LACUNACOIL

Local sagrado do death metal na Florida, os estúdios MORRISOUND RECORDING foram homenageados pelas suas décadas de impacto global na música pesada.

O passado e o presente da música extrema norte-americana convergiram no dia 16 de Maio, quando o condado de Hillsborough, na Florida, homenageou oficialmente o histórico estúdio Morrisound Recording com a colocação de um marco histórico no seu local original, em Temple Terrace. A cerimónia reconheceu a importância das instalações no desenvolvimento do death metal e de outras tantas correntes do metal extremo, consolidando o seu lugar na história da música a nível global.

Fundado em 1981 pelos irmãos Tom e Jim Morris, o Morrisound Recording não só colocou a cidade de Tampa no mapa da música pesada, como redefiniu a própria sonoridade do metal extremo ao longo das décadas de 80 e 90. Bandas como SEPULTURA, DEATH, ICED EARTH, DEICIDE, OBITUARY, CANNIBAL CORPSE e MALEVOLENT CREATION — para citar apenas alguns — gravaram ali álbuns que moldaram a identidade de todo um género.

A cerimónia oficial, que contou com a presença de vários músicos que fizeram parte da história do estúdio, como Jon Oliva (dos SAVATAGE e TRANS-SIBERIAN ORCHESTRA), “Nasty” Ronnie Galletti e David Austin (dos NASTY SAVAGE), Jeff Lords (dos CRIMSON GLORY) e Paul Mazurkiewicz (dos CANNIBAL CORPSE), culminou na revelação do marco verde, padrão para todos os que compõem os mais de 150 já espalhados pelo condado. A sua aprovação coube ao Hillsborough County Historical Advisory Council, e os custos foram cobertos pelos próprios proponentes.

Na placa pode ler-se uma homenagem clara à ligação entre o estúdio e o movimento death metal. Como explicou Rodney Kite-Powell, do Tampa Bay History Center, à WFTS-TV: “Esta foi a única vez em que escrevi um texto onde a palavra ‘death’ surge tantas vezes, porque este marcador é, sobretudo, uma celebração do trabalho dos Morrisound na indústria do metal extremo, ou do death metal.” Após a cerimónia, os convidados reuniram-se na Magnanimous Brewing, em Seminole Heights, não longe da actual morada do estúdio, agora situada num antigo edifício bancário da década de 1920 em Sulphur Springs.

Esta nova fase dos Morrisound Recording, mais contida e adaptada às necessidades modernas, mantém viva a herança construída nos dias de glória. Tom Morris, cofundador do estúdio e uma figura central no seu legado, comentou com a Creative Loafing Tampa Bay: “Ninguém no seu perfeito juízo abre um estúdio de gravação para ficar rico ou famoso. Passámos a carreira a ajudar artistas a concretizarem a sua visão criativa. Este marco é o reconhecimento desse esforço, tanto da nossa equipa como das muitas bandas dedicadas que passaram por aqui nos anos 80 e 90.”

De facto, o impacto dos Morrisound vai muito além do nicho do metal. Desde música clássica a country, passando por jazz, gospel, hip-hop e R&B, o estúdio gravou praticamente todos os estilos imagináveis. No entanto, foi o metal que catapultou o seu nome para o estrelato da produção musical, numa altura em que os seus equipamentos e características acústicas rivalizavam com os maiores estúdios de Nova Iorque e Los Angeles.

Esse prestígio não impediu que o estúdio passasse por momentos difíceis. Em 2011, o espaço original foi alvo de um assalto que resultou no roubo de centenas de milhares de dólares em equipamento, discos de ouro e platina e instrumentos. Em 2015, a TRANS-SIBERIAN ORCHESTRA, colectivo com quem os irmãos Morris já colaboravam há anos, adquiriu as instalações originais. Ainda assim, o nome manteve-se vivo, com Tom e Jim a continuarem a operar uma versão mais compacta do estúdio.

Durante os últimos anos, Tom Morris tem-se afastado progressivamente da actividade técnica do estúdio, devido a problemas auditivos causados por uma doença autoimune que o forçou a largar de vez a mesa de mistura, mas não a ligação ao legado dos Morrisound Recording. Para assinalar a ocasião, o estúdio anunciou ainda o lançamento de uma t-shirt comemorativa, que apresenta os 20 álbuns de death metal mais vendidos gravados no estúdio — uma cápsula do tempo para fãs da música extrema.

“Ainda recebemos visitantes do mundo inteiro que vêm ver o estúdio por causa dos discos que produzimos nos anos 80 e 90,” contou Tom Morris. O novo marco histórico serve, assim, como símbolo físico dessa devoção contínua — uma lembrança imortal da época em que Tampa se tornou a capital mundial do death metal.