O concerto dos NINE INCH NAILS em Manchester trouxe de volta canções dos álbuns «Pretty Hate Machine» e «The Fragile» que não eram tocadas há décadas.
Numa noite que deixou os fãs em êxtase e os mais atentos em estado de choque, os NINE INCH NAILS subiram ao palco da Co-op Live, em Manchester, no Reino Unido, com um dos alinhamentos mais surpreendentes da sua carreira recente. A banda liderada por Trent Reznor e Atticus Ross continua a surpreender na recém-lançada Peel It Back World Tour, e o segundo espectáculo desta digressão mundial ficará certamente marcado na memória como um dos mais emotivos e historicamente significativos da sua trajectória.
A noite arrancou com a primeira interpretação ao vivo de «A Minute To Breathe», faixa composta originalmente em 2016 para a banda sonora do documentário Before The Flood, um projecto ambiental colaborativo encabeçado pelos próprios Reznor e Ross. A escolha, inesperada, marcou logo o tom da noite: uma celebração da evolução sonora dos NINE INCH NAILS, mas também um reencontro com o passado.
O primeiro grande momento de nostalgia surgiu com «That’s What I Get», canção retirada do seminal «Pretty Hate Machine», de 1989, agora completamente re-imaginada. Esta foi a primeira vez que a música foi tocada ao vivo desde 1991, num regresso aguardado há mais de três décadas. A nova versão, mais contida e melancólica, demonstrou como os NINE INCH NAILS não se limitam a revisitar o passado — transformam-no.
Outro momento alto da noite foi o regresso do tema-título do duplo e ambicioso «The Fragile», editado em 1999, que não era interpretada ao vivo desde 2009. Também aqui, a canção surgiu renovada, com um pouco mais de textura e com uma abordagem quase cinemática, reflexo do trabalho que Reznor e Ross têm desenvolvido em bandas sonoras nos últimos anos. A canção foi particularmente bem acolhida por um público que respondeu com silêncio reverente e aplausos prolongados.
Ainda durante o concerto, os fãs foram brindados com uma versão remisturada de «Branches/Bones», retirada do EP «Not The Actual Events», de 2016. A nova encarnação da canção foi criada em colaboração com o produtor e DJ Boys Noize, responsável pela abertura da digressão, e introduziu uma pulsação mais electrónica e dançável ao original sem perder o peso industrial característico da banda.
Visualmente, o espectáculo dividiu-se entre dois palcos distintos: um marcado por projecções e jogos de luz em tecido transparente, quase como uma instalação artística em movimento; e outro, montado em formato in-the-round, que permitiu uma proximidade rara entre banda e público. Esta alternância não só reforçou a teatralidade do concerto, como serviu de metáfora visual para a dualidade entre introspeção e confronto que tem marcado a discografia dos NINE INCH NAILS.
Recorde-se que a Peel It Back World Tour é a primeira digressão dos NINE INCH NAILS desde 2022 e já se anuncia como uma das mais especiais da sua carreira. Ao invés de se apoiarem exclusivamente nos êxitos mais conhecidos, Trent Reznor e companhia optam por um alinhamento arriscado e emocionalmente carregado, resgatando faixas esquecidas, reinventando-as e mostrando que, mesmo após décadas de carreira, ainda conseguem surpreender e provocar.
A rota europeia da tour prolonga-se até meados de Julho, com concertos marcados em cidades como Manchester, Londres, Colónia, Milão, Paris ou Madrid, antes de seguir rumo à América do Norte. Pelo caminho, os NINE INCH NAILS subirão ao palco do NOS Alive, num dos momentos mais aguardados do festival português.
Ainda que não tenha havido qualquer anúncio formal, a digressão confirma o regresso dos NINE INCH NAILS à estrada — e por extensão, ao contacto direto com os fãs nacionais, que há anos aguardam uma nova actuação da banda no país. Com Trent Reznor e Atticus Ross também envolvidos na criação da banda sonora do filme «TRON: Ares», o ano promete ser especialmente fértil para os seguidores do universo NIN.
