OBSCURA, SKELETAL REMAINS e GOROD arrasaram Lisboa com três doses de death metal sem concessões.
10 de Fevereiro de 2025, segunda-feira, dia da semana pouco habitual para eventos deste calibre ou para grandes “brutalidades”, mas o LAV – Lisboa Ao Vivo foi palco de uma noite memorável para os fanáticos de death metal nas suas vertentes mais proeminentes. Com alinhamento de luxo, que reuniu três forças do género na actualidade, GOROD, SKELETAL REMAINS e OBSCURA subiram ao palco e, cada uma à sua maneira, assinaram uma exibição de destreza instrumental e peso esmagador que não deixou quaisquer dúvidas sobre a vitalidade de que a tendência goza mais de três décadas após ter tomado originalmente forma.
Não seria sequer preciso grande palavreado para descrever o que se passou ali. Depois de um breve percalço inicial, os GOROD deram início à noite com uma descarga de brutalidade técnica e precisa; os SKELETAL REMAINS mostraram como o OSDM continua a “partir tudo” e os OBSCURA encabeçaram o cartaz com uma óptima lição de death/thrash complexo e intenso. Ponto óbvio: esta paragem única da Silver Linings Tour em Portugal acabou por mostrar duas abordagens distintas ao death metal; de um lado, a vertente mais técnica, e do outro, o death old school. Ainda que ambas tenham méritos, a verdade é que continua a haver algo de inegavelmente poderoso na abordagem mais clássica, mas… Já lá vamos.
Os franceses GOROD subiram ao palco da Sala 2 do LAV – Lisboa Ao Vivo a mostrarem com vigor a sua abordagem altamente técnica ao género. Infelizmente, o concerto começou com silêncio quase total na sala e um contratempo inesperado. A banda entrou em cena e atirou-se de imediato ao ataque técnico que caracteriza o seu som, mas algo não estava bem — pois não, porque o PA estava mudo. A secção rítmica e os riffs desenrolavam-se no palco, a saírem só dos monitores, mas o público pouco ou nada conseguia ouvir.
Atrás da mesa de som, o técnico parecia perdido na tentativa de corrigir o problema. Felizmente, o percalço foi resolvido (com a ajuda de alguém que nos pareceu ser o tour manager) e, assim que o som começou a sair das colunas, ficou evidente que a banda está em excelente forma. Como seria expectável, o alinhamento centrou-se no álbum mais recente, «The Orb», com destaque para o tema-título, «We Are The Sun Gods» e «Breeding Silence», mas também tocaram material mais antigo, como a «Bekhten’s Curse» (na abertura, injustamente prejudicada pela situação do PA).
Pelo caminho, encheram a sala com uma combinação de velocidade, complexidade rítmica e melodias intrincadas. Cada riff e cada batida foram executados sem mácula, o público respondeu com entusiasmo (relativo) à descarga sonora e os músicos, sólidos como uma rocha, demonstraram que o seu death metal continua a evoluir, transformando o contratempo inicial num mero detalhe de uma actuação intensa.
ALINHAMENTO GOROD:
01. Bekhten’s Curse | 02. Breeding Silence | 03. The Axe Of God | 04. We Are The Sun Gods | 05. The Orb | 06. Disavow Your God
Enquanto o tech death provavelmente nunca vai deixar de impressionar os mais atentos pela destreza e complexidade técnica que os músicos imprimem ao seu material, há sempre — e sim, esta noite não foi uma excepção à regra — momentos em que a necessidade de mostrar proficiência acaba por roubar impacto à música, tornando-a mais cerebral do que propriamente visceral. Já o death metal tradicional, quando bem executado, continua a não precisar de floreados nem de tempos super estranhos para ser esmagador; as bases são sólidas, os riffs têm peso e um groove avassalador, a agressividade não perde tempo a ir directa ao assunto — sem merdas.
Provando isso mesmo, a mudança de registo foi evidente assim que os norte-americanos SKELETAL REMAINS tomaram conta do palco. Se os GOROD apostam sobretudo em arranjos ultra complexos e mudanças de tempo vertiginosas, os SKELETAL REMAINS são o oposto: death metal cru, directo e sem adornos desnecessários. Com um groove verdadeiramente demolidor em todos os momentos certos, a dose de agressividade necessária sem quaisquer distracções, e uma execução implacável fizeram com que temas colossais como «Void Of Despair», «Beyond Cremation» e «Tombs Of Chaos» soassem ainda mais devastadores que nas suas versões de estúdio.
