A semana britânica dos MOONSPELL continua em bom ritmo. As datas sucedem-se e a LOUD! continua a acompanhar o grupo nesta digressão com os PARADISE LOST. Para que os fãs portugueses conheçam um pouco mais da primeira digressão da alcateia na época da nova liberdade, depois do arranque na Escócia [ler aqui] e das passagens por Newcastle e Wolverhampton [aqui], hoje recebemos mais um report cortesia do Fernando Ribeiro.
Se na última entrada tínhamos falado de “tough crowd”, as coisas começaram a aquecer. Parece que quando a tournée se começa a encaminhar para o fim, aquele feeling de estar na estrada, de querer mais, mesmo contando com as saudades de casa e do país, começa a ser mais forte. Esta tour fecharia com chave de ouro se fossemos, como estava pensado, terminar em Dublin, na Irlanda, mas temos de fazer isso numa data posterior. Vamos fazer um concerto de trinta anos. Já lá estivemos a tocar uma vez e foi fantástico. A tournée vai acabar em dois dias, neste momento estamos em Bristol para tocar e depois acabamos num sítio mítico que é o Electric Ballroom, em Canden Town, Londres.
Dia 4 – Rescue Rooms, Nottingham, Inglaterra
14 de Fevereiro de 2022
Nottingham, apesar de ser uma segunda-feira, dia dos namorados, foi um concerto incrível. Um clube com uma dimensão não muito grande, mas certa, para que a música e proximidade dos MOONSPELL chegasse às pessoas. Estava toda a gente on fire e isso depois da reacção mais contida em Newcastle. Foi um prazer estar em Nottingham e ter uma sala completamente ao rubro, por assim dizer. Continuamos com a nossa rotina de pubs, ajudar no que fosse preciso. De trabalhar, mas também termos alguma diversão. Isso faz-nos ter uma tomada de consciência, que não posso deixar passar. Esta é a altura da cultura, e da música em particular, fazerem a diferença. Não sou eu que digo isto, vejo-o nos olhos das pessoas, na forma como se aproximam de nós. Na vontade que esta gente toda tem, de ver concertos, de ver as suas bandas preferidas regressarem.
Foi também em Nottingham, terra do xerife, que me apercebi que tínhamos tocado em Wolverhampton, na tal venue fabulosa, que é propriedade do KK Downing, ex guitarrista dos JUDAS PRIEST. Uma particularidade que só depois vim a descobrir. Do Rescue Rooms, em Nottingham, ao partir, já no tour bus, só depois vimos, naquela cena tipicamente british, que por vezes se veem no Algarve: as ruas cheias de gente a celebrar o Dia dos Namorados, apesar de ser uma segunda-feira. Agora que a gente tem esta nova liberdade, new found freedom, parece que estamos a descobrir um mundo novo, superinteressante e que nos permite rejuvenescer um pouco. Pessoalmente, esta tournée está a dar um boost incrível de confiança. Sei que isso é partilhado pelos restantes elementos da banda, sentimo-nos necessários a um certo tipo de sociedade, de cultura, de serviço. Tem a ver com o entretenimento, com a nossa música e o que isso desperta. Temos a confirmação todas as noites pelo público. Apesar de já não acreditar que vou ver mais trinta anos de MOONSPELL e por aí fora, essa coisa dramática que me caracteriza, mas que é a realidade, acho que estamos a ter muitas ideias para os álbuns novos. Estamos em banda, ou em bando, como se costuma dizer, e estamos muito bem.
Dia 5 – Club Academy, Manchester, Inglaterra
16 de Fevereiro de 2022
Entre paragens para ver uns castelos e cemitérios, chegamos muito rapidamente a Manchester. Outra terra conhecida pelo futebol português, mas isso não interessa nada às pessoas, que podem gostar de ambas as coisas. Esta noite em Manchester foi mais nossa, na sua escala. A tocar heavy metal feito em Portugal. Tivemos oportunidade de conhecer uma pessoa que é o Neil, novo guitarrista dos MY DYING BRIDE. Fomos beber uns copos com ele e outro músico, colega num outro projecto que possui. Cidade estudantil, onde tocámos no infame Academy. Um edifício que mistura universidade e concertos ao vivo. Foi uma fauna muito engraçada entre universitários e universitárias, metaleiros, nós e os PARADISE LOST. Há uma cena curiosa, em que depois do concerto, se abre o bar, isto tudo dentro de uma universidade. Imaginem ter isto dentro da Faculdade de Letras, ou na Universidade do Porto. É mais ou menos por aí, o verdadeiro Erasmus, com muitos portugueses à mistura. Alguns deles sempre a oferecerem-me vinho. Abençoados. Foi um concerto fabuloso, ainda melhor que o anterior. Manchester é uma cidade habituada a receber bandas a tocar ao vivo. Provavelmente a segunda ou terceira cidade para espectáculos, e fomos muito bem-recebidos. O Club Academy é muito pequeno, estava completamente sold out, com o som mais comprimido, mas a energia que se sentiu foi fabulosa. Como curiosidade, estivemos à conversa com o Nick Holmes e para chegar ao camarim tivemos de ultrapassar umas dez ou quinze portas. Perguntei-lhe porque havia tantas portas no Reino Unido e ele nunca tinha pensado nisso. Eu próprio filmei o caminho até ao camarim, para não me perder, mas mesmo assim, perdi. Fiquei à conversa com alguns fãs. Manchester é uma cidade muito cosmopolita, por isso, além de britânicos, encontrei fãs de Portugal, República Checa, Polónia, que fazem cá vida, estudam. A reacção foi estupenda.
Como disse, hoje estamos a caminho de Bristol, para mais um concerto, numa sala muito boa. Amanhã será o grande final, em Londres. Uma cidade onde nos estreamos a tocar fora de Portugal. Também local onde as recordações são muitas, desde a compra da capa da «Vampiria», no mercado de Camden, até ao último concerto, para mais de mil pessoas, com os ROTTING CHRIST, numa daquelas noites eternas, para mais tarde recordar.
Tudo vai bem, como se costuma dizer. Já estamos a preparar o regresso a Portugal. Regresso a Leiria, no dia 26 de Fevereiro. Sei que os bilhetes estão a voar. Possivelmente porque há a possibilidade de tocarmos para gente sem máscara e sem certificado, o que, teorias à parte, é simplesmente fabuloso. Não há ninguém, no seu perfeito juízo, que não possa dizer que é uma coisa fabulosa. Ontem também foi um dia óptimo, para mim, pois consegui anunciar a assinatura de uma banda em que tenho muita confiança, e muito gosto, e que alguns dos seus elementos foram importantes na minha formação. Chama-se TROOPS OF DOOM, e com «Antichrist Reborn», fizeram o disco de death metal do ano, produzido por eles e misturado pelo Peter Tatgren.
De Bristol, o enviado especial,
Fernando Ribeiro
Um grande abraço.