Formados pelo guitarrista/vocalista Ryan Lee Hamilton e pelo baixista John Preston Bundy já na recta final da primeira década do Séc. XXI, os norte-americanos NAAM são mais uma óptima proposta saída do actual movimento revivalista do psych/space rock. Depois da estreia homónima em 2009, o quarteto – que fica completo com Eli Pizzuto na bateria e Johnny Weingarten nos teclados – reforçou os seus predicados com «Vow», do ano passado, num ampliar dos elementos que fazem deles um dos nomes mais entusiasmantes dos últimos tempos neste espectro. Ao longo de onze temas, o ouvinte é levado directamente de volta aos 70s, numa viagem intergaláctica ancorada em guitarras tão selvagens quanto sensuais, numa sessão rítmica hipnótica, num Hammond inspirado e, claro, nas devidas homenagens aos pioneiros Hawkwind. Numa destas tardes de Verão tímido, Hamilton ajudou-nos a antecipar a estreia dos músicos oriundos de Brooklyn em Portugal… Recorde-se, a banda norte-americana actua a 11 de Setembro no Sabotage Club em Lisboa e a 13 de Setembro sobe ao palco Sabotage, no Reverence Valada.
Que expectativas reservas para esta estreia em Portugal?
Não sei… [pausa] Na verdade ainda não tinha olhado para as coisas assim, mas vai ser a nossa primeira vez aí e, só por isso, já vai ser bem excitante. Estive uma vez no aeroporto de Lisboa e vi a cidade do ar, mas isso foi o mais próximo que estive de Portugal. É sempre porreiro irmos a sítios onde nunca estivemos antes… E, não sei bem porquê, Portugal é um dos poucos sítios onde ainda não tocámos na Europa. Já estivemos um pouco por todo o lado e temos tido boas salas e uma resposta fantástica, por isso estamos muito curiosos para ver o que o vosso país tem para oferecer. Ao longo dos anos tenho ouvido diversas histórias de amigos que tocam em outras bandas e já estiveram aí. Dizem que, às vezes, pode ser um pouco surreal… Com as bandas tocam super tarde e tudo isso. Nós, por exemplo, vamos tocar às três da manhã.
Às três e meia, para sermos mais exactos.
Acho que vai ser uma loucura, para ser sincero. Estou à espera que esteja tudo louco. As coisas aí passam-se num horário totalmente diferente… Na maior parte das noites, às três e meia da manhã já estou metido na cama e pronto a dormir. [risos] Acho que vai ser engraçado. Vamos incluir pelo menos um tema inédito no set, vamos tocar temas de todos os discos e vamos ter um convidado especial. O Jeff Berner, dos Psychic TV, vai tocar guitarra e teclados connosco.
Esta cultura dos festivais é muito diferente na Europa e nos Estados Unidos…
Definitivamente! Há alguns, mas poucos, festivais nos Estados Unidos que têm uma vibração mais cool, um pouco mais semelhante ao que se passa na Europa, mas na maior parte dos casos são coisas corporativas; parece que, actualmente, quase ninguém consegue fugir a isso. Na verdade não há assim tantos festivais mais pequenos, que misturem diversos estilos de música como vai acontecer no Reverence. Nos Estados Unidos fico sempre com a sensação de que o pessoal está ali mais para fazer a festa do que propriamente para ver e ouvir as bandas. Na verdade acabam por não estar tão interessados na música como sinto que acontece na Europa. É o que sinto, pelo menos, mas posso estar errado. É lógico que há espaço para tudo e as pessoas devem divertir-se… Por outro lado, acho que as pessoas que aparecem nos concertos dos Naam estão tão alerta nos Estados Unidos como na Europa. A diferença não é assim tão grande, acontece que há muito mais gente a curtir este tipo de música na Europa do que aqui.
Preferes tocar em salas pequenas ou nos grandes festivais?
