Com o clássico de 1989, os MORBID ANGEL abriram os portões do inferno para o death metal moderno.
Num calor sufocante e numa humidade opressiva, digna de castigo divino, a Florida do final da década de 80 tornava-se um viveiro explosivo para o nascimento de algo novo, violento e aterrador. Se Chuck Schuldiner e os seus DEATH foram os arautos da revolução, os MORBID ANGEL foram os conquistadores impiedosos que levaram o estandarte do death metal às últimas consequências. O seu álbum de estreia, «Altars Of Madness», lançado em 1989, é ainda hoje considerado uma das pedras angulares do género — não apenas pelo seu peso e velocidade, mas pela visão obscura e quase mística que dele emana.
Verdade seja dita, a génese de «Altars Of Madness» foi tudo menos tranquila. Antes do disco que viria a mudar tudo, Trey Azagthoth gravou com outros músicos o malfadado «Abominations Of Desolation», que acabaria por ser arquivado devido à insatisfação geral com o resultado. Mas desse insucesso nasceu a reconfiguração perfeita dos MORBID ANGEL: Azagthoth e Richard Brunelle mantiveram-se nas guitarras, juntando-se-lhes o baixista/vocalista David Vincent e Pete Sandoval, ex-Terrorizer, cujo trabalho de bateria redefiniria o uso do pedal duplo no metal extremo.
Em vez das letras gore e sanguinárias tão populares na altura, os MORBID ANGEL mergulharam no oculto e no esotérico, inspirando-se no mítico Necronomicon, a suposta obra proibida criada pela mente de H.P. Lovecraft. Essa influência traduziu-se numa aura de horror cósmico que sobrevoa todo o álbum, uma sensação de terror ancestral que torna o LP mais que apenas música extrema — é uma invocação, um ritual blasfemo registado em vinil.
Gravado nos lendários Morrisound Studios, o disco tornou-se rapidamente num fenómeno underground. As composições são um labirinto alucinatório de mudanças de tempo abruptas, solos que mais parecem invocações lisérgicas e uma violência rítmica que desafiava os limites físicos do corpo humano. Sandoval bate com uma ferocidade que, à época, parecia simplesmente inumana. Azagthoth e Brunelle construíam riffs como se a guitarra fosse um canal de comunicação com algo maior — e decididamente malévolo.
Enquanto os SLAYER e os VENOM tinham redefinido os contornos da maldade musical nos primeiros anos da década de 80, os MORBID ANGEL levaram essas fundações a um extremo que fazia os seus predecessores parecerem quase inofensivos. A guitarra de Azagthoth não soava apenas rápida — soava insana, alienígena, como se cada solo fosse um feitiço. A voz de David Vincent rosnava com uma força demoníaca que muitos, na altura, temiam não ser apenas um papel.
É certo que álbuns como «Blessed Are the Sick» ou «Covenant» acabariam mais tarde por expandir o som da banda em termos de produção e composição, mas o «Altars of Madness» mantém-se intocável enquanto artefacto fundacional. A sua influência foi sentida imediatamente, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Mais do que continuar o trabalho iniciado por Schuldiner, os MORBID ANGEL abriram a porta a novas formas de profanação musical — e os ecos disso ouvem-se nas bandas de black metal que, nos anos 90, explodiram na Noruega e no Reino Unido. Nomes como EMPEROR ou CRADLE OF FILTH beberam profundamente da fonte negra aberta por este disco.
A verdadeira importância de «Altars Of Madness» reside, portanto, não apenas na sua música — brutal, inovadora e avassaladora — mas na sua iconografia, nas letras e na forma como abriu um novo caminho espiritual para o metal extremo. Um caminho onde a técnica e a velocidade se fundem com o ocultismo e a transcendência negativa. Um caminho que, uma vez trilhado, não admite retorno. Quer queiramos ou não, o inferno começou aqui. E o seu altar ainda arde.
