NEGRO MAIS PROFUNDO #10

O disco de estreia dos COLD AND DECEASED, trio que se divide entre Albufeira, Silves, Faro e Évora, teve data de saída em 2021. O formato foi apenas digital, tendo agora sido feita uma edição física em formato CD. “Hoje em dia existem tantas facilidades em promover e espalhar a música com as plataformas online que esse foi o nosso primeiro alvo”, revelam à LOUD! “Primeiro, lançámos em digital para obter feedback, tentar perceber a aceitação dos ouvintes e críticos, sendo que ao mesmo tempo fomos apalpando terreno em relação a editoras, mas é aí que estão as dificuldades”. De acordo com o grupo, “ou és amigo, ou amigo do amigo, ou então torna-se muito difícil de te destacares no mundo da música para as editoras”. O destaque num programa de rádio e na plataforma de conteúdos por ele gerida, granjeou esse reconhecimento que a banda considera “fundamental para que a Miasma of Barbarity Records” entrasse em contacto. Os lyric vídeos de temas como «Slayers Of The Silver Chains» ou «Unleash The Hordes From Hell» também ajudaram na promoção. Ângelo, na bateria, Kenneth, nas guitarras, baixo, teclas e ainda letrista, juntamente com o vocalista Sérgio R., formam o trio de um projecto que “já tem uns bons anos, mas só recentemente é que pegámos neste trabalho”. É por isso que, para os registos, 2020 é o ano oficial de nascimento.

Pela altura da criação original, “o estilo que predominava a nível de som era Dimmu Borgir, Dark Funeral, Mayhem, Marduk, Graveworm, God Dethroned, Cradle of Filth, entre muitos outros”. Um “misto de sonoridade”, segundo os mesmos, e dentro do qual foram “mais as diferenças musicais entre todos que ajudaram a ir nesta direcção”. A “direcção” a que se referem é a do black/death metal, eventualmente sinfónico, com como se escuta em «Prophecies Unbound». Todos os músicos já tiveram projectos anteriores, talvez o mais sonante seja mesmo DEEP ODIUM, onde Kenneth e Ângelo se encontraram. “Deep Odium acabou em 2006 devido a um furto que houve na nossa casa de ensaios”, como explicam, onde “casa” é mesmo o termo, pois os ensaios decorriam “aos Sábados e Domingos todo o dia num anexo no meio de um laranjal”. O incidente é mais uma adversidade no, já difícil, trilho dos músicos. “Um dia, o Kenneth e o Ângelo chegaram lá e a janela de metal tinha sido arrombada com um pé de cabra”, recordam. “Desmontaram os altifalantes dos nossos cabinets, levaram guitarras, baixo, entre outras coisas. Éramos putos e o dinheiro era pouco e contado. Não conseguimos repor o material e tivemos de fazer uma pausa”. Mais tarde, os cinco elementos reúnem-se. “Um ou dois anos depois, o Nuno, guitarrista, propôs o regresso, mas com um som diferente, virado apenas para a vertente brutal. Tínhamos assim encontrado uma divergência, três a favor e dois contras”. Da normal divergência de estilos que surge com a evolução, “nasceram os Cold And Deceased e os Amputate. Os Cold And Deceased deram continuidade ao antigo Deep Odium e os Amputate seguiram o seu caminho no death metal”.

