O primeiro longa-duração dos ARMNATT, «Darkness Times», editado em 2014, passou algo despercebido, ou quase. Já em 2020, com «Dense Fog» e a ajuda da Signal Rex, o trio luso saltou para a ribalta e foi referido de forma efusiva no meio black metal. Seguiu-se «Eternal Flame», em 2021, a que sucede agora o novo «Immortal Nature». Tenebrous, Velnius e Murmuhr preparavam-se para mostrar ao vivo, no Invicta Requiem Mass, o trabalho de 2020. O fim do mundo obrigou à mudança de planos e atrasou a divulgação do disco. Na realidade, os álbuns desta gente revelam-se ecos do passado, pois como Velnius revelou `LOUD!, por alturas da edição de «Eternal Flame», a banda já tinha começado a preparar o passo seguinte. “O «Dense Fog» começou a ser escrito em 2006, foi sendo trabalhado e só foi gravado em 2020, mas o «Darkness Times»… Nem me recordo quando o comecei”, diz o músico. Tecnicamente, sabe-se que o projecto começou a lançar discos em 2013, com um split com Tmärrdhë. “Apesar do split, em 2013, tudo começou com o «Darkness Times». Não ligo muito à data em que é gravado, mas quando é escrito e sei que isso aconteceu por volta dos anos 90”, contrapõe. Já o álbum seguinte, “começou a ser escrito em 2006 e o «Eternal Flame» em 2013”, mas só foi gravado sete anos depois. Mesmo sem tocarem ao vivo, os discos têm-se sucedido e a evolução sonora está patente. O lado cru aparece reforçado com mais cuidado de produção e até mais musicalidade, como provam os primeiros segundos de «Immortal Nature» ou a totalidade de «Eternal Entity», uma faixa mais melancólica. Existe, no entanto, um lado mais brutal, até com veia algo punk, bem patente em «Imponent Ruins». Na verdade, «Immortal Nature» poderá não ser o registo que mais impacto causa no fã de raw black metal, mas é certamente o mais variado e aquele em que se sente ter sido depositada mais atenção.
Numa entrevista anterior, referias ter vários trabalhos escritos e haver um atraso das gravações em relação a isso. Em que ponto fica «Immortal Nature»?
Pode dizer-se que ARMNATT começou comigo a escrever e, posteriormente, a colocar voz e a tocar para o meu gravador de cassetes. Isso aconteceu com o «Darkness Times», por volta dos anos 90. Estes hiatos, uns maiores que outros, sempre se repetiram em todos eles. O primeiro álbum só foi gravado muito mais tarde, já em 2013, por força das circunstâncias. Seguiu-se o «Dense Fog», que comecei a escrever em 2006 e que só começou a ser gravado em 2019. Estes dois primeiros álbuns, apesar do tempo desde que foram escritos até as gravações iniciarem, foram gravados muito rapidamente, pois foram muito poucas as intervenções posteriores. Intervenções que aconteceram nestes dois últimos álbuns em que foram, por exemplo, adicionados riffs em algumas músicas ao que estava escrito. A gravação do «Dense Fog» foi especialmente rápida, e muito fiel ao que escrevi e gravei inicialmente. Mais tarde, fiz o «Eternal Flame» em 2013 e as gravações foram iniciadas em 2020. O hiato foi diminuindo, mas o «Immortal Nature» passou pelo mesmo processo de sempre. Desta vez passou menos tempo, mas o disco também começando por ser escrito em 2020, iniciando-se as gravações em 2021.
Qual a razão deste título?
Devido à temática inspirada em todas as vertentes do que é considerado Natureza, como algo mais forte do que a vontade e, portanto, Imortal.
Há mais cuidado na produção, resultando tudo menos lo-fi, com a bateria muito bem captada. Esta mudança foi feita de propósito ou resultou só da experiência acumulada? Confesso que a bateria é o que mais me “bate” na escuta do disco mas, mesmo assim, optas por colocar a voz lá ao fundo… Uma marca pessoal?Costumo escrever a bateria em simultâneo com as cordas e a voz. Todos devem estar equilibrados, com o volume certo para se adequarem ao que se pretende. A bateria é parte de um todo, onde tudo tem a sua função. Onde está previamente definida a parte onde é a batida x, a y, a z, e os breaks para atingir um objectivo, mas que por vezes pode evoluir também nos ensaios conforme o baterista. Ainda hoje, quando escuto algumas partes de músicas, recordo-me e identifico, devido ao seu cunho, o Xhuthulho, que foi o primeiro baterista, o Hael, o Hecate e o Tenebrous, mesmo nas partes que não tiveram nenhum tipo de intervenção ao que escrevi inicialmente.
Devido à pandemia, que praticamente acompanhou as edições dos três anteriores trabalhos, praticamente não tocaram ao vivo. Como vai ser agora? Como conciliar todos os discos num espectáculo?
Agora vamos tocar muitos temas desses.
Neste trabalho, da intro ao último tema, sente-se haver uma viagem, uma jornada, mas ao mesmo tempo não se sente o disco como conceptual.
Considero que o tema é mais do mesmo, mas não é igual, existem outros temas que remetem para este, e isso acontece tanto neste como em álbuns anteriores. Não se trata de ser conceptual, os dez temas estão todos relacionados por uma ordem especifica e até poderá dizer-se que estão encadeados.
O que está agora na calha, face à velocidade de edição?
Estamos a ensaiar muito como se quer, quer a preparar o INVICTA REQUIEM MASS VI, quer a iniciar as gravações do quinto álbum, que já foi ensaiado e pré-gravado.