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OPETH: Mikael Åkerfeldt fala sobre a canção que escreveu “só para irritar os fãs”

Com regresso a Portugal confirmado para Junho, o Sr. Mikael Åkerfeldt reforça a ideia de que os OPETH reúnem todos os traços característicos das grandes bandas progressivas.

A longevidade e a evolução dos suecos OPETH no panorama do metal progressivo foram marcadas por mudanças audaciosas e, desde que deu os primeiros passos, o grupo liderado por Mikael Åkerfeldt tem um historial de transições estilísticas que desafiam as expetativas do público. Contudo, poucas revelações foram tão directas quanto a recente admissão do vocalista/guitarrista sobre o tema-título de «Sorceress», de 2016. Segundo o músico, a introdução foi concebida propositadamente para irritar os fãs da banda.

O timoneiro dos OPETH abordou este curioso detalhe numa entrevista ao TV War, onde discutiu o seu processo criativo e a inclinação para contrastes musicais inusitados. Segundo a transcrição, o músico explicou que aprecia a fusão entre ideias complexas e outras que considera deliberadamente “estúpidas”, reforçando a ideia de que, para ele, a grandeza de uma composição não reside necessariamente na sua sofisticação, mas sim no equilíbrio entre elementos intrincados e momentos aparentemente absurdos.

“Uma óptima ideia não precisa ser complexa ou elaborada… Não para mim, pelo menos. Gosto de ter o que chamo ‘riffs estúpidos’ ao lado de uma peça experimental muito elaborada. Gosto de ambos os aspectos da música”, explicou o sueco. A partir desta perspectiva, a abertura de «Sorceress», que mistura fusão jazz com uma abordagem inesperada, serviu um propósito muito claro: desorientar e frustrar uma parcela do público dos OPETH.

“Na «Sorceress», começamos com uma espécie de jazz fusion. E isso foi pensado para irritar os fãs, para eles pensarem que íamos embarcar numa odisseia de jazz ou algo desse género. Imaginei as pessoas a porem o disco a tocar e ficarem tipo, ‘Ah, é esta merda outra vez. Desliga isso’, revelou o estratega dos OPETH. A afirmação ganha ainda mais peso quando o entrevistador menciona que perderam muitos ouvintes no Spotify devido aos primeiros dez segundos da faixa. Sem rodeios, Åkerfeldt confirmou: “Esse era o plano, na verdade. Só queria irritar as pessoas.”

Portanto, se há algo que esta revelação confirma é que os OPETH, uma das mais recentes confirmações para o cartaz da edição deste ano do EVILLIVƎ FESTIVAL, não estão nada interessados em agradar a todos. Pelo contrário, parece haver um certo prazer em testar os limites da paciência do público —  um traço característico das grandes bandas progressivas.

Esta não é a primeira, e provavelmente não será a última vez que os OPETH desafiam a paciência da sua base de fãs. Desde a viragem estilística que começou com o «Heritage», de 2011, a banda afastou-se do death metal progressivo que definiu álbuns clássicos como o «Still Life» ou o «Blackwater Park», com os músicos a explorarem sonoridades mais próximas do rock progressivo do 70s. Esta transição foi recebida com reacções mistas, mas o grupo manteve-se firme no seu percurso artístico.

De resto, Åkerfeldt nunca escondeu o seu gosto por contrariar expectativas. As suas influências abrangem desde a brutalidade do death metal até às atmosferas delicadas de uns Camel ou de uns King Crimson, e esse ecletismo reflecte-se na discografia da banda. A ironia nisto é que, mesmo que a parte inicial da «Sorceress» tenha sido pensada como uma “provocação”, acaba por ilustrar na perfeição a identidade musical dos OPETH, que sempre foram imprevisíveis e avessos a concessões.

Os OPETH passaram as últimas três décadas a crescer a todos os níveis, transformando-se num dos nomes mais influentes da sua geração e acumulando um corpo de trabalho que revela uma devoção enorme pelo conceito de progressão estética e um fervoroso desejo de busca pela perfeição. Sinónimo de evolução, são já um dos nomes mais consensuais no espectro em que se movem.

Do death metal sueco infundido de romantismo dos primeiros discos, à mistura perfeita de agressividade e melodia de «Still Life» e «Black Waterpark», passando pela criatividade dos registos mais recentes – o último «The Last Will And Testament» marcou inclusivamente um retorno a sons mais agrestes –, ao longo dos últimos mais de trinta anos, o inimitável Mikael Åkerfeldt, estratega e principal compositor do grupo, tem mostrado saber exactamente como remodelar o seu veículo artístico sem sacrificar o espírito criativo e aventureiro que o caracteriza desde a formação em 1990.