ANTIQUUS SCRIPTUM é projecto de um só homem, mais propriamente um one man show deste antigo elemento dos FIRSTBORN EVIL, com passagem por outros grupos nacionais como THE INVERTEBRATE, SYSTEMATIC COLLISION ou PSYCOMA. Certamente que este projecto – na realidade pode falar-se em dois projectos distintos, mas já lá se irá – não estará na lista de muitos como sendo black metal, mas essa conversa dificilmente terá espaço aqui. A ideia formou-se em 1998, logo que Jorge Magalhães terminou um ciclo de três anos com os FIRSTBORN EVIL. As primeiras maquetas datam logo de 1999, mas o primeiro longa-duração foi editado há duas décadas atrás, em 2002, com o título «Abi In Malam Pestem». O sucessor chegou depois em 2008, intitulado «Immortalis Factus», e é a partir daqui que se inicia uma catadupa de edições que só tem vindo a aumentar nos últimos anos. Por esta altura, são já sete disco de longa-duração, outras tantas compilações e uma caixa. A isto tem de se juntar ainda quinze splits e seis EPs. Só na presente década foram sete os títulos editados. «Magnis Tenebris Obscurantum» é um dos mais recentes, editado em Março passado pela Vegvisir Distribution, que classifica o trabalho como symphonic black/folk/thrash metal. Isto sucede após uma declaração pública de Sacerdos Magus, o mentor do projecto, em que anunciava que iria desistir da cena musical. “O projecto nunca parou, são apenas pausas esporádicas, que nós, os elementos das bandas e criadores, por vezes somos forçados a fazer, por uma razão ou por outra, mas está cá sempre o “bichinho” da música, que não nos deixa parar definitivamente”, revela o músico.
É ele próprio que afirma que os ANTIQUUS SCRIPTUM são “um projecto; não é uma banda, isso é verdade”. “Não posso considerar Antiquus Scriptum uma banda por diversas razões, mas talvez as mais importantes sejam o facto de o projeto não ter quaisquer elementos fixos na sua formação a não ser eu, e serem sempre muitos músicos convidados, nacionais e internacionais, que colaboram nos álbuns, EPs e splits e também, talvez, porque não toco ao vivo.” De facto, a lista de convidados é sempre variada, num “projecto influenciado pelo legado de bandas como Bathory, que como toda a gente sabe, nunca se apresentou ao vivo, ou de bandas como Burzum e Darkthrone, que não tocam ao vivo”. O vocalista, e também responsável por cordas e bateria em quase todos os temas, situa o desabafo nas redes: “Em 2019, após a saída do álbum «Ahbra Khadabra», que acabou por ser lançado por uma editora russa, que não se esforçou, a meu ver, em promover adequadamente o disco, este acabou por não ter o impacto que eu desejava”. Segundo ele, o “álbum esteve prestes a sair pela editora nacional Alma Mater Records, mas o acordo acabou por não se concretizar e o disco acabou por ser lançado pela SoundAge Productions, na Rússia”, levando a que o músico, face ao mau trabalho promocional, ficasse “bastante triste e desiludido, na altura, por não ter lançado pela Alma Mater, que com certeza teria feito um trabalho muito superior e o registo teria de certo tido muito mais impacto”.
A este momento sucede a pandemia em 2020, criando condições que afastaram o músico “temporariamente dos leads eléctricos, só lançando material ambiental, durante esses anos e chegando mesmo a anunciar um hiato no percurso de Antiquus Scriptum, nessa altura, nas redes sociais, até ao regresso, agora, com o «Magnis Tenebris Obscurantum», mas parar, o projeto nunca parou, de facto”, explica-nos. É um ciclo que se inicia com os vinte e oito minutos de «All The Things About To End Are Beautiful…», ainda em 2020, e prossegue até ao split «Nos Nati Sumus De Tenebris», com XERIÓN, TENEBROSITAS e TALOG. Pelo meio, ficam «In Silentio Noctis» e «Canticles & Melodies From An Ancient Lore», todos de 2021. Entretanto, nos primeiros cinco meses de 2022, foram editados já três EPs, «V Império (A Batalha Dos Reinos», «Magnis Tenebris Obscurantum» e «At The Ancient Gates Of Uncertainty». “Isto de ter bandas e projectos, editar discos e tudo o mais, é um velho sonho que tenho desde os meus 13, 14 anos, quando andava no secundário, e que se tornou tão forte, que persiste até aos dias de hoje e mais além. A força vem disso mesmo, desse velho sonho adolescente que não nos deixa ‘crescer’ e em que ambicionamos fazer parte de uma banda, tocar, escrever, cantar, gravar… A inspiração maior vem principalmente da música metal dos anos 80 e 90, a minha escola e onde encontro a maior fonte de inspiração para o meu trabalho, aliados ao prazer da leitura, principalmente de história e mitologia antigas, que gosto muito e onde encontro frequentemente inspiração para escrever e compor temas para Antiquus Scriptum”.
