MONO + A.A. WILLIAMS @ RCA Club, Lisboa | 07.09.22 [reportagem] 

Concertos com salas esgotadas. Sempre uma satisfação presenciar algo assim, principalmente quando esses mesmos eventos foram reagendados mais do que uma vez devido à pandemia. Triunfa a ideia assumidamente romântica de que a justiça poderá tardar, mas é feita. Os MONO e A.A. WILLIAMS foram então os dois motivos pelos quais o RCA Club estava lotado, num concerto pelo qual se notava, mesmo antes da música se fazer soar, que o público estava bem sedento. Não era para menos, dada a qualidade que se antecipava que se poderia ouvir. Lotado também estava o palco, com o material todo dos MONO já previamente instalado, deixando o espaço vago muito limitado mas também reforçando o lado mais intimista que era inerente à actuação. Assim que A.A. WILLIAMS e a sua banda entraram em palco, ouviram-se aplausos entusiasmados, que tiveram como resposta uma «For Nothing», que tem tanto poder como uma banda de doom no auge da sua intensidade. Não é “só” pela música e a sensibilidade da voz da frontwoman (sensibilidade essa extensível  à forma como se dirigia ao público), mas todo o ambiente criado que dão esse impacto. Juntando o nível emocional do post-rock com a melancolia própria do neofolk, a britânica une duas facetas que andaram sempre juntas ao longo de oito temas e que fazem parte da sua identidade musical. Foi uma viagem memorável – e arriscamo-nos a dizer que também foi uma viagem muito pessoal, onde cada um fez a sua própria, músicos incluídos. De salientar a possibilidade de ouvir três músicas novas do próximo álbum de originais a sair agora em Outubro, «As The Moon Rests», tendo sido elas, para além já citada música de abertura, «For Nothing», as «Evaporate» e «Golden».

Chegou então a vez dos MONO, senhores da noite e um dos nomes mais queridos entre os apreciadores nacionais de post-rock. O entusiasmo era grande, algo a que os já referidos cancelamentos/adiamentos e a qualidade do último trabalho de originais, «Pilgrimage Of The Soul» não eram nada alheios. No entanto, mesmo tirando estes factores de cima da mesa, acreditamos que seria igual, e esse entusiasmo fez-se logo sentir assim que a banda subiu ao palco para confirmar se o som estava no ponto para aquilo que viria de seguida. Curiosamente, assim que entraram em cena “a sério”, e após mais uma ronda de aplausos, foi impressionante o silêncio solene que se criou imediatamente. Foi precisamente por «Pilgrimage Of The Soul» que a actuação começou, com uma majestosa «Riptide». Takaakira Goto e Yoda (a dupla de guitarristas) apresentaram-se sentados em banquinhos onde à sua frente tinham uma parafernália de pedais de distorção e modulação de som, enquanto Tamaki Kunishi (baixista) se mantinha em pé e a rockar como se não houve amanhã. Dominic Cipolla, o baterista, esteve sólido como uma rocha, a assegurar uma forte base para as tapeçarias sonoras preciosas. Apesar da fórmula da banda (e do género) ser invariavelmente a procura cíclica de climaxes sonoros, há sempre uma distinção visceral na forma como os diferentes temas “batem” no ouvinte. «Innocence» e «Halcyon (Beautiful Days)» foram bons exemplos disso, assim como «Exit In Darkness», já no encore,que contou com a voz de A.A. Williams. Magistral actuação onde a comunicação foi feita quase exclusivamente pela música e onde não só a sala encheu como também os corações de cada um que saiu do RCA Club.

FOTOS: Sónia Ferreira