fim de uma era, e a digressão que se seguiu — significativamente baptizada No More Tours — soou como um epitáfio. O público acreditou. Afinal, o “Príncipe das Trevas”, exilado dos BLACK SABBATH e consagrado como figura-símbolo do heavy metal, parecia finalmente pronto para se retirar e viver o resto dos seus dias longe dos palcos. Mas poucos artistas nasceram para a quietude doméstica, e Ozzy foi, desde sempre, um dos menos talhados para ela.

Pois bem, passaram-se apenas alguns anos até o veterano britânico perceber que a vida fora do caos era insuportavelmente monótona. “Percebi que estar em casa a ver o History Channel o dia todo era mil vezes mais aborrecido do que enfrentar multidões ensurdecedoras”, recordaria alguns anos mais tarde. O vazio de uma reforma precoce levou-o novamente aos estúdios e, no dia 23 de Outubro de 1995, nascia o LP «Ozzmosis», o sétimo disco da sua carreira a solo — e aquele que, ironicamente, o traria de volta ao topo.

«Ozzmosis» foi o sucessor direto do álbum ao vivo «Live & Loud», de 1993, e marcou o reencontro de Ozzy com velhos aliados e novos cúmplices musicais. O baixista Geezer Butler, companheiro de armas dos tempos de BLACK SABBATH, juntou-se à formação ao lado do guitarrista Zakk Wylde, do baterista Deen Castronovo e do teclista Rick Wakeman, numa combinação improvável, mas criativamente frutífera.

Durante meses, circularam rumores de que Ozzy estava a trabalhar com Steve Vai e Bob Daisley, mas essas colaborações não chegaram a materializar-se — ainda que Steve Vai tenha deixado a sua marca numa nova versão de «My Little Man». Outras parcerias curiosas emergiram destas sessões: o icónico Lemmy, dos MOTÖRHEAD, assinou «See You On The Other Side», uma das baladas mais melancólicas da carreira de Osbourne, escrita em conjunto com Wylde e Butler.

Gravado entre Paris, nos Guillaume Tell Studios, Nova Iorque, nos Electric Lady Studios, e Woodstock, nos Bearsville Studios, o álbum contou com a produção meticulosa de Michael Beinhorn, conhecido pelo seu trabalho com os RED HOT CHILI PEPPERS e os SOUNDGARDEN. O resultado foi um disco mais limpo e moderno, mas ainda fiel ao ADN de Ozzy — uma mistura de riffs pesados, melodias quase pop e letras mergulhadas em culpa, loucura e transcendência.

As faixas «Perry Mason» e «Thunder Underground» capturaram a essência do hard rock vigoroso que o tornara célebre, enquanto «Ghost Behind My Eyes» e «My Jekyll Doesn’t Hide» exploravam o seu lado mais introspectivo e sombrio. Já «I Just Want You» e «See You on the Other Side» mostravam a faceta emocional e vulnerável de um homem que, aos 46 anos, parecia estar finalmente a fazer as pazes com os seus próprios demónios.

Para alguns críticos, o «Ozzmosis» soou excessivamente polido — um produto pensado para as rádios e para o público norte-americano. Para outros, foi precisamente essa combinação de peso e melodia, fúria e introspecção, que o transformou num dos discos mais equilibrados da discografia de Ozzy. Ainda assim, lançado quatro anos após o anúncio da sua “reforma”, o «Ozzmosis» estreou directamente para o quarto lugar da Billboard 200, tornando-se um dos maiores sucessos comerciais da carreira de Ozzy. O disco foi certificado platina ainda em 1995 e atingiu o estatuto de dupla platina em Abril de 1999 — uma façanha que o consolidou como uma das vozes mais resilientes do metal moderno.

O álbum foi acompanhado pela digressão Retirement Sucks Tour, uma ironia explícita que não passou despercebida aos fãs. A formação ao vivo incluiu Joe Holmes na guitarra (recrutado quando Wylde parecia prestes a juntar-se aos GUNS N’ ROSES), Robert Trujillo no baixo e Mike Bordin (FAITH NO MORE) na bateria — uma verdadeira constelação de talento a serviço do eterno anti-herói do rock.

Em 2025, trinta anos depois, o «Ozzmosis» mantém-se como um ponto de viragem. Foi o último grande álbum de estúdio dos anos 90 de Ozzy, antes da viragem do milénio e da era da exposição mediática em The Osbournes. Se «Blizzard Of Ozz», de 1980, o apresentou como uma força renovada após a saída dos BLACK SABBATH, o «Ozzmosis» provou que, mesmo após a promessa de uma despedida, o seu espírito era indomável.

Mais do que um simples “regresso”, o disco é um testemunho da capacidade de Ozzy Osbourne para renascer das cinzas — vezes sem conta — e transformar a sua própria vulnerabilidade em combustível criativo. Num tempo em que o metal lutava por espaço entre o grunge e o alternativo, o «Ozzmosis» lembrou ao mundo que o “Príncipe das Trevas” ainda continuava soberano, com a mesma mistura de insanidade, humor e emoção que sempre o definiu. Hoje, passadas três décadas, canções como «Perry Mason», «I Just Want You» e «See You On The Other Side» soam como capítulos de uma autobiografia cantada — um diário de sobrevivência em forma de riffs.