Como referido, e uma das razões para os inúmeros títulos, o projecto tem uma vertente mais eléctrica e outra mais acústica. Isso “deve-se ao facto de ter sempre usado desde início muitas pontes e interlúdios nos discos, para embelezar os mesmos e, de alguma maneira, ‘aliviar’ a carga eléctrica, por vezes tão violenta, rápida e agressiva, dos temas metal. Chegou a um ponto, em que essas pontes e interlúdios eram tantos que acabei por lançar dois disco só com essas intros, que foram o «… Recôndito é o Nocturno Covil do Misantropo… (Tristeza & Honra em IV Capítulos)», de 2012 e «O Vale de Guadalquivir», de 2017 e a partir daí, comecei a compor e escrever com a ajuda de vários músicos convidados, nacionais e lá de fora, também, para material paralelo, unicamente de folk, dark ambient & dungeon synth e assim nasceu esta costela ambient de Antiquus Scriptum, à parte do black metal, que no entanto continuo a executar, obviamente”. Catalogar o projecto de black metal é, porventura redutor, embora Sacerdos Magus afirme, desde logo, que “a minha paixão pelo black metal é inegável e não tenho como ‘esconder’… Mesmo antes de Antiquus Scriptum, desde que formámos os Firstborn Evil, em 1995, que a minha devoção ao black metal é permanente e é, sem dúvida, o fio condutor de toda a base de Antiquus Scriptum, de facto. Colocar num saco, não, pois são inúmeras as influências reveladas na musicalidade do projecto e este é deveras “eclético”, para ser catalogado apenas de uma coisa só, mas o fio condutor, é sem dúvida o black metal feito durante os anos 90, principalmente da vertente nórdica, embora A.S. respire também muito thrash e death metal clássicos e claro, folclore, ambient, música medieval, neoclássica e por aí a fora”. Outra das vertentes que se encontra na sua vasta discografia são as versões, quase sempre de grupos de black metal. “São um cliché frequente e quase uma imagem de marca de Antiquus Scriptum ao longo dos anos e nos diversos álbuns. Gosto muito de fazer roupagens e versões de outras bandas nos meus discos. De revelar sempre material original do projeto, em cada trabalho, mas faço sempre muitas covers de clássicos de metal, e não só, para abrilhantar os trabalhos e tenho mesmo um álbum só de versões, que é o «Recovering The Throne (Tribute Album)», de 2014”, recorda Magus. “Nunca paro de fazer mais e mais versões de temas de outras bandas, com os quais cresci e de que gosto muito, sendo estas importantes influências na também criação de temas originais para o projeto. O «Magnis…» não é excepção e, mais uma vez, é abrilhantado por três interlúdios que são covers de piano de peças dos Enslaved, Amorphis e Dissection, respetivamente”.
O «Magnis Tenebris Obscurantum» serviu de motor para esta entrevista. Trabalho com o paraguaio Danicide, frontman de NOISECIDE, que, “em conversa na net, me mostrou os cinco temas que acabaram por sair no EP, ainda instrumentais”, lembra Magus, “eu gostei muito e perguntei se não os queria ceder a Antiquus Scriptum e fazer assim um trabalho juntos, convite que ele aceitou. Foi uma questão de escrever as letras e gravar as vozes e misturar tudo, sendo a primeira vez que um músico, neste caso internacional, tomou conta de todo o instrumental do disco, ficando eu unicamente a cargo das letras e vocalizações do trabalho, foi assim que nasceu o «Magnis…», um trabalho a meu ver engraçado, fácil de se ouvir e bastante “catchy” e fiquei muito satisfeito, no fim, de ouvir o resultado final”. Entretanto, previsto para 27 de Junho, está já «At The Ancient Gates Of Uncertainty», novamente pela Vegvisir Distribution. ANTIQUUS SCRUPTUM é um caso de proliferação do black metal.