Quando tudo parece indicar que a tormenta foi ultrapassada, os nacionais MOONSPELL fizeram-se finalmente à estrada fora de portas, numa curta digressão pelo Reino Unido, com os PARADISE LOST. A rota tem, obviamente, um sabor especial; para todos os envolvidos, e não só. É o regresso a uma velha normalidade para a alcateia. É também a primeira digressão nesta fase em que uma banda nacional de metal se vê envolvida. A LOUD! não podia deixar de estar presente e Fernando Ribeiro vai contar-nos diariamente como tem sido este regresso ao asfalto.
DIA 1 – Garage, Glasgow, Escócia
11 de Fevereiro de 2022
Em 1995, na tournée do «Wolfheart», estávamos a fazer suporte a duas lendas da música extrema, Morbid Angel, na altura com o «Domination» e Immortal, com o «Battles In The North». Foi a nossa primeira digressão europeia, de carrinha como reza a história e as pessoas já sabem. Estou a citar isto para criar algum contexto, pois foi exactamente no Garage, em Glasgow, que começámos as nossas digressões internacionais. Foi um bocado dar a volta e regressar ao local de partida. Ontem recebemos muito mais que os dois mil escudos, dez euros em moeda actual, do monopólio. Correu tudo muito bem, as pessoas estão a retomar à sua liberdade, a prosseguir com a sua vida. O concerto estava praticamente Sold Out, com três quartos da casa vendidos previamente.
Os concertos aqui são muito cedo, as portas abriram às 18:30. Subimos ao palco às 19:00, esperando ter apenas meia casa, mas estava bem composta, bastante diferente do que aconteceu em 95, quando éramos uma banda novata. Não parecendo ser o nosso sítio, onde as pessoas nos ouvem mais, tem crescido bastante a nossa reputação no UK, e neste caso particular na Escócia. Isso tem sucedido à custa de muito trabalho e digressões. Foi uma noite agradável, uma excelente primeira noite. Começamos com o pé direito, sem dúvida.
Factor adicional, desta vez e nesta fase particular da nossa carreira, estarmos a tocar com uma banda muito especial, tal como aconteceu com Morbid Angel em 95, uma grande influência da nossa adolescência, talvez a melhor banda de death metal quando se compara com outras a nível de songwriting e produção. Neste caso, os Paradise Lost são muito mais, a nossa onda. Tiveram um set list incrível. Outro dia, brincava com um amigo meu, dizendo que se eles não tocassem a «Eternal», do «Gothic», vou ralhar com o Nick Holmes. Eles tocaram exactamente essa faixa, não porque eu pedi, mas porque estava no seu set list. Tocaram também músicas dos seus álbuns mais recentes, que são muito boas ao vivo, especialmente as do «Obsidian», que também é do mesmo produtor do nosso «Hermitage», Jaime Gomez Arellano. Fomos extraordinariamente bem-recebidos, com as pessoas a destacar a nossa energia, o que é óptimo, pois é um regresso aos palcos feito com muita expectativa. Aqui no UK, as coisas estão um bocadinho mais descontraídas. Não há a obsessão COVID, as pessoas praticamente não usam máscara em lado nenhum, nem é necessário certificado para entrar. Permite-nos esquecer essa realidade que tanto nos oprime ainda diariamente, minuto a minuto, em Portugal.
Foi um excelente princípio de tournée. Estamos sempre ansiosos, pois de alguma forma, começar bem é sempre muito importante para o resto da digressão. No momento em que faço esta descrição, já estamos na Inglaterra, numa cidade portuária, Newcastle. Vamos tocar num dos melhores clubes daqui, o Riverside, e daqui a pouco vamos ajudar a carregar e fazer o set up todo, pois temos uma crew pequena. Depois vamos dar um salto ao pub para beber a nossa primeira pint em Inglaterra, que é uma tradição.
Um abraço a todos os leitores da LOUD! e espero que todas as bandas nacionais, e também internacionais, em breve retomem aquilo que nos define, ser uma banda ao vivo, estar com os fãs, tirar fotos, conversar com eles. A proximidade é algo muito importante neste estilo de música e o que sinto é que há uma energia muito boa das pessoas que, também na Escócia, estiveram fechadas em casa e agora procuram retomar a sua vida. Quem gosta deste estilo de música, sentia-se uma energia diferente, quer no caso de Paradise Lost, quer de Moonspell. Como se as pessoas já não dessem como garantido ir ver uma banda. Foi óptimo estar em Glasgow.
Fernando Ribeiro
Alinhamento MOONSPELL: «The Greater Good»; «Common Prayers»; «Opium»; «Night Eternal»; «Breathe (Until We Are No More)»; «Hermitage»; «Extinct»; «Apophthegmata»; «Alma Mater»; «Full Moon Madness».