wildfire

MISSA ORTODOXA: Wildfire, «Summer Lightning» (1984)

 

WILDFIRE
«Summer Lightning»
[Mausoleum Records, 1984]

Hoje trago-vos talvez a banda mais “leve” que já passou por estas páginas. Porém, apesar da acessibilidade do álbum, não deixa de ter grandes temas, com exímio trabalho de cordas e excepcionais vocalizações. Saídos da NWOBHM, os Wildfire lançaram apenas dois LPs; «Brute Force And Ignorance», de 1983, e este «Summer Lightning» no ano seguinte (do qual se extraiu um par de singles). Praticantes de um rock pesado a resvalar diversas vezes para o heavy metal, a verdade é que os Wildfire mergulhavam também num óbvio comercialismo, razão pela qual o álbum é tão variado e mesmo algo desequilibrado.

Mais um ciclista atirado para a berma da estrada.

Mesmo assim, para o meu gosto pessoal há um único tema mais banal, «Fight Fire With Fire», completamente feito para as ondas hertzianas. Todavia, nem é o mais leve do álbum, uma vez que o terreno baladesco também é aflorado aqui e ali, sobretudo no meloso «Give Me Back Your Heart» – e quanto a este temos a originalidade de a uma letra lamentosa de um amante abandonado se seguir um tema intitulado «Nothing Lasts Forever» em que o narrador cheio de desenvoltura explica a uma pobre rapariga que ele não é de se prender. Este dois-em-um demonstra bem um certo pistoleirismo letrístico dentro do âmbito das foleiras temáticas românticas tão próprias do rock dos anos 80 e da música comercial em geral. Mas tanto comercialismo não abole a necessidade de nos determos perante o peso instrumental e a grande inspiração das composições, bem como a entrega e a capacidade do vocalista. Falando no qual, trata-se de Paul Mario Day, que entre 1975 e 1976 foi nada menos que o primeiro vocalista dos Iron Maiden, até à sua substituição por Dennis Wilcock.

Parece que o puseram a andar por falta de carisma em palco.
(E esta foto dos Iron Maiden em 1975, hein?!)

O afastamento foi algo que marcou muito Paul Day, mas a primeira experiência com uma banda a sério fê-lo ver que tinha capacidade para ser cantor. É claro que para o público em geral ele ficou para sempre ligado aos Maiden, como aconteceu a todos os que passaram pela maior máquina de heavy metal de sempre; e ainda em Janeiro de 2019 foi cantar músicas destes ao pub londrino Cart & Horses com mais uma série de ex-membros da dama de ferro. Além de ainda ter havido uma pequena polémica por ele achar que devia ter co-autoria reconhecida na música «Strange World», etc. – a mancha de Maiden nunca se lava, para o melhor e para o pior.

Paul chateado por dizerem que ele não tinha carisma em palco.

Mas Paul Day persistiu ainda uns anos, começando por ir cantar para os More entre 1980 e 1981 (ano em que a banda tocou no festival Monsters of Rock), e saindo para formar os Wildfire. Em «Summer Lightning» tocam aliás outros membros com currículo, como o baterista Bruce Bisland que passou pelos Praying Mantis, Weapon UK, ou os Tank. Ou o baixista Jeff Brown, que esteve nos Sweet (por onde Paul Day também viria a passar antes de emigrar para a Austrália).

Malta com andamento.

«Summer Lightning», lançado pela icónica Mausoleum Records, foi gravado em Bruxelas com um produtor que já tinha trabalhado por exemplo com Motörhead, Exciter ou Cozy Powell, e tem uma produção excelente para a época, que dá muito brilho às músicas, entre as quais se contam a excelente «The Key», a fantástica «Gun Runner», ou a inspirada «Passion For The Sun». Enfim, um álbum com fortes temas de heavy metal, cuja potência instrumental é coroada pelo desempenho do vocalista. Um álbum a que ninguém liga mas que vale a pena descobrir.

Nada dura para sempre excepto a magia da roupa dos anos 80.

Fica aqui a primeira recomendação musical da Missa Ortodoxa para o novo ano: um relâmpago de verão agora que começou o inverno.

E esta versão ainda traz um tema extra que não aquece nem arrefece.