Sempre foi conhecido o gosto dos MOONSPELL pela data de 31 de Outubro e por fazerem as suas próprias festas de Halloween; aliás, já fizeram várias e a verdade é que, agora, a longevidade lhes permitiu entrar num ciclo celebratório. Ambos os factores se conjugaram para uma data-dupla de comemoração de trinta anos de carreira, com a primeira noite a decorrer no Porto, em pleno Samhain, e a segunda, marcada para hoje, dia de In Tremor Dei, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Pois bem, desta vez a celebração fez-se com mais um espectáculo baseado numa produção de alta qualidade, com uns momentos mais teatrais e outros mais musicais. O arranque surpreendeu desde logo, com uma tela a cobrir o palco onde festilavam mensagens de vídeo de Dani Filth ou Mille Petrozza, bem como de membros de bandas como The Last Internationale, Swallow The Sun, Liv Cristine, Tiamat, Gaerea ou Bizarra Locomotiva, sendo que Rui Sidónio até subiu ao palco para vociferar a «Em Nome Do Medo». Entretanto, a banda arrancava, ensaiando um jogo de sombras e não hesitando em recuar aos seus sons mais primários. Por essa altura já se projectavam vídeos do passado, e faziam-se ouvir «Serpent Angel», ainda da fase Morbid God,e os dois andamentos de «Tenebrarum Oratorium». A cortina caía e revela-se em todo o seu esplendor um palco em tons de vermelho inferno. O que tínhamos pela frente era máquina MOONSPELL, com Pedro Paixão na guitarra. Mais tarde, o músico quase desfaleceria, após um choque eléctrico provocado por um troca de guitarra, que quase pôs em perigo a continuação do concerto. Felizmente, resolveu-se tudo pelo melhor.
Percebia-se o plano. A banda ia desfilar os seus trinta anos de percurso de uma forma cronológica. Depois das bailarinas e dos coros, com «Trebraruna» e «Ataegina» veio um ambiente folk, com Fernando Ribeiro acompanhado, primeiro, só pelo quarteto Cornalusa, e depois pelo resto da banda. «Vampiria» antecedeu uma «Alma Mater» prematura para o habitual, mas consentânea com a cronologia. O concerto foi avançando, sempre com as luzes sempre em primeiro plano. O lado teatral foi dando lugar ao lado mais musical, alguns temas sofreram novos arranjos, alguns subtis, outros nem tanto. «Antidote», com José Luís Peixoto a surgir primeiro em vídeo, sofreu um arranjo que recordou a abordagem dos Paradise Lost a «Host». Já «Soulsick», provavelmente um dos temas mais pesados do grupo, não conseguiu atingir a visceralidade do passado. Faltou uma «Luna», mas houve «Nocturna». Os discos mais recentes, e ainda presentes na memória de muitos, ficaram apenas por temas pontuais e simbólicos. No final, tivemos direito a uma «Full Moon Madness» que conseguiu escapar à cronologia, mas que descreveu na perfeição aquilo que se passou nesta noite. Sim, porque quando se pensa que os MOONSPELL vão entrar em piloto-automático e navegar à costa, os músicos conseguem sempre surpreender e inovar. Mais uma vez foi isso que aconteceu, numa noite que muitos irão recordar. Talvez este baralhar e dar de novo, sempre com um jogo mais alto, por vezes seja demasiado para os conservadores que esperariam ouvir uma «Alma Mater» em loopou para os haters que miram a quem se ergue na trincheira. Para todos esses, esta actuação foi, mais uma vez, a resposta. Foi também a prova, como se ainda fosse necessária, de que os MOONSPELL são um nome de dimensões internacionais e não apenas a banda portuguesa mais bem-sucedida fora de portas.
Alinhamento MOONSPELL: «Serpent Angel», «Tenebrarum Oratorium I», «Tenebrarum Oratorium II», «Trebraruna», «Ataegina», «Vampiria», «Alma Mater», «Opium», «Abysmo», «Mute», «Soulsick», «Butterfly FX», «Nocturna», «Antidote», «Southern Deathstyle», «Finisterra», «Night Eternal», «Em Nome Do Medo», «White Slied», «Extinct», «In Tremor Dei», «Todos Os Santos», «All Or Nothing», «Full Moon Madness»
A aquecer o público, que foi entrando lentamente no Coliseu, estiveram os suíços SAMAEL, também eles um caso de longevidade e icónicos no seu país de origem. A banda liderada por Vorph e Xy prometia revisitar o clássico «Ceremony Of Opposites» na íntegra, reservando «Passage» para a noite de Lisboa. Pois bem, foi mais ou menos isso que fizeram, intercalando temas desse álbum com outros mais ou menos recentes, mas o concerto foi de qualidade superior. No entanto, é claro que, nesta Hallows Eve, era nos MOONSPELL que repousavam todas as almas… Ou quase.