Concertos beneficentes, leilões, edições especiais. Tem havido um pouco de tudo. Naturalmente, também existem os idiotas úteis que insistem em usar o cinza para descrever uma situação extrema em que a escolha é a preto e branco, como alguém já referiu. Curiosamente, ou talvez não, o activismo tem estado muito mais do lado europeu que do norte-americano. Basta recordar a reacção, e bem, do lado americano ao assassinato de George Floyd em 2020, e perceber como a movimentação anti-guerra é bem menor neste momento. No caso das acções, muitas tem sido tomadas, desde o leilão de uma guitarra dos KADAVAR, usada pelos próprios nos últimos dez anos em concerto. Uma edição especial, com as cores da Ucrânia, dos DRUDKH, cujo sucesso levou o grupo a fazer outras campanhas do género. Também a edição especial de duas t-shirts, por parte de JINJER foi um sucesso, como a LOUD! relatou na altura. Também têm acontecido eventos beneficentes com o objectivo de levantar fundos. O artista plástico Augusto Peixoto, responsável pela Iron Doom Design, desenhou mesmo um cartaz, a pedido dos britânicos WEAPON.
Entretanto, começam também a surgir temas isolados, a propósito da invasão da Ucrânia, tal como a LOUD! tem dado conta, nomeadamente «Stand (For Ukraine)» de DEE SNIDER e «Come Together (We Will Stop You)» de um super-projecto que integra Richard Kruspe (dos RAMMSTEIN), Billy Gould (dos FAITH NO MORE) Chris Connelly (dos MINISTRY e PIGFACE) e Christopher Hall e Walter Flakus (dos STABBING WESTWARD). Por cá, o programa Caminhos Metálicos prepara um tema, intitulado «Ukrayina», em que “cerca de vocalistas se juntaram” para cantar. Será uma produção dos Caminhos Metálicos em colaboração com os Blind & Lost Studios e os GWYDION, a estrear brevemente, contando com música destes últimos e letra de Carlos Guimarães e Rosa Soares. O tema será disponibilizado para a angariação de doações para os refugiados ucranianos e sucede a uma interpretação muito personalizada de Miguel “Kaveirinha” para o tema «Folk You Putin». Noutra perspectiva, os elementos que actualmente integram os DEEP PURPLE optaram por usar a internet para se manifestarem, começando com um “como regra, os Deep Purple são apolítico, mas nesta ocasião…” a que se segue a declaração de cada um dos elementos. O destaque vai para as palavras de Ian Gillan: “podemos nunca mais voltar a ver os nossos amigos russos, será um grande sacrifício, mas nada comparado com não voltar a ver os nossos amigos ucranianos que estão a ser mortos para satisfazer as ambições psicopatas do líder russo.”
Outros, naturalmente, preferem disfarçar o discurso, ou alterar o mesmo mudando de direcção. É o caso de Aaron Lewis, dos STAIND, que opta por uma retóricnacionalista atacando o sistema político norte-americano, com frases como “devíamos escutar o que Vladimir Putin está a dizer”, ou “porque estão eles a proteger tanto a Ucrânia, o que tem eles a perder?”, com o “eles” a representar o sistema político norte-americano. No mesmo campo político, mas já habitualmente polémico, Ted Nugent pega em qualquer argumento e torna-o num panfleto anti-Bidden e centrado na América. Entre as habituais fotos de caçadas, o músico centra-se cada vez mais num país isolado e o mais à direita possível. No espectro oposto, os RAGE AGAINST THE MACHINE colocam a guerra em segundo plano e tentam dar enfoque à questão racial, num típico movimento de “race card”. Mais directo e actual é o novo vídeo da banda de black metal KANONENFIEBER, uma aposta recente da editora Season Of Mist, que em «Stop The War» produz aquele que deverá ser o primeiro vídeo musical integrando cenas da guerra em curso. Todo o dinheiro angariado com o tema será doado à Caritas Emergency Aid, segundo declara a banda germânica cuja temática, curiosamente, também se debruça sobre a Primeira Grande Guerra, à semelhança dos ucranianos 1914.