Depois do arranque na Escócia [ler aqui] e das passagens por Newcastle e Wolverhampton [aqui] e Nothingham e Manchester [aqui], a digressão britânica dos MOONSPELL chegou ao fim com um concerto esgotado em Londres. Foi com muito carinho que a LOUD! acompanhou o grupo nesta curta rota com os PARADISE LOST, que concretizou aquele que era um há muito desejado regresso aos concertos lá fora. Deste lado, fica um grande obrigado ao vocalista Fernando Ribeiro pelo seu relato da viagem, que permitiu aos fãs portugueses ficarem um pouco mais perto deste acontecimento.
Se o caminho se faz caminhando, estes foram os primeiros passos de 2022. Com tudo o que fizemos em 2020 e 21, para manter os MOONSPELL no radar dos fãs, principalmente o lançamento do novo disco, «Hermitage», e alguns espectáculos, não posso deixar de concluir que estes foram s primeiros passos a sério, em algo diferente e, curiosamente, num universo tão distópico que vivemos. Os primeiros passos do regresso aquilo que já fomos e vamos voltar a ser. Sei que parece a letra da «Full Moon Madness», mas fui eu que a escrevi.
Dia 6 – The Marble Factory, Bristol, Inglaterra
17 de Fevereiro de 2022
Restavam dois dias, foi uma tournée pequena, de apenas sete datas, com os PARADISE LOST. Tivemos alguma pena, e eles também, confessadamente, de não nos termos juntado a toda a digressão. Seriam duas semanas no Reino Unido. Recebemos algumas manifestações de desejo que os MOONSPELL tivessem feito o resto da digressão. Até haveria pessoas que os teriam ido ver.
Bristol é uma cidade que não conhecia, de todo, pelo menos enquanto músico. Já estávamos a caminho de Londres, era um dia de semana e não tínhamos expectativas em termos de público e afluência. Isso foi completamente contrariado e, se as pré-vendas não estavam de acordo com o cartaz, as coisas começaram a compor-se quando a digressão começou a acontecer. Passámos, inclusive, a mensagem que os concertos estavam on e iríamos tocar. Em Bristol fomos muito felizes. Provavelmente dos melhores espectáculos da tournée. Já com a banda completamente em forma. A entrada do Ribeiro para a bateria é um bálsamo de energia e fiabilidade aos temas, que nos permite manter um ritmo muito alto de intensidade. Tocámos numa sala onde toda a gente era extremamente simpática, The Marble Factory, ou a Fábrica de Berlindes. Havia aí muita gente que nos estava a ver pela primeira vez e ficaram encantados. Havia uma energia muito boa a nível de concertos.
Muitos disseram que fomos melhores que os PARADISE LOST, mas isso acho que é uma frase feita. A banda que tem a missão de abrir, tem uma missão difícil, mas ao mesmo tempo, menos responsabilidade, mais o factor surpresa. Os PARADISE LOST deram bons concertos, ninguém foi melhor que ninguém. Nós tivemos a vantagem de tocar primeiro, mas penso que a combinação das bandas é que fez as pessoas irem lá. Quando faço headline não fico chateado com a banda suporte tentar dar o bigode. Aqui não houve bigodes, apenas muita barba e cortes de cabelo. Sem dúvida que uma coisa leva à outra e, sem dúvida, que foi esta dinâmica, esta energia entre bandas, que fez esta pequena tournée ser muito elogiada, quer pelas críticas que já saíram, quer pela combinação de bandas e concertos. A entrega das bandas em si também tem a ver com o efeito de estarmos a retomar a normalidade, pelo menos no Reino Unido, em Portugal ainda não.
Dia 7 – Electric Ballroom, Londres, Inglaterra
18 de Fevereiro de 2022
Meteu-se a tempestade Eunice pelo meio. Devo dizer, com todo o respeito pelos elementos naturais, não foi bem o que passou nas notícias. Estava lá, houve estragos, disrupção, mas nós parece que passámos entre os ventos fortes. Viajámos sem problema. Tocámos, num Electric Ballroom cheio, sem problemas. Ainda fui às compras a Camden Town, souvenirs para a família. Apesar de estar vento, não creio que fosse causa da preocupação, quase “histeria”. Algumas pessoas de Portugal perguntavam se iam cancelar e a resposta foi “não”. Temos de perceber uma coisa, Inglaterra foi bombardeada durante meses a fio, pela aviação alemã, na Segunda Guerra Mundial. Se há palavra que não gosto, é “resiliência”, porque acho um pouco que temos de aguentar tudo o que nos mandam para cima. Prefiro “resistência” ou “regeneração”. Acho que são duas palavras muito melhores. Toda a gente usa “resiliência” e não sabe como ela foi criada pelos psicólogos e até pelo próprio Francis Bacon, o filósofo, não o pintor. Explicações à parte, existe uma têmpera que é viver a vida. Não ter medo. Agradeço toda a preocupação, todas as mensagens que nos mandaram de Portugal, mas o concerto de Londres aconteceu, as viagens aconteceram, os voos aconteceram. Tanto aconteceram que já estou de volta a Alcobaça. Temos de começar a trabalhar o factor “medo” por cá, senão vai ser muito complicado, com ou sem vírus, voltarmos a ser felizes.
Felizes fomos nós no concerto de Londres. Sendo a capital, até estava um pouco mais fria, mas são sempre assim as capitais. Depois foi a rendição, a tomada de Londres, porque, fomos, como se diz em espanhol, “coreados”, porque ao fim estava toda a gente a fazer um cântico meio de futebol, meio “Moonspell”. Foi óptimo. O Electric Ballroom é um clube mítico para nós. Já não foi a primeira vez que lá tocámos. Toda a gente já lá tocou e todas as bandas de que gostámos, principalmente do rock e do gótico britânico. Camden é fantástico, um dos meus sítios preferidos na terra. Transpira uma confiança e lá está o full circle. A primeira vez que tocámos fora de Portugal ficámos hospedados em Camden Town, no apartamento do promotor. Foi, sem dúvida, um fechar com chave de ouro. Muitos portugueses, a quem mando desde já um abraço, quer aos que já lá estavam, quer aos que viajaram. Estiveram fantásticos para nós e foram, de alguma forma, contagiando o outro público até sairmos sob uma excelente ovação e encerrarmos esta digressão que considero vitoriosa, com esta chave da cidade, ou pelo menos do sítio de Camden Town.
Regressamos a Portugal. Acabei de dormir uma valente sesta. Quase uma espécie de ritual, porque viajámos directamente após o concerto. Apanhámos o voo às 03:25, em Heathrow, a passar por todo aquele escrutínio, vacina, certificado, etc… Não foi isso que nos impediu de trabalhar e estarmos em forma. Dia 26 estamos em Leiria, foi importantíssimo este boost de confiança. Queremos agradecer aos PARADISE LOST, à agência deles, a todas as equipas técnicas. Queremos agradecer aos fãs que vieram ou que de longe acompanharam, pela internet, ou pela LOUD!, e marcar encontro para dia 26. Também vou estar no Corrente de Escritas, na Póvoa de Varzim, a 23 de Fevereiro. Entrada livre para falarmos de livros, música, juntamente com uma mesa que inclui o Adolfo Luxúria Canibal, entre outros.
Um obrigado aos leitores da LOUD! por nos deixarem partilhar esta centelha de esperança e vamos a isso Portugal, que já tarda, vamos recuperar o nosso espaço perdido, mais que nunca. Hail to England!
Fernando Ribeiro
PS: Aqui ficam algumas fotos do concerto em Londres, cortesia do ARTUR TARCZEWSKI.