MOONSPELL

MOONSPELL celebram 30 anos de «Wolfheart» com um Halloween histórico em Lisboa [entrevista]

Hoje, 31 de Outubro, os MOONSPELL sobem ao palco do LAV – Lisboa Ao Vivo com os SINISTRO e DARK TRANQUILLITY para uma noite que une passado, amizade e ritual sob a lua cheia do metal.

Durante três décadas, os MOONSPELL têm feito da escuridão um lugar de pertença. Não apenas pela música — feita de sombras, melancolia, mitos e carne — mas pela forma como transformaram o metal português num território com identidade própria. Por tudo isso, as celebrações de Halloween da banda são mais que concertos: são um rito. E a noite de 31 de Outubro de 2025, em Lisboa, promete tornar-se mais um desses marcos em que o passado se renova e a celebração se transforma em comunhão.

O Halloween United, marcado para o LAV – Lisboa ao Vivo, surge como a síntese perfeita de tudo o que o grupo liderado por Fernando Ribeiro construiu ao longo das últimas três décadas: o peso histórico de «Wolfheart», a cumplicidade com os suecos DARK TRANQUILLITY e uma dimensão performativa que há muito ultrapassa o formato tradicional de espectáculo ao vivo. Haverá música, claro, mas também uma série de performances especiais e até uma “batalha” de DJ sets entre Ribeiro e Mikael Stanne — dois dos frontman que partilham mais do que o palco: uma ética, uma visão e um humor negro que sustentam o espírito do metal europeu.

No ano passado não aconteceu a 31 de outubro porque a MEO Arena estava reservada nessa data… portanto, tivemos de antecipar o Halloween”, recorda Fernando Ribeiro. “Esta tradição começou, e continuamos a mantê-la, por uma razão bastante simples: eu sempre quis ir a um dos concertos de Halloween dos TYPE O NEGATIVE, que aconteciam anualmente em Brooklyn. Infelizmente o Peter morreu, a banda acabou e eu roubei-lhes um bocadinho a ideia.

A confissão, proferida com a honestidade habitual do cantor dos MOONSPELL, revela a essência da Noite das Bruxas para o grupo em 2025: uma celebração nascida da saudade e da admiração, que, em Portugal, se tornou uma espécie de símbolo de resistência cultural. Desde a primeira celebração, num já longínquo “Baile dos Vampiros” no Fantasporto até às produções recentes em grandes palcos, Fernando Riveiro e a sua alcateia transformaram o Halloween num espaço onde música e teatrialidade, som e liturgia, se fundem em celebração colectiva.

Acho que a música também deve ter estes rituais, estas celebrações. Ainda para mais no contexto em que vivemos actualmente, com as pessoas saturadas de política, de sociedade, de guerras… Hoje parece que, se não fores interventivo, não tens direito a ser músico. E isso faz-me impressão, porque a música também tem de ser cultura.” Ribeiro fala com a serenidade de quem aprendeu que o escapismo é também resistência. “Nesse contexto, esta festa de Halloween é exactamente o contrário — um momento de bem-estar, com três bandas e, na minha opinião, com um preço super justo,” acrescenta.

Para os fãs, esta é a oportunidade de viver algo que só os MOONSPELL podem oferecer: uma noite que mistura concerto, performance e celebração da escuridão, fiel à máxima que a banda repete ano após ano — as noites de Halloween dos MOONSPELL são sempre eternas e fora de horas.

Trinta anos depois de «Wolfheart», o álbum que inaugurou a lenda, a banda regressa à sua génese com outro olhar. O disco de 1995 foi o momento em que o metal português encontrou o seu idioma — entre o português e o inglês, entre o metal goth e o black metal, entre a tradição e o desejo de universalidade. “Vamos tocar o «Wolfheart» na íntegra”, confirma Ribeiro relativamente ao alinhamento de hoje à noite. “E é óbvio que isso é algo que fizemos antes, até já o fizemos em Portugal, mas há muito tempo e, se bem me lembro, na altura acabou por passar um pouco despercebido.

O regresso ao álbum de estreia é mais do que nostalgia: é reencontro. “De certa forma, esta digressão de celebração do 30.º aniversário do «Wolfheart» serviu para ganharmos tempo até estarmos dispostos a fazer nova música, mas a verdade é que o disco está a celebrar o 30.º aniversário e isso acabou por permitir-nos ter um Verão muito interessante em termos de concertos — fomos acarinhados em todo o lado,” recorda. Esta celebração de «Wolfheart» tornou-se, portanto, uma forma de respiração. Depois do ciclo bastante introspectivo de «Hermitage», a banda regressa à energia bruta das origens.

Na nossa cabeça sempre esteve presente a ideia de o fazermos também em Portugal, e este espectáculo de Halloween pareceu-nos a ocasião perfeita.” O concerto, garante Ribeiro, não será uma mera leitura literal do álbum. “O que vamos fazer no LAV é o espectáculo ‘«Wolfheart» e outras histórias’, por isso temos uma série de outras músicas no alinhamento. Também vamos ao «Irreligious» e a coisas mais do passado, tanto da demo como do «Under The Moonspell»/«Under Satanae».

