Em Setembro, o Cais do Sodré despede-se do MUSICBOX, um espaço que ajudou a reinventar a noite da cidade e a projectar novos talentos.
No próximo mês, o Musicbox, emblemático bar e sala de concertos do Cais do Sodré, em Lisboa, vai fechar portas de forma definitiva, encerrando quase duas décadas de actividade que moldaram a vida cultural e nocturna da capital. A notícia já está a chegar a todos os parceiros e artistas envolvidos na programação, que têm vindo a ser informados sobre o cancelamento dos eventos previstos para os próximos meses.
Aberto em 2006 por Gonçalo Riscado e Alex Cortez — baixista dos RÁDIO MACAU e figura histórica da noite lisboeta, também cofundador do lendário bar Johnny Guitar —, o Musicbox nasceu numa altura em que o Cais do Sodré vivia um processo de transformação, deixando para trás a sua imagem decadente e afirmando-se como um dos centros nevrálgicos da cultura urbana. Instalado num espaço subterrâneo sob os arcos da Rua Nova do Carvalho, rapidamente ganhou reputação como um lugar de experimentação artística, onde a música se cruzava com as artes visuais, a performance e a clubbing culture.
Durante quase duas décadas, o palco do Musicbox acolheu centenas de concertos, festas e DJ sets, reunindo um cartaz que oscilava entre a música emergente e nomes consagrados. Por ali passaram incontáveis artistas internacionais de passagem por Lisboa, mas também muitos e muitos projectos nacionais que encontraram no espaço um aliado para crescer e chegar a novos públicos.
De bandas indie e colectivos de hip hop, passando por propostas de jazz contemporâneo, electrónica, rock alternativo, punk e metal, o Musicbox tornou-se uma montra de diversidade musical. A importância histórica do Musicbox na cena musical portuguesa não se resume ao alinhamento de nomes ou ao número de eventos realizados.
O espaço foi efectivamente um dos pilares de um movimento que, na viragem da década de 2000 para 2010, reposicionou Lisboa no mapa da música ao vivo e da cultura nocturna europeia. Ao mesmo tempo que muitos outros espaços de pequena e média dimensão iam desaparecendo, o Musicbox manteve-se resiliente, servindo de rampa de lançamento para novos talentos e de porto seguro para quem procurava uma programação exigente e aberta a linguagens diversas.
Recorde-se ainda que a Cultural Trend Lisbon (CTL), empresa proprietária da sala, está actualmente envolvida no renascimento da Casa Capitão, espaço cultural localizado no Beato, cuja reabertura está agendada para o dia 19 de Setembro. Embora não tenha sido confirmada qualquer relação directa entre o encerramento do Musicbox e a aposta neste novo projecto, a coincidência temporal levanta algumas questões sobre uma possível reorientação de estratégia.
De momento, o site oficial do Musicbox ainda apresenta programação até 13 de Setembro, data que poderá marcar a última noite de funcionamento; portanto, estas semanas finais prometem ser vividos de forma bem intensa, num misto de nostalgia e celebração, tanto para o público como para os artistas. O encerramento deixa um vazio que dificilmente será preenchido. Não se trata apenas da perda de um local para ver concertos ou dançar até de madrugada, mas do desaparecimento de um lugar onde se forjaram memórias, se estabeleceram ligações e se consolidou uma identidade musical e cultural única.