Convenhamos, os SKELETAL REMAINS até tinham uma boa desculpa para não darem um concerto tão bom como o que deram. A troca recente de baterista poderia bem ter causado alguma instabilidade no grupo, mas nada disso se fez sentir. Se alguma coisa, a banda soou ainda mais coesa do que da última vez que passou por cá, no SWR. Coesos, confortáveis e ENORMES, os quatro músicos de Los Angeles não precisaram de fazer um grande esforço para reforçarem a sua identidade bem assente no death metal old school.
E sim, de facto, não estão ali a servir nada de revolucionário, mas há algo de muito especial e apelativo na forma como equilibram brutalidade e estrutura, sem precisarem de grandes artifícios técnicos. Sim, são só carne e batatas, mas são uma boa carne (muito bem grelhada) e umas boas batatas bem fritas, que não precisam de mais adornos para funcionar — e os SKELETAL REMAINS sabem exatamente como manter a receita eficaz. O público, claro, reagiu com headbanging constante e um moshpit enérgico, provando que, quando é assim, bem-feito, o death metal na forma mais tradicional continua a ser uma das maiores forças do género.
ALINHAMENTO SKELETAL REMAINS:
01. Void Of Despair | 02. Relentless Appetite | 03. Beyond Cremation | 04. To Conquer The Devout | 05. Devouring Mortality | 06. Unmerciful | 07. …Evocation (The Rebirth) | 08. Tombs Of Chaos
A tarefa de fechar a noite coube aos alemães OBSCURA, que, cabeças de cartaz desta Silver Linings Tour, trouxeram consigo o novo álbum «A Sonication», acabado de lançar e rodeado de alguma controvérsia (a LOUD! falou com Steffen Kummerer sobre as acusações de plágio). Ora bem, apesar das más línguas (que se danem!), o músico alemão e companhia atiraram-se de cabeça ao seu death técnico fortemente influenciado pelo thrash. E atenção porque, quando se fala em thrash, estamos a pensar mais nestes SADUS do que nestes ANTHRAX — o que significa que a rapidez e a complexidade estão sempre no limite, sem espaço para qualquer descontração ou momentos mais acessíveis.
Com um alinhamento cuidadosamente desenhado para abranger as duas primeiras décadas da carreira da banda, sem tempo a perder com introduções extensas ou discursos desnecessários, os OBSCURA abriram a actuação com «Forsaken», numa combinação de melodia e agressividade, um contraste que se tornaria um dos principais pilares da performance dos alemães.

















Sem pausas, a banda mergulhou em «Silver Linings» e «Evenfall», dois temas onde a destreza dos músicos ficou evidente, especialmente na fluidez das mudanças de tempo e nos solos fulgurantes. Depois, com «Emergent Evolution», os OBSCURA mostraram porque são considerados mestres na fusão entre brutalidade e sofisticação.
O público, dividido entre o headbanging e a contemplação quase hipnótica da técnica dos músicos, reagiu com entusiasmo, mantendo a energia em alta para a devastação rítmica de «In Solitude» e «Devoured Usurper». O momento alto da noite chegaria com «Akróasis», talvez um dos temas mais marcantes da discografia dos OBSCURA. A estrutura complexa, recheada de dinâmicas que oscilam entre a melodia e a brutalidade extrema, deixou muita gente de queixo caído.
«The Sun Eater» e «The Anticosmic Overload» mantiveram o nível de intensidade elevado, com a bateria a demonstrar uma precisão quase mecânica e os riffs a surgirem como lâminas afiadas, que cortavam o ar com cada batida. «A Valediction» e «When Stars Collide» funcionaram como a despedida perfeita para a fase principal do concerto e o encore fez-se com a incontornável «Septuagint», encerramento épico que consolidou tudo o que os OBSCURA mostraram ao longo da noite: técnica exímia, peso q.n. em claro, a entrega imaculada.












ALINHAMENTO OBSCURA:
01. Forsaken | 02. Silver Linings | 03. Evenfall | 04. Emergent Evolution | 05. In Solitude | 06. Devoured Usurper | 07. Akróasis | 08. The Sun Eater | 09. The Anticosmic Overload | 10. A Valediction | 11. When Stars Collide | 12. Septuagint