Há mais de duas décadas, Dave Mustaine já tinha declarado o fim dos MEGADETH — e surpreendeu ao voltar com força redobrada.
O anúncio sobre o último LP e a derradeira digressão dos MEGADETH caiu como uma bomba no mundo do metal. Ao declarar que o 17.º álbum da banda, previsto para o início do próximo ano, será o último da sua carreira, e que a tour que o acompanha marcará a despedida global da lendária banda, o Sr. Mustaine colocou — pela primeira vez de forma inequívoca — um ponto surpreendente final na história de um dos nomes mais influentes do thrash. No entanto, para os fãs de longa data, a sensação de déjà vu torna-se algo inevitável — porque esta não é a primeira vez que o guitarrista e vocalista anuncia (ou ameaça) o fim dos MEGADETH.
O precedente mais marcante remonta a 2002. Nessa altura, os MEGADETH viviam um período de alguma instabilidade criativa e comercial, mas ainda mantinham um núcleo sólido de seguidores e relevância no cenário metálico. Foi por esses dias que Dave Mustaine sofreu uma grave lesão no nervo radial do braço esquerdo, causada por uma compressão nervosa enquanto dormia. O diagnóstico foi devastador: perda temporária da capacidade de tocar guitarra, o seu principal instrumento e, como sabemos, a base do som dos MEGADETH.
Sem certezas de recuperação, Mustaine não hesitou em fazer um anúncio que, para muitos fãs, soou definitivo: a banda estava terminada. “A minha carreira chegou ao fim. É algo que nunca pensei ter de dizer”, declarou na altura, numa mensagem marcada por um tom sombrio e resignado. O impacto foi imediato — não apenas para os seguidores mais acérrimos, mas também para a indústria discográfica, que via desaparecer, de forma abrupta, um dos quatro pilares do thrash metal, ao lado de METALLICA, SLAYER e ANTHRAX.
Como se por obra do destino, o momento coincidiu com o lançamento de «Rude Awakening», primeiro álbum ao vivo da banda norte-americana, que rapidamente passou a ser encarado como um epitáfio não planeado. O disco, disponível no player em cima, captava muito bem a intensidade dos MEGADETH em palco, mas, inevitavelmente, ficou eternamente associado à ideia de despedida — como é lógico, toda a digressão prevista para o promover foi cancelada, e a incerteza sobre o futuro tornou-se total.
Para muitos fãs, aquele era, efectivamente, o fecho de um ciclo iniciado em 1983, quando, após a saída conturbada dos METALLICA, Dave Mustaine fundou os MEGADETH e deu início a uma carreira que, em menos de uma década, entregaria clássicos como «Peace Sells… but Who’s Buying?», de 1986, «Rust In Peace», de 1990 e «Countdown To Extinction», de 1992.
No entanto, e para surpresa, geral, aquilo que parecia um final definitivo revelou-se só um hiato forçado. Determinado a recuperar a sua capacidade de tocar guitarra, Dave submeteu-se a um rigoroso processo de fisioterapia que se prolongou durante meses. Lentamente, voltou a ganhar destreza no seu braço e na mão, até estar novamente em condições de tocar. Em 2004, surpreendeu o mundo com «The System Has Failed», um álbum que começou por ser pensado como um projecto a solo, mas que acabou mesmo por ser lançado com a marca MEGADETH.
Este regresso, embora inesperado, foi celebrado com enorme entusiasmo e marcou o início de uma nova fase na carreira da banda. Durante os anos seguintes, os MEGADETH viveram um período de revitalização criativa, com LPs como «United Abominations», de 2007, «Endgame», de 2009, e «Dystopia», de 2016, a conquistarem elogios tanto da crítica como do público. No entanto, como sabemos, este episódio não foi o único obstáculo na trajectória do grupo.
Mudanças constantes de formação, conflitos internos e problemas de saúde de Mustaine — incluindo um diagnóstico de cancro na garganta em 2019, do qual recuperou a 100% — nunca chegaram para impedir a continuidade do projecto. Ao contrário, parecem ter reforçado a imagem de resiliência, mostrando uma banda sempre capaz de regressar com força renovada.
Talvez exactamente por isso, o novo anúncio de despedida foi recebido com sentimentos mistos. Por um lado, o tom cerimonial das palavras de Dave Mustaine, carregado de gratidão e reflexão, dá a entender que, desta vez, o encerramento é planeado e definitivo. “A maioria das bandas não consegue acabar no topo. Nós podemos. E é isso que vamos fazer”, disse o músico, sublinhando que esta saída de cena não é motivada por limitações físicas ou comerciais, mas por uma escolha consciente de fechar o ciclo em alta.
Por outro lado, os fãs mais veteranos não esquecem que já viveram um “fim” em 2002 e que, no mundo do rock e do metal, despedidas anunciadas nem sempre são finais absolutos. A história recente da música pesada está cheia de regressos inesperados, e poucos se surpreenderiam se os MEGADETH voltassem a reunir-se no futuro, mesmo que apenas para ocasiões especiais.
Independentemente do desfecho, o impacto dos MEGADETH no metal é inegável. Desde a fundação, em Los Angeles, corria 1983, a banda não só ajudou a definir o thrash metal como também expandiu os seus limites técnicos e melódicos. Dave Mustaine e companhia criaram um estilo de guitarra marcado por riffs complexos, solos intrincados e composições que equilibram velocidade e precisão, influenciando diversas gerações de músicos. Clássicos como «Holy Wars… The Punishment Due», «Hangar 18» ou «Symphony Of Destruction» continuam a ser referências obrigatórias; mais do que isso, os MEGADETH mantiveram, ao longo de quatro décadas, uma base de fãs leal e global, capaz de encher arenas em qualquer parte do mundo.
Se o anúncio se confirmar e a banda encerrar realmente a sua história após a próxima digressão, este será o primeiro adeus feito por vontade própria, e não apenas por força das circunstâncias. Será também uma oportunidade única para celebrar um percurso de mais de 40 anos, marcado por altos, baixos e, acima de tudo, uma persistência rara. Para Mustaine, será o momento de encerrar um capítulo que começou com a sua expulsão dos METALLICA e que, ironicamente, acabou mesmo por transformá-lo num dos guitarristas e compositores mais influentes da história do metal. Para os fãs, este será o fecho de uma era — embora, como a própria história da banda já provou, no metal nada é definitivo até ser definitivo.















