Noite especial no RCA Club – e não só por ser um dos primeiros concertos num Portugal sem uso de máscara obrigatório. Especial porque era a primeira vez que os NIHILITY desciam do Porto até Lisboa, e também porque era a oportunidade de apresentarem ao público lisboeta o seu segundo álbum, o excelente «Beyond Human Concepts». E ainda mais especial porque a acompanhar vinham duas excelentes bandas, os IN VEIN e os INHUMAN ARCHITECTS que tiveram a tarefa de preparar o terreno para os cabeças-de-cartaz.
A noite começou oficialmente com os IN VEIN, que entraram em palco quando ainda a sala se estava a compôr em termos de assistência. Entraram em silêncio, com a música ambiente a calar-se, e prepararam os instrumentos para dar início a uma actuação intensa como já é apanágio da banda nortenha, com o seu death metal moderno e cheio de groove. A primeira novidade foi o facto de se apresentarem com Nelson Pinto dos Odd Switch na voz em vez de António Rocha. A entrega e fúria vocal não deixaram de estar ao nível que se esperava e ainda tivemos direito a ouvir o novo tema «Witness» (do qual demos conta ontem e que podem conferir aqui) que é o aperitivo para o próximo EP «Fragments». O foco foi obviamente no álbum de estreia «Resurrect» de 2017 e ainda houve oportunidade para uma inspirada e bem recebida cover da «Roots Bloody Roots» dos Sepultura.
De seguida, era a vez dos INHUMAN ARCHITECTS, banda da casa que se viu assolada por alguns problemas técnicos que tornaram moroso o início do concerto, com algumas paragens mais prolongadas entre as músicas. De qualquer forma, isso não impediu que o seu deathcore dinâmico tivesse um impacto positivo entre o público – ao que também ajudou a forma como Fábio Infante puxou constantemente pelo público. O vocalista informou o público que, com quase um ano de «Paradoxus» em cima, este ciclo de promoção ao álbum de estreia chegava agora ao fim com a banda voltar-se para a composição de novos temas para o lançamento de um EP no final do ano. Entretanto fica para a memória a excelente prestação de temas como «Vortex» e «Interplanetary Suffering», dois dos mais marcantes da referida estreia discográfica.
Para o final, o momento aguardado por todos, a estreia dos NIHILITY em Lisboa. A banda apresentou-se em formato quarteto – devido o segundo guitarrista Afonso Gomes se encontrar actualmente na Irlanda – mas não deixou de impressionar pelo seu poderio metálico. Quer individualmente quer colectivamente, esta banda deixa marca, pela forma como agarra uma actuação e como agarra um público – que desde o primeiro instante estava rendido à evidência de que esta é mesmo uma das propostas de topo do metal extremo nacional. Desde a performance de luxo de Luís Moreira (que, note-se, já estava a tocar pela segunda vez nesta noite depois de ter tocado com os IN VEIN), à destreza e técnica de Renato Barbosa, que além assegurar ritmo e solo de forma brilhante na guitarra, ainda dava mais dinâmica vocal à música com as suas intervenções, e sem esquecer a solidez rítmica e brilhantismo de Miguel Seewald no baixo e, claro, de Mário Ferreira, um enorme frontman que esteve comunicativo e exemplar no seu papel.
As atenções dividiram-se entre os dois álbuns que a banda têm, mas obviamente que o destaque foi para «Beyond Human Concepts», a novidade que ao vivo ainda soa mais essencial que em disco. Brutalidade que temas como «Will To Power», «The Religious Dogma» ou o tema-título evidenciaram ainda mais. Tal como os temas como «Thus Spake The Antichrist». As expectativas nunca poderiam corresponder ao elevado nível de qualidade com o qual fomos brindados. Convém apenas referir que tal nível de qualidade merecia mais público entre assistência. Não é que o que esteve presente não tenha feito a festa e não tenha devolvido a dobrar toda a brutalidade e excelência musical deixada em palco pelos NIHILITY. Apenas fica a sensação de que não só a banda merecia uma casa cheia como também qualquer fã de música extrema que se preze deveria ter levado com a autêntica lição de death metal blasfemo que foi dada no palco do RCA Club. Felizmente que todos os que estavam lá foram para casa com a sensação de terem visto um dos grandes concertos que a sala lisboeta recebeu este ano.