Depende… É sempre óptimo tocar num clube e ser “a estrela da noite”, sabemos que está lá toda a gente para nos ver e podemos divertir-nos com o pessoal. Nos festivais, às vezes, também é assim… Basta que ser o festival certo. [risos] Em Portugal, por exemplo, já sei que vou poder estar na farra com uma série de amigos e de bandas diferentes. Os White Hills vão tocar, os Psychic TV vão tocar… E a lista continua, por isso já sei que vai ser muito divertido. Quando se toca num festival como o Reverence é como se fosse uma reunião de bandas que, ao longo dos anos, se têm cruzado inúmeras vezes na estrada.
É engraçado porque vão dar dois concertos em Portugal, no festival e num clube mais pequeno.
Os portugueses vão ter o melhor de dois mundos! E posso dizer que estou bastante entusiasmado para ver como vai ser esse concerto na sala mais pequena. Foi uma data marcada há relativamente pouco tempo e acho que vai ser de loucos – provavelmente esse vai ser o concerto que vão querer ver.
Continuas a ir a festivais como membro do público ou só quando os Naam tocam?
Recentemente fui ao Austin Psych Fest e acho que foram os três melhores dias que tive este ano. É bom ir a um festival como espectador, nem que seja só para ter uma perspectiva diferente das coisas. É tudo muito mais confortável… Posso estar na minha e andar de palco em palco a ver as bandas, não há aquela pressão de tocar, nem nada do género. É óptimo! Gostava muito que houvesse mais festivais fixes nos Estados Unidos a que tivesse um acesso facilitado.
Mencionaste o Austin Psych Fest e o Reverence Valada tem a sua quota de bandas de rock psicadélico. Como vês o crescimento que o género tem sofrido ao longo dos últimos anos?
Está a tornar-se numa coisa bastante grande e isso é bem evidente quando olhamos para uma banda como os Tame Impala, por exemplo. São extremamente psicadélicos e um dos maiores sucessos actuais no universo do indie e até do rock. Os Panda Bear, os The Black Angels; todas essas bandas… Este estilo de música está progressivamente a tornar-se cada vez mais popular e, a cada ano que passa, vejo mais e mais bandas psicadélicas a infiltrarem-se no mainstream. É óbvio que há quem tenha medo disso, mas eu não penso assim. Se gosto de um estilo de música, quero que se expanda tanto quanto possível. Quanto mais gente tocar este tipo de música, mais gente vai ouvi-lo e, como ouvinte e criador, as hipóteses a explorar são cada vez mais. Se pode transformar-se numa moda? Sim, é inevitável que aconteça mais tarde ou mais cedo. No entanto, se uma pessoa é fã não devia estar preocupada com isso. Nos últimos dez ou quinze anos vi o psych ter os seus altos e baixos, mas não foi por isso que deixei de o ouvir ou tocar.
Vão partilhar o palco com os Hawkwind, uma influência mais que assumida.
Desde que me lembro que procuro o psicadélico em qualquer forma de arte. Os Pink Floyd e os Hawkwind foram as primeiras bandas de rock psicadélico que ouvi e, sobretudo os Hawkwind, tiveram um impacto enorme no músico que sou hoje. São uma influência óbvia na música dos Naam, não faria qualquer sentido tentar sequer negá-lo e, para ser muito sincero, acaba por ser uma das poucas comparações que me deixam orgulhoso. Já roubámos descaradamente aos Hawkwind, eles têm discos fantásticos. Eu era um miúdo punk, encontrei uma banda psicadélica com que me podia realmente identificar – e eles eram um bocado punk, o Lemmy tocava na banda – e a minha vida mudou a partir daí. Para mim, foram eles que fizeram o crossover. Por muito que gostasse de dizer que o que me atraiu para o psicadélico e para o space rock foi aquela banda obscura que vi num clube minúsculo, não seria verdade… Foram os Hawkwind. Já tocámos com o Nik Turner e vai ser muito interessante ver como estão actualmente com o Dave Brock.
José Miguel Rodrigues
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