Eram 20:30 quando o trio australiano THE OMNIFIC subiu ao palco da sala lisboeta. Praticante de música progressiva instrumental, o grupo – que conta na formação com dois baixistas e um baterista – mostrou que nem sempre é preciso uma guitarra e voz para se fazer música de qualidade. Assinaram uma actuação curta, focada no seu mais recente longa-duração, intitulado «Escapades», mas suficientemente coesa para nos deixar com curiosidade e vontade de continuar a seguir a banda mais de perto. Seguiram-se os nossos vizinhos de Andorra PERSEFONE, praticantes de um death metal progressivo e bastante técnico, que causou muita agitação entre o público, com direito a um circle pit e tudo. Apesar de trazer na bagagem a novidade «Metanoia», a banda focou boa parte da actuação em «Spiritual Migration», editado em 2017, de onde retirou quatro temas para a actuação, com «Flying Sea Dragons» logo a abrir e «The Majestic Gaia» a encerrar as hostilidades. Filipe Baldaia, guitarrista da banda, falou ao público e explicou: “sou natural do Porto, estou em Alvalade e sou do Benfica”. No que toca a futebol, não sabemos se vai fazer muitos amigos assim, mas no que à música diz respeito, parece ter feito amizades para a vida neste ocasião.
O prato forte da noite eram, obviamente, os australianos NE OBLIVISCARIS. Antes de iniciar esta digressão pela Europa, a banda tinha anunciado a ausência do vocalista Xen devido a problemas pessoais, mas os restantes músicos requistaram os préstimos de James Dorton (dos Black Crown Initiate e The Faceless) e ficou muito bem servidos, apesar de se sentir falta da presença misteriosa e imponente do frontman habitual. Além disso, houve mais uma novidade para esta rota dos australianos pelo velho continente, com o baterista Kevin Paradis a fazer a sua primeira digressão com o grupo. Nada que tenha, no entanto, beliscado a sua prestação, coesa, cerebral e demolidora em partes quase iguais. O espectáculo teve início com «Intra Venus» e tornou-se desde logo notório que a longa duração dos temas é uma das características predominantes na música da banda liderada por Tim Charles, que com o seu violino e voz limpa, dá toda uma outra dimensão ao metal progressivo do sexteto de Melbourne. Seguiram-se três temas do mais recente «Exul» – a saber, «Equus», «Misericorde I – As The Flesh Falls» e «Misericorde II – Anatomy Of Quiescence». Sempre muito comunicativo e claramente satisfeito pela plateia que tinha pela frente, Charles comandou os procedimentos com uma vitalidade impressionante. De seguida, fizeram mais uma visita ao disco «Urn», com o tema «Libera (Part I): Saturnine Spheres» e interpretaram o único tema de «Citadel» incluído no alinhamento, «Devour Me, Colossus (Part I): Blackholes». Antes do encore, nova passagem pelo último disco com o tema «Graal» e, para terminar a noite em grande, presenteraram os fãs com «And Plague Flowers The Kaleidoscope». No final, aquilo a que assistimos foi uma actuação irrepreensível dos NE OBLIVISCARIS e, no ar, ficou o desejo de não termos de esperar mais oito anos para os voltar a ver em terras lusas.