Mesmo assim, o arranque não se deu logo naquele momento, pois “em 2011 o Kenneth foi para o Canadá, regressou em 2018, e foi aí que juntou o Ângelo para continuar os projectos pendentes”. Mais tarde, o Sérgio é “recrutado, para destacar a voz e assim solidificámos todo este trabalho”. A profunda transformação, leva ao rompimento com o nome DEEP ODIUM, e passam então a COLD AND DECEASED. “O nome tem muito a ver com a nossa sonoridade e com o que escrevemos”, dizem eles. “Cold está relacionado com os nossos riffs gélidos em alguns temas e Deceased com a temática das letras. Basicamente, Cold And Deceased está espelhado no ambiente criado à volta deste trabalho”. Em torno dos músicos surgem outros projectos, embora tenham “feito uma coisa de cada vez”, como narram. “O Kenneth formou Mortualium com o baixista dos Deep Odium em 1995”, juntos “gravaram uma demo em 2000 que nunca chegou a sair” e essa “foi uma das razões para que Mortualium parecesse incompleto”. O projecto foi recuperado em 2018, quando “o Kenneth se juntou com o Ângelo e outros convidados e recomeçaram este projecto para gravar um álbum”. Nesse encontro de músicos, “fizeram nove temas, mas no final decidiram gravar apenas uma demo de quatro músicas”. De momento “não há nada planeado para Mortualium”, pois “o plano era lançar um trabalho e foi concluído”. O núcleo criativo vê “Mortualium como um elemento muito importante na sonoridade de Baltum que sairá a seguir”.

É após estar pronta a maqueta de «World Conquest», editada em 2021, que o duo se vira para os COLD AND DECEASED. “Os temas eram antigos, escrevemos novas letras, fizemos uns ajustes aqui e ali; Ângelo na bateria, Kenneth nos instrumentos, Sérgio na voz, e correu tudo como planeado”. Editado em Novembro de 2021, o disco recebeu edição, como já referido, pela Miasma of Barbarity Records. Já depois disso, avançaram para outro projecto, intitulado BALTUM, antigo nome romano para Albufeira. O projecto possui “uma vertente mais melódica que os Cold And Deceased, mais abrangente que Mortualium”, num som que classificam como “rápido, lento, melódico, agressivo e com groove”. Neste momento em gravações, a banda conta com Kenneth, na guitarra, baixo e teclas, Ângelo, na bateria, Sérgio, na voz, e Marco, na guitarra. Do outro lado, “o Sérgio está activo em onze projectos neste momento, todos com expressão apenas em formato digital”. “Tudo é feito remotamente não há qualquer conflito com os Cold and Deceased para o caso de voltarmos a gravar”, explicam. “Malevolent Design terá para o ano, em princípio, o primeiro álbum após o EP”, homónimo e datado de Março deste ano. “Entretanto irão sair alguns EPs dos outros projectos assim como também alguns álbuns”, pois “hoje em dia é fácil estar activo em múltiplas frentes, após o «City of Devora» para The Devouring Void, foram surgindo algumas propostas e ele foi expandindo as suas participações dentro do black e do death metal”.

Nos COLD AND DECEASED, o black tem um peso maior que o death, com esta componente a surgir mais por se tratar também de música extrema. “As nossas diferenças em termos de gosto musical dentro do metal deram origem a estas composições black/death, mas é normal predominar o black; até porque essas são as origens dos Deep Odium”, confirmam. “Nos Deep Odium a composição passava por todos, o Nuno e o Kenneth eram aqueles que traziam os riffs e compunham a música nos ensaios”, revelam. “O Kenneth criava a parte black e a parte melódica e o Nuno as partes death e o black obscuro. A química entre eles era cinco estrelas, encaixavam perfeitamente e a nível de banda era tudo muito democrático, todos opinavam e participavam nas decisões”. Algarvios, descrevem a cena local, hoje, como “terrível”. “Ainda nos lembramos dos anos 90, em que tínhamos bandas como Inhuman, In Tha Umbra, Arachula, Sortilege, Teasanna Satanna, Mortualium, Belowitch, Vanquish, Mind Lock, Nekrocult of Kronos, Deep Odium e tantas outras. Hoje poucas restam. Apareceram algumas, mas a falta de espaços para tocar não ajuda em nada, a falta de artistas para tocar também é notória. Infelizmente a situação é má. Por sua vez, penso que com a pandemia muitos projectos surgiram e talvez apareçam bandas novas. Tenho também esperança que estes jovens do amanhã tragam o metal de volta. Penso que a moda é um ciclo, e que hoje é só hip hop e pop, e que num breve futuro virá a moda do preto e do metal”. Fica a esperança, mesmo que em negro, para estes três músicos que se revelam mais prolíferos que seria de esperar.