MISSA ORTODOXA: Znöwhite – «Act Of God» (1988)

ZNÖWHITE
«Act Of God»
[Roadracer Records, 1988]

Acabei de readquirir por pura nostalgia um LP de compilação que comprei em 1988 e que mais tarde emprestei e nunca mais vi. Chamava-se «Stars On Thrash» e muita música sensacional descobri por lá. Uma das bandas que então mais me marcaram chamava-se Znöwhite e tinha um álbum com uma capa incrivelmente feiosa chamado «Act Of God». Assim que pude, tive de o ouvir completo, e ainda fiquei mais deslumbrado. Apesar de ter saído pela Roadracer e eu, regra geral, incluir nesta rubrica bandas com menos exposição, neste caso a incrível qualidade aliada ao facto de muitos desconhecerem esta obra-prima metálica mais que justifica que eu aqui venha falar dela.

Os músicos por trás de «Act Of God»…

«Act Of God» tem nove temas extraordinários de thrash metal (apenas o último é mais lento e um pouco mais genérico, a meu ver), em que os riffs fantásticos são acompanhados da voz de Nicole Lee, uma das melhores vocalistas para este estilo musical que já ouvi. Por esta altura, já apenas ela e o guitarrista Ian Tafoya se mantinham da formação original, que tinha tido a particularidade de juntar uma cantora e três músicos negros. Foi aliás ainda antes da entrada de Nicole que os três tinham decidido chamar à banda “Snowhite”. Eram decididamente bem-humorados.

… e a formação original.

É pena que «Act Of God» tenha sido também o último lançamento da banda, que já se estava a desintegrar durante as gravações. É também o único álbum, embora «All Hail To Thee», de 1984, seja também assim considerado, apesar de ter uma duração de pouco mais de um quarto de hora. Além disso, é o cume da criatividade musical da banda… os trabalhos prévios eram muito bons, mas em «Act Of God», os Znöwhite atingiram a genialidade. Tema após tema de um thrash consumado, com letras sobre a guerra, o nazismo, o preconceito, ou mesmo o terceiro filme «Mad Max»… é mais uma cápsula do tempo que encerra a força vital daquela ida década de 80. O legado metálico que subsiste para quem o quiser descobrir.

Mais uma grande voz feminina do metal dos anos 80.

Nicole Lee saiu após as gravações e entre 1988 e 1989 a substituta foi Debbie Gunn, dos Sentinel Beast (aparentemente um de dois nomes de uma lista em que o outro seria Dawn Crosby, dos Detente). Não durou muito; regressou à sua banda anterior e os restantes membros dos Znöwhite formaram um outro colectivo de thrash chamado Cyclone Temple (na verdade era a continuação da banda, mas impunha-se um novo nome), que ainda lançou dois álbuns e mais umas coisitas antes de começar a incorporar novos elementos musicais e terminar.

Resta a memória de uma grande banda.

E assim foi a história de um grupo de músicos que ao longo de gravações, lançamentos e muita estrada foi ascendendo progressivamente até à criação de um álbum brilhante que acabaria por ser simultaneamente o seu ponto alto (altíssimo) e o marco do seu fim. Mas que álbum!

A senhora tem a bola oito mas o álbum é nota dez!