Há 29 anos, os MOONSPELL assinavam um dos mais belos capítulos da história do metal europeu.
A 29 de julho de 1996, os MOONSPELL lançavam aquele que viria a transformar-se num dos álbuns mais importantes da história do metal gótico europeu: «Irreligious». Quase três décadas depois, continua a ser impossível ignorar o seu impacto. Se o «Wolfheart» foi o grito primordial de uma banda lusa que queria romper fronteiras, o «Irreligious» foi a obra de afirmação, onde os lisboetas refinaram a sua linguagem e assumiram o trono do metal gótico com uma mestria poucas vezes igualada.
Lançado pela Century Media Records e produzido por Waldemar Sorychta, o disco marcou uma viragem no som dos MOONSPELL. Menos ligado ao black metal atmosférico e folk do LP de estreia, «Irreligious» mergulhou a fundo na estética gótica, sem nunca sacrificar a tensão dramática e o peso metálico. O que se ouviu — e ainda ouve — é um álbum coeso, maduro, envolvente e teatral, mas nunca caricatural. Um equilíbrio raro, sobretudo num género tantas vezes minado por exageros e lugares-comuns.
Desde a abertura com a já clássica «Opium», os MOONSPELL deixaram claro que estavam em controlo total do seu destino artístico. A canção, com a sua estrutura bem simples, letra memorável e atmosfera hipnótica, condensava em menos de três minutos tudo aquilo que a banda era: sombria, mas sedutora; enigmática, mas acessível. Seguia-se «Awake», com um dos refrões mais marcantes da discografia da banda, prova do talento inato de Fernando Ribeiro para declamar e cantar com igual intensidade.
Outros momentos como «Mephisto», «A Poisoned Gift» ou «Full Moon Madness» (ainda hoje presença habitual nos alinhamentos dos concertos) cimentaram o estatuto do «Irreligious» como uma referência obrigatória. O último tema, em particular, tornou-se o verdadeiro hino dos MOONSPELL — o crescendo épico, carregado de tragédia e orgulho, em que Ricardo Amorim e os teclados de Pedro Paixão tornam-se uma despedida que nunca deixa de arrepiar.
No entanto, o «Irreligious» também revelou facetas inesperadas. A colaboração com Birgit Zacher em «Raven Claws», com os seus laivos de rock gótico moderno, ou a experimentação literária de «Herr Spiegelmann», com a citação a Perfume de Patrick Süskind, mostraram que os MOONSPELL não se deixariam enclausurar por definições rígidas de género. Este era — e ainda é! — um álbum em que o gótico se encontra com o metal, mas também com a literatura, a poesia, o oculto e o existencial.
Volvidos 29 anos, o «Irreligious» mantém-se como uma obra maior. Não apenas pela sua importância histórica, mas porque continua a soar fresco, vibrante, autêntico. É um disco que ainda emociona, ainda fascina e ainda representa uma fasquia que poucos conseguiram alcançar. E talvez seja mesmo esse o maior elogio possível: um álbum que sobreviveu ao tempo sem precisar de se reinventar. Um clássico intemporal.
Hoje celebramos o «Irreligious», mas celebramos também a coragem dos MOONSPELL em 1996… A coragem de arriscarem, de mudarem e de criarem algo verdadeiramente singular. Aos 29 anos, este LP continua a uivar à lua com a mesma intensidade. E nós, aqui deste lado, ainda sentimos esse uivo na pele.
















