Criados por piada, com o objectivo principal de serem, literalmente, uma prenda de anos para um fã especial dos Mother Superior que cumpria 50 Primaveras (um tal de Scott Ian), os MOTOR SISTER tinham, no entanto, demasiado talento na sua formação e demasiado potencial roqueiro para se ficarem só por aí. Vai daí, depois do álbum de estreia, «Ride» (2015), que ainda só tinha versões da tal banda anterior do guitarrista/vocalista Jim Wilson, o quinteto formado pelo próprio, por Scott Ian (Anthrax, obviamente) na guitarra, a sua esposa (e filha do saudoso Meat Loaf, com quem cantou vários anos, para além de participações em inúmeros outros projectos) Pearl Aday, o baixista Joey Vera (Armored Saint, Fates Warning) e pelo baterista John Tempesta (The Cult, White Zombie) arranca agora com obra própria, com o entusiasmante «Get Off». A simpática Pearl foi a nossa guia por este novo capítulo deste bando de gente famosa.
Demorou uns anos a aparecer, mas parecia uma inevitabilidade que assim viesse a acontecer – um álbum só com canções originais dos Motor Sister.
Sim, especialmente nos últimos anos em que nos dedicámos mais a ele, sim, tornou-se claro que era algo que tinha mesmo que acontecer. Acho que assim que acabámos de graver o primeiro álbum todos pensávamos em fazer outro com estas características, nas nossas cabeças, mesmo que não tivéssemos logo falado sobre isso. Sempre esteve no nosso horizonte fazer música original.
Mudou algo na banda, fundamentalmente, depois de ter sido dado esse passo explicitamente? Ter passado de uma banda de covers para uma banda propriamente dita teve algum efeito em vocês?
Para além desse facto óbvio, de que agora escrevemos música juntos e que tudo o que tocamos é da autoria deste grupo, não, não mudou nada. Fazemos o que fazemos, que é rock’n’roll, e acho que não conseguiríamos fugir disso nem que tentássemos. Mas não tentamos! [risos] É muito simples, isto é o que acontece quando estamos juntos, é o que sai quanto tocamos em grupo.
Não houve então grandes discussões sobre direcções musicais e coisas do género?
Não, caímos mesmo em cima deste som de forma natural. Trabalhamos muito bem juntos, sabes. É esse o segredo, quando é assim, as coisas acontecem quase sem dares por elas. É tudo natural que nem… [pausa] Bom, claro que dá trabalho. Também não exageremos. [risos] Mas é trabalho feliz. Não é uma seca, não é algo que tenhamos que forçar, não damos pelo esforço que despendemos. Tudo flui, estamos sempre felizes por estar juntos.
Apesar de tudo imagino que vos seja difícil estarem juntos muito frequentemente, pelo menos fisicamente, e os cinco ao mesmo tempo, não?
É duro juntarmo-nos na mesma sala muitas vezes, realmente. Toda a gente está sempre tão ocupada… O Johnny com os The Cult, o Joey com os Armored Saint, o Scott com os Anthrax, o Jim que trabalha muito com o Daniel Lanois, eu com as minhas cenas a solo, há sempre algo que alguém tem que fazer em determinada altura. Mas vamos trabalhando como podemos. Especialmente com a pandemia, habituámo-nos a trabalhar remotamente muito frequentemente, ainda que a maior parte do material tenha sido escrito antes deste período.
As canções já têm algum tempo, então?
Sim, o Jim veio ter connosco a certa altura e disse-nos, pessoal, tenho aqui um monte de ideias, querem ouvir? E nós, duh, claro! [risos] E essas ideias que ele tinha acumulado acabaram por ser a base do álbum novo. O Jim é um compositor incrivelmente prolífico, tem um estilo único e uma vibe muito boa, e as ideias dele funcionam sempre. Ter esta oportunidade de fazer música com ele é um privilégio muito grande para mim.
Que expectativas é que tinhas quando ele vos mostrou esse tal material? Houve alguma surpresa maior?
Estamos sempre à espera de ficarmos “passados” com a música que o Jim nos mostra! [risos] Estamos sempre ansiosos por estar juntos, ligar os instrumentos e começar a tocar, porque é sempre fantástico. Esta banda nasceu numa festa! E acho que isso se nota perfeitamente na música, que traduz a diversão que temos quando tocamos. Não posso dizer que fiquei surpreendida com algo do que o Jim nos mostrou, mas certamente fiquei 100% satisfeita. E entusiasmada!
Tens algum tema favorito no álbum, por alguma razão? Algum que te dê mais gozo cantar?
Adoro cantar com o Jim seja quando for, acho que as nossas vozes resultam muito bem juntas, mas deste novo álbum… Gosto muito da «Right There, Just Like That», da «Can’t Get High Enough», «Sooner Or Later»… essa dá cabo de mim sempre, mata-me de cada vez que a ouço. Acho que é uma grande canção, e adoro o piscar de olho aos Thin Lizzy, porque somos todos fãs dos Thin Lizzy. Bom, e o murro no estômago emocional que é a «Pain» faz dela muito especial também, tem uma vibe diferente. A «Coming For You» é fixe para mim porque sou a vocalista principal nessa… Man, são todas tão boas!
Já percebi que a tua estratégia para responder à pergunta da música favorita é mencioná-las todas. [risos]
[risos] Eu sei, eu sei, mas não faço de propósito! Mas olha, fico com a «Sooner Or Later», porque acho que no fim de contas é a que se destaca mais. Se tivesse mesmo que escolher só uma.
Apesar de terem dado alguns concertos ocasionais nestes anos que passaram desde o «Ride», como é que imaginas o público que se vai juntar agora quando tiverem uma sequência maior de concertos, e quando as pessoas forem mais familiares com o vosso material? Achas que as vossas bandas “principais” vão trazer muita gente curiosa?
Para te ser absolutamente sincera, nenhum de nós na banda imagina como será, porque nos estamos a cagar. [risos] A sério! Não nos preocupamos com isso, quem aparecer apareceu, e vamo-nos divertir na mesma. O rock’n’roll não está morto, apesar de haver muita gente que gosta de dizer isso, e acho que cada vez que este tipo de música ganha nova vida, tem impacto junto de imensas pessoas, até pessoas que possam nem dar por isso, nem perceber que ainda gostam deste tipo de coisa. O rock é algo clássico, nunca fica “fora de moda”. É como jeans e t-shirt, sabes? É clássico no melhor sentido do termo.
Que bom que não te juntas à brigada do “o rock morreu!”.
Acho que se fazes música de merda, isso não ajuda nada à tua opinião sobre o género que praticas, percebes? Mas se gostas verdadeiramente do que estás a fazer, se te estás a divertir, e se estás a tocar bom rock’n’roll, então isso vai ser bom. Vai ecoar com alguém. Não pode estar morto.
E agora, planos para os Motor Sister?
Mais álbuns! Também temos vários concertos a serem planeados, queremos tocar não só nos Estados Unidos mas viajar com esta banda, e isso pode vir a ser possível mais para o final deste ano. Temos o nosso melhor pessoal a tratar disso, a tentar fazer acontecer. Pode ser complicado gerir as agendas de todos, mas é algo que todos estamos empenhados em tornar realidade, portanto vamos conseguir.
Continuar a rockar, então.
Sempre. É o que fazemos!
«Get Off» está disponível através da Metal Blade.