Revisitar o «Wolfheart» é voltar ao instante em que tudo começou. O disco colocou Portugal no mapa do metal internacional e transformou os MOONSPELL numa referência incontornável do underground —e muito além. Canções icónicos como «Wolfshade (A Werewolf Masquerade)», «Vampiria» ou «Alma Mater» tornaram-se hinos — não só para uma geração de fãs, mas para uma cena que viu na banda da Brandoa a prova de que o metal podia ser também arte, poesia e identidade.

Confesso que só quando os Moonspell celebraram 30 anos de carreira com uma pequena tour é que me caiu realmente a ficha sobre o tão discutido legado da banda. Foi nessa altura que comecei a perceber melhor o que os fãs queriam dizer com isso.” Entre memórias e mitos, o vocalista recorda um episódio simbólico: “Lembro-me de estarmos a chegar ao Hellfest e, quando entrámos na zona dos camarins, estava o Phil Anselmo, já bem ‘tratado’, e virou-se para nós e dizer: ‘Vocês são dos Moonspell, não são? Quando andava no liceu costumava tomar ácidos e ouvir o «Wolfheart»!’”. Fernando ri-se, mas há orgulho nessa lembrança. “Há um folclore à volta do álbum que só comecei a entender nessa altura.

Nesse sentido, o Halloween United é também um gesto de amizade. Ao lado dos MOONSPELL vão estar os DARK TRANQUILLITY, nome maior do death metal melódico sueco, liderado por Mikael Stanne. “Foi um convite que lhes fiz directamente após as digressões que fizemos juntos”, explica Ribeiro. “Apercebi-me de que os Dark Tranquillity cresceram muito nos últimos anos. Senti que, enquanto os Moonspell ficaram um bocadinho estagnados com o «Hermitage», eles não tiveram esse problema. Confesso que não lhe tinha ligado nenhuma quando foi editado , mas fui ouvir o «Endtime Signals» e gostei muito do que ouvi.

As duas bandas partilham uma história de cumplicidade e de estrada: “As tours que fizemos juntos foram das melhores coisas que aconteceram aos Moonspell nesse período em que decidimos não lançar logo outro disco. Foram de uma generosidade incrível connosco. A primeira correu bem, a segunda, que aconteceu no início deste ano, também – e ainda melhor para nós.” Essa parceria ganha agora palco em Lisboa. “Quando pensei neste HALLOWEEN UNITED, percebi que seria uma óptima oportunidade de retribuir a cortesia dos Dark Tranquillity, recebendo-os em Lisboa e dando-lhes o merecido destaque.

As pessoas sempre se queixaram do facto das nossas tours em conjunto não passarem por Portugal, por isso decidimos dar essa oportunidade também aos fãs“, continua o cantor. “Sim, é verdade que podíamos ter escolhido muitas outras bandas, mas achámos que fazia mais sentido convidar os Dark Tranquillity e os Sinistro, que estão de regresso e merecem um espectáculo grande em Lisboa.”

Importa referir ainda que o programa do Halloween United foi desenhado para durar até à madrugada. Após os concertos, o público será conduzido por uma sequência de performances, que vão expandir todo o conceito da noite. TATSH apresentará uma actuação aérea e de fogo, num diálogo visual directo com o imaginário gótico da banda. Segue-se o DJ set de WEIRDBOY, conhecido das noites lisboetas pelo gosto por atmosferas densas e sombrias.

No clímax, haverá ainda um duelo simbólico: Fernando Ribeiro vs. Mikael Stanne, numa batalha de gira-discos entre dois frontman que sabem transformar a noite numa narrativa para mais tarde recordar. “Vai ser inevitavelmente diferente, porque as coisas agora estão diferentes. O espectáculo, em si, também está diferente — tem novo setup, novo cenário. Vai ser uma celebração dos 30 anos do «Wolfheart», sim, mas numa versão mais ‘deluxe’, como se costuma dizer das reedições dos discos.”, afiança-nos o timoneiro dos MOONSPELL.

Recorde-se que o evento coincide também com o lançamento de «Opus Diabolicum – Ao Vivo na MEO Arena», registo do espectáculo sinfónico apresentado por alturas do Halloween de 2024. Acompanhados pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa, sob direcção do mastro Pearce de Azevedo e arranjos de Filipe Melo, os músicos levaram a fusão entre metal e música erudita ao limite — e ao esplendor. O vídeo-clip de «Vampiria», já divulgado, mostra essa transfiguração: a canção renasce entre cordas e metais, num diálogo em que o vampirismo romântico se torna ópera sombria.

Resultado: mais de trinta anos depois de terem dado os primeiros passos, os MOONSPELL continuam a revisitar o que os fez únicos sem ceder à nostalgia. A celebração de «Wolfheart» é tanto regresso como renovação — a manutenção viva de uma chama antiga com a lucidez do tempo. “Há toda uma mitologia à volta do «Wolfheart» que nos ultrapassou. E acho isso bonito. Há discos que deixam de ser nossos para pertencerem às pessoas.” A prová-lo, em 2025, o Halloween volta a ser espelho desse processo: ritual colectivo, comunhão que transcende o palco.

Lisboa, cidade que viu nascer a banda, transforma-se novamente no epicentro de um culto que mistura música, simbolismo e pertença. Sob a lua de outubro, os MOONSPELL reafirmam o que sempre foram — cronistas da noite, contadores de histórias onde o gótico se torna humano e o metal, poesia. Os últimos bilhetes para o Halloween United estão disponíveis nas plataformas habituais e em freemusic.pt.